domingo, 19 de fevereiro de 2012

Crítica: Tão Forte e Tão Perto



11 de 09 de 2001 deixou marcas e mágoas nos Estados Unidos da América e preocupação em quase todo o resto do mundo. Muita gente morreu e ainda morre por conta do atentado ao World Trade Center (Torres Gêmeas), em Nova York, e da “caça” norte-americana aos “terroristas”. No cinema há pelo menos uma dezena de filmes embalados pela tragédia. Independente da qualidade, Hollywood é mestre em reciclar e partilhar alegrias e tristezas. Pela diferença, destaco o contundente e tocante 11’09’’01 (França, 2002), longa coletivo que apresenta, através de 11 curtas-metragens, de 11 minutos, 9 segundos e 1 frame, o ponto de vista de 11 diretores: Claude Lelouch (França), Ken Loach (Reino Unido), Youssef Chahine (Egito), Amos Gitaï (Israel), Alejandro González Iñárritu (México), Sean Penn (EUA), Shohei Imamura (Japão), Samira Makhmalbaf (Irã), Mira Nair (Índia), Idrissa Ouedraogo (Burkina Faso), Danis Tanovic (Bosnia-Herzegovina),  sobre o 11 de setembro no mundo, e o Fahrenheit 9/11 (EUA, 2004), documentário de Michael Moore.

Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud and Incredibly Close, EUA, 2011), de Stephen Daldry, é uma ficção que também tem o seu foco no dia 11 de setembro, mas de um ano depois da tragédia que vitimou Thomas Schell (Tom Hanks), comprometendo o processo de socialização do seu filho, Oskar Schell (Thomas Horn), inclusive com a mãe, Linda Schell (Sandra Bullock). O garoto de 11 anos é inteligente, porém aparenta o comportamento excêntrico e obsessivo de uma pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Na maior parte do tempo (em cena) é agressivo, irritante (não fala, grita), grosseiro..., e praticamente ignora a mãe. No entanto, mantinha uma invejável relação amorosa e de cumplicidade com o pai, com quem partilhava jogos de desafio para vencer os seus medos: “sempre há pistas e tesouros a serem encontrados no mundo”. Dos pais de Oskar sabemos quase nada e dele, apenas que é um bocado maníaco.


Um ano depois do “pior dia”, são as boas lembranças, a saudade, a necessidade de encontrar um sentido para a ainda forte presença do pai ausente, que levam Oskar ao closet dele, onde encontra, por acaso, uma chave em um envelope onde se lê: Black. Uma palavra que pode significar tudo ou nada. Certo de que a chave faça parte de um jogo que seu pai não teve tempo de propor e de que Black é uma pessoa com alguma mensagem deixada para ele, Oskar elabora um minucioso cronograma, relacionando 472 moradores dos cinco Distritos de Nova York (Manhattan, Brooklyn, Bronx, Queens e Staten Island), traça uma estratégia de busca, e vai atrás de respostas que possam satisfazer a sua inquietação.

Solitário em sua dor que, às vezes, divide apenas com a avó paterna (Zoe Caldwell), o ansioso garoto, munido de uma mochila, com “itens básicos de sobrevivência”, anda por Nova York, “tentando” (impacientemente) se relacionar com as pessoas que têm Black no sobrenome. A jornada, repleta de tipos peculiares, acaba ganhando um novo foco quando ele se defronta com o inquilino idoso (Max Von Sidow) da sua vó, um sujeito que só se comunica através de mensagens escritas em pequenos bilhetes. O embate entre eles é o que segura e dá algum alento ao pesado drama, já que um fala pelos cotovelos e o outro é praticamente monossilábico em suas anotações.


Tão Forte e Tão Perto, baseado no romance Extremely Loud and Incredibly Close (Extremamente Alto e Incrivelmente Perto), de Jonathan Safran Froer, é um filme extremamente melodramático e incrivelmente choramingas (mais down é load impossível). Bem ao gosto do público que gosta de chorar copiosamente no escurinho do cinema: ô filme triste, sô! Nem a novelinha A Vida Da Gente É Um Mar de Lágrimas, se compara à choradeira induzida da primeira à ultima cena. A interessante história de um adolescente (com distúrbio comportamental) que busca compreender a si mesmo e o mundo ao seu redor, infelizmente não foge aos (desnecessários) clichês do cine-terapia e à pieguice exacerbada. É uma catarse sem fim (do filho, da mãe, do inquilino, dos Black). Ou melhor, tem um fim, sim, e os personagens nem precisam se deitar em um divã para sentir a reviravolta do destino “conspirando” pela felicidade geral de todos. Ah, o que faz uma boa conversa sobre o perdão!


Tão Forte e Tão Perto tem uma boa produção técnica e com alguns achados (ceno)gráficos bem bacanas. Porém, Daldry e o roteirista Eric Roth não se contentaram em apenas contar uma história (curiosa) que por si só já é triste (pela tragédia do pai e “doença” do filho), abusaram do sentimentalismo barato até mesmo em cenas que ensaiam alguma poesia. A trilha intrusiva é melodiosa além da conta, para o espectador emotivo não ter desculpas para não lacrimejar. Quem não for vacinado contra o gênero terapêutico certamente vai chorar com todos os traumas do menino (e demais personagens), com os “diálogos” e ou com a música, não tem escapatória. Por falar em personagens, o elenco protagonista está bem afinado, com destaque para Max Von Sydow, que nem a trilha chiclete de Alexandre Desplat consegue embaçar. Enfim, mais um filme-autoajuda para pais e filhos chorarem unidos e assim (?) permanecerem unidos.

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