divulgação
Preciosa – Uma História de Esperança
para dar o primeiro passo é preciso saber para onde ir...
O que resta para uma adolescente negra, obesa, de 16 anos, que sofre diariamente agressões físicas e psicológicas, da própria mãe, é constantemente estuprada pelo pai, de quem tem uma filha com Síndrome de Down, e está grávida novamente? O suicídio? Claireece “Precious” Jones, de certa forma resignada, sem poder contar com ninguém, sonha com dias melhores e, nos momentos de dor e constrangimento, se refugia no seu mundo glamoroso, onde é amada por todos e, de tão feliz, nenhum mal pode atingi-la. Ou na escola, onde nutre um amor platônico pelo professor de matemática, a única matéria em que tem boas notas, mas de onde terá que sair por estar grávida e se negar a dizer quem é o pai da criança. Precious vive sob o domínio do medo e da insegurança. O seu trágico drama adolescente (infelizmente!) é muito mais comum do que se imagina (ou se espera) em todo o mundo “civilizado” ou não.
Baseado no livro Push, de Sapphire, Preciosa – Uma História de Esperança (Precious: Based on the Book “Push” by Sapphire, EUA, 2009), dirigido, sem gratuidades, por Lee Daniels, cai em cima do espectador como um gangsta rap, violando todos os sentimentos. O filme provoca repulsa diante das cenas explícitas de violência e abusos cometidos pelos próprios pais, e contemplação pela forma como são amenizadas essas situações através de momentos lúdicos e até de algum humor. A imersão no mundo de Precious é claustrofóbico. Ao seu redor, tudo é a apertado ou minúsculo no seu deslocamento, menos a sua imaginação, que abre espaços nas trevas da ignorância familiar e escolar e explode em cores e brilhos. A figura de Claireece preenche a tela, o pequeno apartamento, a sala de aula, mal se dando conta de que é um peso que ninguém quer carregar..., nem mesmo ela.
Aparentemente frágil, apesar de imensa, Precious (Gabourey Sidibe) tem uma força contida prestes a entrar em erupção. Terna e dolorida a sua saga encontra sentido apenas quando começa frequentar a Escola Alternativa Cada Um Ensina Um e, na convivência com outras adolescentes problemáticas, reforça sua intuição de que, a única forma de vencer na vida, sair do gueto, conquistar respeito, é através da educação. No entanto, para ter direito a acreditar num futuro possível, terá de superar as dificuldades com a escrita e a leitura. Consequentemente, a sua visão cultural do mundo, além Harlem, a fará descobrir que certas verdades são muito mais doloridas que outras.
Ao falar (com muita propriedade) da importância do ensino/educação, Lee Daniels se aproxima de produções como O Contador de Histórias, de Luiz Villaça, e o apaixonante Entre os Muros da Escola (Entre les Murs), de Laurent Cantet. O primeiro é a cine-biografia de Roberto Carlos Ramos, premiado Contador de Histórias que também “resolvia” seus problemas, na infância difícil, dando asas à imaginação. Aos 13 anos, sob os cuidados da FEBEM mineira, ele era considerado um “caso irrecuperável”, até ser “encontrado” por uma pedagoga francesa e resgatado da marginalidade através do ensino. O segundo traz uma leitura diferente do tema educação, gerando muito debate ao falar do dia a dia de um professor de francês e os problemas de alfabetização e comunicação enfrentados, por ele e seus colegas, com uma turma de alunos formada por imigrantes, ou filhos de imigrantes, nascidos na França.
Preciosa – Uma História de Esperança tem excelente direção e interpretações marcantes, como a de Gabourey Sidibe (Precious) e a de Mo’Nique, no papel de Mary, a repulsiva mãe da jovem. É um filme preciosamente incômodo (de não se querer ver) e preciosamente necessário (apesar do incômodo de se ver) por tratar de assuntos ainda longe de uma solução: violência doméstica (num mundo macho-falocrata que ainda promove IMPUNE a mutilação genital feminina) e educação (num mundo onde as “autoridades” temem a educação, porque o conhecimento liberta a todos do populismo selvagem). A empatia (e aversão) que causa ao espectador é pela sua veracidade. É difícil dizer se deveria ser menos explícito e mais lúdico.
Preciosa é uma ficção com base em fatos reais. O livro que deu origem a ele sintetiza a vida de muitas jovens que a escritora Sapphire conheceu no Bronx, em Nova York, quando trabalhou em uma Escola Alternativa. Talvez incomodasse menos, se fosse um documentário, como o magnífico Meninas, de Sandra Werneck, que trata da questão da gravidez na adolescência. É um filme (ainda que difícil) pra se ver e discutir, inclusive (e principalmente) em sala de aula. O livro, Preciosa, foi lançado no Brasil, pela Record.
para dar o primeiro passo é preciso saber para onde ir...
