quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crítica: NINE


O único filme de Fellini que nunca consegui assistir por inteiro (e não por falta de oportunidade) é o 8 e ½. Nunca ultrapassei a mais de 30 minutos. Contrariando muitos críticos e estudiosos, acho o filme mais chato que o grande mestre realizou. Já me prometi várias vezes tentar assisti-lo até o fim, mas nunca cumpri a promessa..., e duvido que a cumpra. Mas, se não consegui ver o original até o fim, vi a sua “releitura” no híbrido musical: NINE.

NINE (NINE, EUA, 2009), de Rob Marshall, é a versão cinematográfica do espetáculo teatral de sucesso da Broadway que, por sua vez, é a releitura do filme 8 e ½, de Federico Fellini, de 1963. É um quase teatro filmado e um quase musical. É um filme estranho, e excessivamente dramático, pesado mesmo (chato?). NINE, o filme, fala de Guido Contini (alter ego de Fellini), um famoso e mulherengo diretor de cinema que, prestes a rodar seu 9º filme: Itália, enfrenta um bloqueio de criatividade e, em plena crise de meia-idade, acaba passando a limpo a sua vida, até então, repleta de emoções. Entre devaneios com belas mulheres, à espera de uma inspiração o diretor vai se desconstruindo até se tornar um nada e novamente buscar o chão firme.


Como tudo que é “novo” demora um pouco pra ser digerido, NINE ainda é uma incógnita.  O filme se passa na Itália, onde o cineasta italiano Guido Contini (Daniel Day-Lewis) quer rodar seu filme, e todo mundo fala inglês americano e com um sotaque de doer. E tem gente que estranha a recente animação em que o astronauta americano, Charles “Chuck” Baker, fala a mesma língua (idioma) que os nativos do Planeta 51, que, “por coincidência”, também é o inglês americano. Mas Planeta 51, de Jorge Blanc, é uma sátira! Se o filme NINE é uma “releitura” americana e super hollywoodiana de 8 e ½, qual o problema em se transferir a ação para lá? É o que Hollywood costuma fazer com suas infindáveis refilmagens de produções estrangeiras de sucesso: americaniza um a um, do começo ao fim. Porém, se há “equívocos” há alguns acertos, não que sejam confortáveis (na verdade são muito enfadonhos e cansativos), como a filmagem em estúdios. É claro que, em se tratando de um filme sobre um cineasta em crise, diante da realização de seu filme (e aqui não há metalinguagem), nada mais pertinente que rodar NINE em um set real, sem prescindir de algumas belas locações. Mas, convenhamos, o cenário e o figurino são de uma pobreza criativa de dar dó.


Se Daniel Day-Lewis parece confortável num papel que ele temia, por não acreditar que pudesse cantar, não se pode dizer o mesmo do resto de elenco estelar de belas atrizes: Penélope Cruz (Carla – a amante sensual), Marion Cotillard (Luisa – a dedicada esposa), Nicole Kidman (Claudia Jenssen - a musa inspiradora), Kate Hudson (Stephanie - a jornalista fogosa) Stacy Ferguson (Saraghina - a prostituta) e as carismáticas Judi Dench (Lilli – a figurinista) e Sophia Loren (a mãe de Guido) num festival de pontas (coadjuvantes?) sem fim. Elas não têm muito o que fazer. É aparecer, falar um pouquinho, cantar um pouquinho, brigar um pouquinho e: tchau, tchau, bambina! Algumas se desnudam, porém, sem qualquer traço de sensualidade (ausência de malícia?) ou expressão de desejo. É como se despissem para tomar uma injeção, um banho ou fazer alguma necessidade. É tudo no automático. Sem graça. Um desperdício total de talentos femininos, mesmo em trajes menores. Os números musicais, que não parecem clip da MTV, carecem de beleza, de ousadia, de novidade. Quanto a Fellini, se muito, é percebível na cena final. NINE não é Fellini (talvez no palco seja diferente) porque falta o sonho, a imaginação ou mesmo o humor encontrado, por exemplo, em Chicago, do próprio Rob Marshall, e na beleza sensual de Moulin Rouge, de Baz Luhrmann, musicais que renovaram o gênero.


Como disse, talvez NINE seja novo demais pra ser digerido facilmente. É um filme que não causa empatia alguma e que se assiste com um certo distanciamento. Um musical mórbido que vai se tornando cada vez mais obscuro a cada canção. Acostumado (condicionado?) a associar musicais à comédia, à alegria, à picardia, a romances pueris, é difícil aceitá-lo retratando situações tão deprimentes. Não tem sentido procurar Fellini onde ele não está. Não vi o filme comparando-o ao 8 e ½, porque nunca vi (por inteiro) esta que é considerada a sua obra-prima. Se tivesse visto talvez compreendesse melhor a dureza, a amargura, a frieza..., a falta de inspiração de Guido Contini/Rob Marshall e o sofrimento insípido das suas belas mulheres.

2 comentários:

  1. ah, sim, não tem a cadência narrativa que se espera. Mas quando bate saudades de uma balada juvenil, alugo esse filme e deleito com as mais belas garotas intangíveis, mergulho no afago de matronas infinitas... Ai, ai, ai!

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  2. Olá, Miyashiro.
    Espero que esteja falando de 8 1/2 de Fellini.
    Porque, se mergulhar em NINE, em busca de algo mais tangível, digamos, vai é quebrar a cabeça.

    Grande abraço.
    T+
    Joba

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