Partindo da premissa que o povo norte-americano é o
povo escolhido e que, em se tratando
de catástrofe, somente um único cientista norte-americano é capaz de detectar
qualquer tragédia e também encontrar a solução, em meio a problemas familiares
e a manutenção da ordem democrática dos (e nos) EUA e no resto do mundo que
sobrar em pé, o alemão Roland Emmerich
vai dando asas à sua imaginação e, à custa de milhões de dólares americanos,
realizando os filmes trash mais
caros do mundo: Independence Day de1996
(“releitura” de A Guerra dos Mundos,
de George Wells (sem dar créditos), em que destrói os ET’s infectando os
sistemas de defesa da nave-mãe com um vírus de computador); Godzilla de
1998 (“releitura” do adorável lagartão
japonês, que deixa os cenários de papelão, após testes nucleares, e parte pra
aterrorizar Nova York, que é muito mais aterrorizada pelo exército que não
poupa nem as propriedades da Disney); O
Dia depois de Amanhã (um desequilíbrio ecológico congela a Terra, deixando
sobrevivente presos na New York Public Library, e ali, pra se aquecerem, em vez
das estantes, cadeiras e mesas de madeira, eles queimam os livros – menos a
Bíblia). As ações de seus filmes geralmente
começam, passam ou terminam em
Nova York e invariavelmente destroem Los Angeles. E se preciso for, os “mocinhos xerifes do
mundo”, invadem um país de 3º ou 4º mundo. Em O Dia Depois de Amanhã, invadiram o México e em 2012 vão atracar na África.
O espectador pode até xingar ao final da sessão,
dizer que foi roubado e que o filme é horrível..., mas um tempo depois, ao se
lembrar dele, vai achar graça da idiotice que acabou de assistir. Os filmes de
Roland Emmerich estão aquém de qualquer crítica, já que são deliciosas bobagens
sem pé nem cabeça ou vice-versa. Não foram feitos (e nem tem como) pra serem
levados a sério (a não ser por ele). A profundidade de cada um é o de um pires
raso. Quem o assiste, só pode esperar diversão desvairada, voluntária ou não. É
puro trash. Vai contra os princípios filosóficos do filme trash, mas é trash. É
uma grande caricatura, repleta de canastrões, diálogos inócuos, clichês atrás
de clichês e muitos efeitos especiais bacanas e, por isso (tirando o alto
custo) trash. Por todo o seu passado cinematográfico é claro que 2012 não podia fugir à regra trash
super kitsch. Tem espectador que se satisfaz apenas com os trailers, onde
passam só as melhores partes (as dos efeitos especiais). Aqui não é diferente,
se fosse cortada uma hora de filme ninguém iria perceber.
Para Emmerich, é Deus no céu, o Império Norte-Americano
na Terra e um cachorro a salvo e feliz no seio de alguma família
norte-americana. Pra quem não presta muita atenção na variação sobre o mesmo “conteúdo”
catastrófico das suas produções, vale lembrar que (assim como Spielberg) os seus
protagonistas estão sempre em conflito com a família: pais que não compreendem
filhos que não compreendem pais que não compreendem mães..., por aí, mas, que
no final, todos se redimem. Que lindo! Não importa quão sofisticado (estudado)
ou humilde (ignorante) seja o “sujeito” do seu filme (onde mulher é sempre mera
coadjuvante) ele será inevitavelmente um homem de caráter, profissional cheio
de habilidades. Em 2012, Jackson Curtis (John Cusack) é um escritor e dublê de motorista de limusine (ou
vice-versa) pra uma família russa (com cara de comedora de criancinha),
enquanto Gordon (Thomas McCarthy), atual marido de sua ex-esposa (por enquanto), é
cirurgião plástico e, por força das circunstâncias, se torna um exímio piloto
de avião (mais ou menos nessa ordem). Aí, ao dirigir uma limusine ou pilotar um
avião (enquanto o mundo desmorona atrás deles), serão os responsáveis pelas
melhores e mais divertidas sequências. E assim, entre um efeito especial aqui e
a sua repetição ali, entre um clichê aqui e mais dois ali, entre um presidente
americano negro, Wilson (Danny Glover) e um cientista negro, Adrian Helmsley (Chiwetel
Ejiofor), politicamente corretíssimos
acolá, o mundo em 2012 acaba onde
(dizem) começou, na África, agora com a forma do crânio de Lucy (aquele fóssil e elo perdido). Uau! Que fofo! Que gênio!
2012 é sem dúvida um filme de efeitos (e bota efeitos
nisso). Roland Emmerich é como a Enterprise do Capitão Kirk: “vai onde
nenhum homem jamais esteve”, pena que ele se leve tão a sério na realização
catastrófica de seus filmes-catástrofes. Ah, vale lembrar aos religiosos e
ufanistas de plantão que a alardeada cena de destruição do Cristo Redentor, no
Rio de Janeiro, dura pouco mais que uma piscadela, mal se vê. Portanto, se for ao
cinema, por isso, fique atento. E se quiser saber um pouco mais sobre a tal
Profecia/Calendário Maia, pesquise antes, porque o filme mal toca no assunto. Já que até a Cultura Maia vai terra abaixo,
em 2012, por que perder tempo com
explicações tão banais, não é?!
Bom, e se por um acaso o mundo não acabar em 20 de 12 de 2012, ele ainda tem outra chance em 2112, que é uma data muito mais cabalista: 21 de 12 de 2112..., redondinho tanto na ida quanto na volta. Quem
viver, verá!
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