O que resta para uma adolescente negra, obesa, de 16 anos, que sofre diariamente agressões físicas e psicológicas, da própria mãe, é constantemente estuprada pelo pai, de quem tem uma filha com Síndrome de Down, e está grávida novamente? O suicídio? Claireece “Precious” Jones, de certa forma resignada, sem poder contar com ninguém, sonha com dias melhores e, nos momentos de dor e constrangimento, se refugia no seu mundo glamoroso, onde é amada por todos e, de tão feliz, nenhum mal pode atingi-la. Ou na escola, onde nutre um amor platônico pelo professor de matemática, a única matéria em que tem boas notas, mas de onde terá que sair por estar grávida e se negar a dizer quem é o pai da criança. Precious vive sob o domínio do medo e da insegurança. O seu trágico drama adolescente (infelizmente!) é muito mais comum do que se imagina (ou se espera) em todo o mundo “civilizado” ou não.
Baseado no livro Push, de Sapphire, Preciosa – Uma História de Esperança (Precious: Based on the Book “Push” by Sapphire, EUA, 2009), dirigido, sem gratuidades, por Lee Daniels, cai em cima do espectador como um gangsta rap, violando todos os sentimentos. O filme provoca repulsa diante das cenas explícitas de violência e abusos cometidos pelos próprios pais, e contemplação pela forma como são amenizadas essas situações através de momentos lúdicos e até de algum humor. A imersão no mundo de Precious é claustrofóbico. Ao seu redor, tudo é a apertado ou minúsculo no seu deslocamento, menos a sua imaginação, que abre espaços nas trevas da ignorância familiar e escolar e explode em cores e brilhos. A figura de Claireece preenche a tela, o pequeno apartamento, a sala de aula, mal se dando conta de que é um peso que ninguém quer carregar..., nem mesmo ela.
Aparentemente frágil, apesar de imensa, Precious (Gabourey Sidibe) tem uma força contida prestes a entrar em erupção. Terna e dolorida a sua saga encontra sentido apenas quando começa frequentar a Escola Alternativa Cada Um Ensina Um e, na convivência com outras adolescentes problemáticas, reforça sua intuição de que, a única forma de vencer na vida, sair do gueto, conquistar respeito, é através da educação. No entanto, para ter direito a acreditar num futuro possível, terá de superar as dificuldades com a escrita e a leitura. Consequentemente, a sua visão cultural do mundo, além Harlem, a fará descobrir que certas verdades são muito mais doloridas que outras.
Ao falar (com muita propriedade) da importância do ensino/educação, Lee Daniels se aproxima de produções como O Contador de Histórias, de Luiz Villaça, e o apaixonante Entre os Muros da Escola (Entre les Murs), de Laurent Cantet. O primeiro é a cine-biografia de Roberto Carlos Ramos, premiado Contador de Histórias que também “resolvia” seus problemas, na infância difícil, dando asas à imaginação. Aos 13 anos, sob os cuidados da FEBEM mineira, ele era considerado um “caso irrecuperável”, até ser “encontrado” por uma pedagoga francesa e resgatado da marginalidade através do ensino. O segundo traz uma leitura diferente do tema educação, gerando muito debate ao falar do dia a dia de um professor de francês e os problemas de alfabetização e comunicação enfrentados, por ele e seus colegas, com uma turma de alunos formada por imigrantes, ou filhos de imigrantes, nascidos na França.
Preciosa – Uma História de Esperança tem excelente direção e interpretações marcantes, como a de Gabourey Sidibe (Precious) e a de Mo’Nique, no papel de Mary, a repulsiva mãe da jovem. É um filme preciosamente incômodo (de não se querer ver) e preciosamente necessário (apesar do incômodo de se ver) por tratar de assuntos ainda longe de uma solução: violência doméstica (num mundo macho-falocrata que ainda promove IMPUNE a mutilação genital feminina) e educação (num mundo onde as “autoridades” temem a educação, porque o conhecimento liberta a todos do populismo selvagem). A empatia (e aversão) que causa ao espectador é pela sua veracidade. É difícil dizer se deveria ser menos explícito e mais lúdico.
Preciosa é uma ficção com base em fatos reais. O livro que deu origem a ele sintetiza a vida de muitas jovens que a escritora Sapphire conheceu no Bronx, em Nova York, quando trabalhou em uma Escola Alternativa. Talvez incomodasse menos, se fosse um documentário, como o magnífico Meninas, de Sandra Werneck, que trata da questão da gravidez na adolescência. É um filme (ainda que difícil) pra se ver e discutir, inclusive (e principalmente) em sala de aula. O livro, Preciosa, foi lançado no Brasil, pela Record.
Nenhum comentário:
Postar um comentário