sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Crítica: Não minha filha, você não irá dançar


Não minha filha, você não irá dançar
... quem dança é o espectador

Logo que vi o filme-terapia Não minha filha, você não irá dançar (Non ma fille, tu n’iras pas danser, França, 2009), de Christophe Honoré, pensei que escrever sobre ele era sofrer duas vezes. Era como se o martírio de assisti-lo (do começo ao fim) não fosse pena suficiente pra um cinéfilo. O problema é que o filme, uma das piores produções francesas (e olha que gosto de filme francês) que já vi, precisa ser exorcizado pra eu ficar em paz. Quando se vê maravilhas como Horas de Verão (L’Heure D’Eté), de Olivier Assayas, a gente chega a acreditar que tudo mais que venha da terra de François Truffaut seja uma maravilha, ou no mínimo um bom vinho. Ledo engano. Ultimamente tem vindo muito queijo ruim.

Não minha filha, você não irá dançar, me parece um filme vago, feito pra preencher uma vaga deixada pela Nouvelle vague (Nova onda). Eu sei que o trocadilho é ruim, é de doer. Mas com certeza é muito melhor que o filme repleto de personagens insuportáveis (não se salvam nem les enfants). Com apenas quinze minutos de projeção, a impressão é de estar sendo torturado há horas. Ele fala (ou reclama?) de Lena (Chiara Mastroianni) uma mulher em crise existencial e que, separada do marido e com dois filhos, pensa (só pensa) em dar uma quinada na sua vida, indo passar uns dias na casa dos pais, no interior da França. A casa (de campo) é aprazível, o lugar é bucólico, o cheiro de mato é inebriante (imagino), ideal pra se esquecer da vida..., mas com a chegada da mala sem alça, pra se juntar aos malas com alça quebrada dali, aquilo vira um Inferno. Os pais, com viagem marcada, saem de fininho. A irmã, vai não vai, acaba indo. O ex-marido, convidado pro fim de semana, se manda. O irmão e a namorada (odiada por toda a família) vão cuidar da vida. As crianças ficam por ali, perdidas. Essa “terapia de grupo” começa nos primeiros minutos do filme, com a chegada da paraneurótica Lena, que atravessa o filme infernizando a vida de todos ao seu redor: família, amigos, amantes, patrões. Com uma paciente dessas até mesmo Jung cometeria um justo suicídio. Mas antes “suicidava” a neuroparanóica Lena.

Não minha filha, você não irá dançar não deve ser visto por espectadores depressivos, é aborrecimento na certa. Com um “roteiro” (?) que parece ter sido escrito por quem marcou consulta e não foi, ao menos pra saber um pouco mais sobre psicanálise, o filme teria melhor identidade se chamasse: Desencontros. O tema (apesar de batido) não é ruim, mas não é pra qualquer diretor. É preciso pegar mais leve. Um Woody Allen, com certeza, tiraria de letra e com muito bom humor. Christophe Honoré, no entanto, tropeça na primeira pedra/cena e sai quicando em tudo quanto é parede e (finalmente!) só para num estranho blecaute final. Os personagens são tão vazios quanto a psicologia colegial de seus diálogos. Com seu “discurso existencialista” de botequim (ou um simulacro de algo parecido) Honoré não parece se importar com o bem-estar e ou conforto do espectador. Quer ser (ou parecer) sério. E a recíproca é a mesma: não há porque o espectador absorver (e absolver) a dor de gente mal-amada travestida em personagem mal resolvida.

Durante a projeção, enquanto Lena atormentava, eu divagava se o filme seria diferente com uma direção feminina. Se ficaria mais leve e coerente (e até compreensível) sob o olhar feminino e ou se correria o risco de virar um filme “de mulher pra mulher”. Quem sabe?! Ah, pra não dizer que o filme é um desastre total, há um momento de relaxamento e bom cinema, num apêndice (que deveria ser o filme no lugar do filme) que retratada uma lenda, contada pelo filho de Lena, em que uma jovem só se casaria com o rapaz que conseguisse dançar por 12 horas seguidas... O curta é lindo, mas é apenas um lampejo (inútil) de luz na trama.

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