terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Crítica: Reis e Ratos



É difícil saber se o mundo (da política) teve (e ainda tem) mais reis que ratos e ou mais ratos que reis. As duas espécies sabem camuflar muito bem os seus interesses (fisiológicos). Mas o povo, na sua “ingênua idade”, segue acreditando que um dia (será que em Dezembro de 2012?) virá alguém para salvar as dores da sua Pátria (amada, idolatrada, salve, salve quem puder!).


Não é fácil classificar o filme Reis e Ratos (Brasil, 2011), com roteiro e direção de Mauro Lima. A narrativa delirante, com seu humor velho e rasteiro, abusa da paródia e da caricatura. Está mais próxima (do clima) de uma Commedia dell’arte do que de um Film noir. O argumento é até curioso, na promessa de um thriller político, ao focar (às vésperas do Golpe de 1964) a trama de democráticos norte-americanos (e seus interesses escusos) para desestabilizar o democrático governo brasileiro. Mas (em vez de mistério) o que prevalece é a farsa. O que até seria interessante (e eficiente) se realmente fosse engraçada. Em tempos de Carnaval, lembra mais um samba dos conspiradores doidos tangendo o gado e bebendo parati, do que uma marcha rancheira da família pela liberdade dos ouros teus.

O ano é 1963. A cantora Amélia Castanho (Rafaela Mandelli) vai fazer a abertura da Gincana da Cidade de Bacaxá, no interior do Rio de Janeiro. Pouco antes de se apresentar ela ouve, no rádio do automóvel, uma estranha comunicação, feita pelo seu locutor preferido: Hervê Gianini (Cauã Raymond), alertando sobre a explosão do coreto. O que de fato acontece. A partir deste atentado a história vai se fragmentando (confusa!) em flashbacks, apresentando os responsáveis pelo ato criminoso: Troy Somerset (Selton Mello), um Agente da CIA; Skutch Sanders (Kiko Mascarenhas), Diretor da CIA para assuntos da América do Sul; o Embaixador Americano (Helio Ribeiro); o conspirador Major Esdras (Otávio Müller); o latifundiário anticomunista Esmeraldo Carvalhal (Orã Figueiredo); o assassino de aluguel Paulo Barracuda (Daniel Alvim); o vigarista Roni Rato (Rodrigo Santoro), entre outros.


Além do 3D, parece que o cinema vem redescobrindo também o recurso narrativo do flashback, nem sempre com bons resultados. Em Reis e Ratos ele é um “elemento” mais complicador do que facilitador da leitura da obra, digamos, apócrifa. É tanto “vai e vem” que o espectador pode perder a noção do tempo da ação (passada e presente). A falta de convicção na ideia e no desenvolvimento da história e dos cartunescos personagens também compromete. E tem nada a ver com baixo orçamento ou com (apenas) 17 dias de filmagem. A risível impostação de voz de Cauã Raymond, no desempenho do locutor Hervê Gianini e de Selton Mello, no seu Troy Somerset, destoando completamente do resto do elenco, causam estranheza. Pela bizarrice, ambos parecem intérpretes de novela de rádio e ou dubladores de seriados televisivos da Screen Gems apresenta, que fugiram de suas caixas-veículos de comunicação e diversão só para se meterem nas negociatas americanas.

O experimentalismo fotográfico, que varia na cor, no sépia e no preto e branco, e alguns descuidos técnicos (cadê a ferida de Roni Rato?), acabam chamando mais a atenção do que o zum-zum-zum que entorna a História (real?) atropelando a ficção. No entanto, se o público não for muito exigente e realmente não levar muito a sério a barafunda de Reis e Ratos, é capaz de se divertir com alguma piadinha perdida e ou, ao menos, com a excelente atuação de Rodrigo Santoro, irreconhecível sob a maquiagem. Caso contrário, em vez de um gracejo vai ser um bocejo.

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