11 de 09
de 2001 deixou marcas e mágoas nos Estados Unidos da América e preocupação em
quase todo o resto do mundo. Muita gente morreu e ainda morre por conta do
atentado ao World Trade Center (Torres Gêmeas), em Nova York, e da “caça”
norte-americana aos “terroristas”. No cinema há pelo menos uma dezena de filmes
embalados pela tragédia. Independente da qualidade, Hollywood é mestre em
reciclar e partilhar alegrias e tristezas. Pela diferença, destaco o contundente
e tocante 11’09’’01 (França, 2002), longa
coletivo que apresenta, através de 11 curtas-metragens, de 11 minutos, 9
segundos e 1 frame, o ponto de vista de 11 diretores: Claude Lelouch (França), Ken
Loach (Reino Unido), Youssef Chahine (Egito), Amos Gitaï (Israel), Alejandro
González Iñárritu (México), Sean Penn (EUA), Shohei Imamura (Japão), Samira
Makhmalbaf (Irã), Mira Nair (Índia), Idrissa Ouedraogo (Burkina Faso), Danis
Tanovic (Bosnia-Herzegovina), sobre o 11
de setembro no mundo, e o Fahrenheit 9/11
(EUA, 2004), documentário de Michael Moore.
Tão Forte e Tão Perto (Extremely
Loud and Incredibly Close, EUA, 2011), de Stephen Daldry, é uma ficção que também tem o seu foco no dia 11 de
setembro, mas de um ano depois da tragédia que vitimou Thomas Schell (Tom Hanks),
comprometendo o processo de socialização do seu filho, Oskar Schell (Thomas Horn),
inclusive com a mãe, Linda Schell (Sandra Bullock). O garoto de 11 anos é
inteligente, porém aparenta o comportamento excêntrico e obsessivo de uma pessoa
com Transtorno do Espectro Autista. Na
maior parte do tempo (em cena) é agressivo, irritante (não fala, grita),
grosseiro..., e praticamente ignora a mãe. No entanto, mantinha uma invejável relação
amorosa e de cumplicidade com o pai, com quem partilhava jogos de desafio para
vencer os seus medos: “sempre há pistas e
tesouros a serem encontrados no mundo”. Dos pais de Oskar sabemos quase
nada e dele, apenas que é um bocado maníaco.
Um ano
depois do “pior dia”, são as boas lembranças, a saudade, a necessidade de
encontrar um sentido para a ainda forte presença do pai ausente, que levam Oskar ao closet dele, onde encontra, por
acaso, uma chave em um envelope onde se lê: Black.
Uma palavra que pode significar tudo ou nada. Certo de que a chave faça parte
de um jogo que seu pai não teve tempo de propor e de que Black é uma pessoa com alguma mensagem deixada para ele, Oskar elabora um minucioso cronograma,
relacionando 472 moradores dos cinco Distritos de Nova York (Manhattan,
Brooklyn, Bronx, Queens e Staten Island), traça uma estratégia de busca, e vai
atrás de respostas que possam satisfazer a sua inquietação.
Solitário
em sua dor que, às vezes, divide apenas com a avó paterna (Zoe Caldwell), o ansioso garoto, munido de uma mochila, com “itens básicos
de sobrevivência”, anda por Nova York, “tentando” (impacientemente) se
relacionar com as pessoas que têm Black
no sobrenome. A jornada, repleta de tipos peculiares, acaba ganhando um novo
foco quando ele se defronta com o inquilino idoso (Max Von Sidow) da sua vó, um sujeito que só se comunica através de
mensagens escritas em pequenos bilhetes. O embate entre eles é o que segura e
dá algum alento ao pesado drama, já que um fala pelos cotovelos e o outro é praticamente
monossilábico em suas anotações.
Tão Forte e Tão Perto, baseado no romance Extremely Loud and Incredibly Close (Extremamente Alto e Incrivelmente
Perto), de Jonathan Safran Froer, é um filme extremamente melodramático e
incrivelmente choramingas (mais down
é load impossível). Bem ao gosto do
público que gosta de chorar copiosamente no escurinho do cinema: ô filme triste, sô! Nem a novelinha A Vida Da Gente É Um Mar de Lágrimas, se
compara à choradeira induzida da primeira à ultima cena. A interessante
história de um adolescente (com distúrbio comportamental) que busca compreender
a si mesmo e o mundo ao seu redor, infelizmente não foge aos (desnecessários) clichês
do cine-terapia e à pieguice exacerbada. É uma catarse sem fim (do filho, da
mãe, do inquilino, dos Black). Ou
melhor, tem um fim, sim, e os personagens nem precisam se deitar em um divã
para sentir a reviravolta do destino “conspirando” pela felicidade geral de todos.
Ah, o que faz uma boa conversa sobre o perdão!
Tão Forte e Tão Perto tem uma boa produção técnica e com
alguns achados (ceno)gráficos bem bacanas. Porém, Daldry e o roteirista Eric
Roth não se contentaram em apenas contar uma história (curiosa) que por si só
já é triste (pela tragédia do pai e “doença” do filho), abusaram do sentimentalismo
barato até mesmo em cenas que ensaiam alguma poesia. A trilha intrusiva é melodiosa
além da conta, para o espectador emotivo não ter desculpas para não lacrimejar.
Quem não for vacinado contra o gênero terapêutico certamente vai chorar com todos
os traumas do menino (e demais personagens), com os “diálogos” e ou com a
música, não tem escapatória. Por falar em personagens, o elenco protagonista está
bem afinado, com destaque para Max Von Sydow, que nem a trilha chiclete de Alexandre
Desplat consegue embaçar. Enfim, mais um filme-autoajuda para pais e filhos
chorarem unidos e assim (?) permanecerem unidos.
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