quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crítica: Invictus



Invictus é um poema escrito por William Ernest Henley e, em sua última estrofe, diz algo como: "Não importa o quanto é estreito o portão,/ a quantos castigos sentenciado;/ eu sou o dono do meu destino;/ eu sou o capitão da minha alma" (It matters not how strait the gate,/ How charged with punishments the scroll,/ I am the master of my fate;/ I am the captain of my soul.). Invictus (Invicto: invencível) é o poema que inspirou Nelson Mandela e o manteve lúcido nos 27 anos, de profundas feridas, passados num cárcere, por acreditar na liberdade e na igualdade de direitos em sua terra negra dominada por brancos ingleses. Invictus (Invictus, EUA, 2009) é o novo filme de Clint Eastwood, feito para quem acredita na paz e no perdão em busca da conciliação.

Numa forte e bela sequência inicial, dois grupos distintos de garotos (brancos uniformizados e negros com roupas comuns) jogam rúgbi, em campos separados. A passagem do carro presidencial, levando Nelson Mandela, desperta sentimentos contraditórios em ambos: temor e esperança no amanhã ainda incerto. A cerca do apartheid ainda levará um tempo maior para ser derrubada. A confiança da minoria branca racista levará um tempo para ser conquistada. E tempo é o que Nelson Mandela não tem. Invictus não é um filme-biografia sobre Mandela, mas sobre um momento crucial na história da África do Sul, logo após ele assumir o governo do país ainda engasgado com o “fim” do apartheid (segregação) e em grave crise socioeconômica.

Baseado no livro Playing the Enemy, de John Carlin, Invictus mostra como Nelson Mandela (Morgan Freeman), dando um grande passo rumo ao futuro de efetivas mudanças, uniu uma nação cheia de rusgas em torno de uma paixão em comum (mesmo segregada): o rúgbi. Para tanto contou com a prestimosa colaboração de Francois Pienaar (Matt Damon), o capitão da desacreditada equipe da África do Sul, Springboks, amada pelos brancos e odiada pela maioria negra, para virar a página da história dela e dos sul-africanos. A aposta única era a Copa Mundial de Rúgbi de 1995, realizada na África do Sul. Com uma poética “injeção” de ânimo e um desejo de reconhecer um país unido, governo e atletas despertaram uma nação. De um lado o presidente sem medo: O esporte tem o poder de mudar o mundo. Tem o poder de inspirar, de unir as pessoas, de uma maneira que nada mais consegue. A nação arco-íris tem início agora. A reconciliação começa agora. O perdão começa agora. De outro, uma equipe que buscou honrar a camisa até o fim: Quer a gente goste ou não, somos mais do que um time de rúgbi… Os tempos estão mudando. Nós também precisamos mudar.

Clint Eastwood está se tornando um mestre das sutilezas, explorando com precisão a intenção da palavra ou do gestual, através de imagens de forte impacto. Daí a maioria dos seus acertos, como em Invictus, onde os diálogos são mínimos, alguns quase monossilábicos. A bela fotografia de Tom Stern, com seu impressionante registro dos jogos de rúgbi e o dinamismo na edição de Joel Cox e Gary D. Roach, são um espetáculo a parte. Se, quando ator, os seus soturnos personagens, praticamente, entravam mudos e saiam calados, sob a sua direção não é muito diferente. Morgan Freeman e Matt Damon (sem exageros e maneirismos) encontraram o tom exato de seus personagens e convencem bem nos papéis carregados de nuances e sotaques. O único perigo em filmes como este, que fala de um ícone da política mundial, é o peso dramático que, num vacilo, pode escorregar para o sentimentalismo barato. Como em algumas sequências (talvez desnecessárias) em que Clint (buscando cumplicidade?) joga com a emoção do espectador, podendo desagradar alguns cinéfilos, por considerá-las muito piegas. Mas isso é um detalhe, uma questão de leitura.

Diferente de suas realizações anteriores, marcadas pela violência física ou psicológica, para sanar violações de direitos, Invictus é até linear, mas não é monótono. Há um tempo (e um ritmo) para refletir e um tempo para agir. A delicadeza de Eastwood, na exposição do racismo, em cenas ou diálogos, corta mais que uma navalhada explícita. Mas não derrama sangue. Invictus é um filme que emociona (e muito), constrange (um pouco) e provoca (pra valer) mesmo quem não é fã de Eastwood ou desconhece a jornada de Nelson Mandela: O que passou, passou. Agora vamos olhar para o futuro.

4 comentários:

  1. Um dos melhores trabalhos de Clint!

    Mas, prefiro A Troca ou Gran Torino, da nova leva!

    Parabéns pelo blog! muito bem conceituado! ^^

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  2. Olá, Cristiano.
    Obrigado pela visita.
    Gosto de Invictus, mas prefiro o Gran Torino, o filme que me fez rever conceitos sobre o Clint Eastwood.
    Obrigado pelos elogios e os retorno a você pelo bom gosto (também gráfico)do Apimentário.

    Abs.
    T+
    Joba

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  3. o que significa nação arco iris?

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  4. Olá, Anônimo.

    Nação arco-iris é onde convivem em harmonia pessoas de todas as "cores" e raças. Um lugar onde não há segregação racial. Onde nenhuma pessoa precisa se esconder ou temer a outra, só porque tem uma cor diferente.

    Abs.

    T+
    Joba

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