quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Crítica: Sherlock Holmes



Quem espera ver um velho personagem do século 19, vivendo aventuras velhas, como nos velhos filmes do século 20, vai ter uma grata surpresa com esta “atualização” para o século 21 do personagem Sherlock Holmes (Robert Downey Jr) e seu fiel escudeiro Dr. Watson (Jude Law), criados por Conan Doyle. Baseado na HQ inédita (Sherlock Holmes) de Lionel Wigram, que é também o co-produtor, o filme dirigido por Guy Ritchie nos traz um Sherlock Holmes (Sherlock Holmes - EUA/Inglaterra, 2009) mais jovial e presunçoso, mas ainda celibatário e ciumento, numa aventura de tirar o fôlego, para salvar a Inglaterra e o resto do mundo dos planos do malévolo Lorde Blackwood (Mark Strong).

Usando e abusando muito bem de locações, cenários e computação gráfica, Guy recria uma meticulosa e verossímil Londres de fins do século 19. Eu me lembro que, quando do lançamento do filme Mad Max - Além da Cúpula do Trovão (Mad Max Beyond Thunderdrome - Austrália/EUA,1985), de George Miller, li uma crítica que dizia que tudo ali parecia tão real que era possível até sentir o cheiro da pocilga. Poderia dizer o mesmo da cenografia deste renovado Sherlock Holmes. Da periferia ao parlamento, por onde ele circula, há um clima de pavor ou de glamour. Pode não se sentir, mas dá pra imaginar o fedor dos cortiços e matadouros ou dos charutos e perfumes dos mais abastados.

Quando os primeiros trailers de Sherlock Holmes chegaram aos cinemas e a internet, deixaram muitos fãs do detetive apreensivos com o tipo de ação nunca vista em outros filmes do personagem. Ora, também a cara e o estilo dele e de seu grande amigo mudaram. Poucos apostavam em Downey e Law (a rede está cheia de reclamação) que estão excelentes no papel. A apreensão poderia também se justificar pelo fato de Guy Ritchie ter uma forma um tanto peculiar de dirigir seus filmes que, convenhamos, são um tanto estranhos. (Ingleses demais?) A verdade é que este Sherlock Holmes não poderia estar em melhores mãos. A graça e a qualidade dele estão exatamente na direção diferenciada, no ritmo ágil que Ritchie imprimiu a partir de um roteiro enxuto. Mas com elementos suficientes para não decepcionar o fã mais ferrenho e nem aquele que se acostumou com as personificações de Sherlock no cinema, televisão e quadrinhos.

O filme de Ritchie não tem a famosa frase jamais escrita: “Elementar, meu caro Watson!” ou roupas e bonés xadrez de tweed, mas tem as inacreditáveis deduções de um Sherlock Holmes mais casual, porém sempre habilidoso, física e intelectualmente. Bem como um certo desleixo com os bens alheios e a constante implicância amigavelmente dependente com Dr. Watson. As brigas, com os vilões de ocasião ou mesmo de ringue (Guy resgata o passado pugilista de Holmes), são das mais impressionantes já filmadas, por conta do raciocínio de Sherlock, antecipando suas ações e, principalmente, pelo uso da Phantom, uma câmera de alta velocidade que pega um segundo de filmagem e estica para 40 ou 50 segundos, criando um efeito de movimento ultralento. Ponto para o diretor de fotografia Philippe Rousselot. Vale ressaltar também a excelente trilha sonora de Hans Zimmer. A música é tão impactante que, em certos momentos, a gente até se desliga do filme. Acho que a hipnose acontece em algum momento chato, que não me lembro agora.

Sherlock Holmes é uma boa pedida pra passar o tempo e ainda se deliciar com a enigmática Irene Adles (Rachel McAdams), um “caso superficial” não resolvido de Holmes, e as investidas de Mary Morstan (Kelly Reilly) pra fisgar Dr. Watson. É diversão garantida pra quem conhece ou nunca (?) ouviu falar do detetive inglês da 221B Baker Street, London, a imortal criação de Arthur Conan Doyle (1859/1930) que, de tão famosa, ao ganhar vida engoliu o seu autor. Pra quem se entusiasmar e se interessar pelas aventuras de Holmes, saiba que foram escritos originalmente 56 contos e 4 romances com o personagem.

2 comentários:

  1. Conan Doyle deve estar se revirando no túmulo! O filme só vale pela música. Guy Ritchie transformou Holmes num troglodita.

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  2. Pois é, Valdelis, o bom, também do cinema, é isso, as leituras possíveis de cada espectador. Às vezes a gente vê apenas o que está na tela e outras vezes o que está aquém e/ou além dela. Eu realmente gostei desta (re)leitura do Guy Ritchie. Quanto a Conan Doyle, que odiava o seu "filho" ilustre, Sherlock Holmes,acho que espera mesmo é o dia em que finalmente o mundo esqueça o detetive. O que, cá pra nós, acho que ainda vai demorar muito. A não ser que realmente o mundo acabe em 2012.
    Abraço.
    Joba

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