domingo, 29 de novembro de 2009

Crítica: 2012



Partindo da premissa que o povo norte-americano é o povo escolhido e que, em se tratando de catástrofe, somente um único cientista norte-americano é capaz de detectar qualquer tragédia e também encontrar a solução, em meio a problemas familiares e a manutenção da ordem democrática dos (e nos) EUA e no resto do mundo que sobrar em pé, o alemão Roland Emmerich vai dando asas à sua imaginação e, à custa de milhões de dólares americanos, realizando os filmes trash mais caros do mundo: Independence Day de1996 (“releitura” de A Guerra dos Mundos, de George Wells (sem dar créditos), em que destrói os ET’s infectando os sistemas de defesa da nave-mãe com um vírus de computador); Godzilla de 1998 (“releitura” do adorável lagartão japonês, que deixa os cenários de papelão, após testes nucleares, e parte pra aterrorizar Nova York, que é muito mais aterrorizada pelo exército que não poupa nem as propriedades da Disney); O Dia depois de Amanhã (um desequilíbrio ecológico congela a Terra, deixando sobrevivente presos na New York Public Library, e ali, pra se aquecerem, em vez das estantes, cadeiras e mesas de madeira, eles queimam os livros – menos a Bíblia).  As ações de seus filmes geralmente começam, passam ou terminam em Nova York e invariavelmente destroem Los Angeles.  E se preciso for, os “mocinhos xerifes do mundo”, invadem um país de 3º ou 4º mundo. Em O Dia Depois de Amanhã, invadiram o México e em 2012 vão atracar na África.


O espectador pode até xingar ao final da sessão, dizer que foi roubado e que o filme é horrível..., mas um tempo depois, ao se lembrar dele, vai achar graça da idiotice que acabou de assistir. Os filmes de Roland Emmerich estão aquém de qualquer crítica, já que são deliciosas bobagens sem pé nem cabeça ou vice-versa. Não foram feitos (e nem tem como) pra serem levados a sério (a não ser por ele). A profundidade de cada um é o de um pires raso. Quem o assiste, só pode esperar diversão desvairada, voluntária ou não. É puro trash. Vai contra os princípios filosóficos do filme trash, mas é trash. É uma grande caricatura, repleta de canastrões, diálogos inócuos, clichês atrás de clichês e muitos efeitos especiais bacanas e, por isso (tirando o alto custo) trash. Por todo o seu passado cinematográfico é claro que 2012 não podia fugir à regra trash super kitsch. Tem espectador que se satisfaz apenas com os trailers, onde passam só as melhores partes (as dos efeitos especiais). Aqui não é diferente, se fosse cortada uma hora de filme ninguém iria perceber.


Para Emmerich, é Deus no céu, o Império Norte-Americano na Terra e um cachorro a salvo e feliz no seio de alguma família norte-americana. Pra quem não presta muita atenção na variação sobre o mesmo “conteúdo” catastrófico das suas produções, vale lembrar que (assim como Spielberg) os seus protagonistas estão sempre em conflito com a família: pais que não compreendem filhos que não compreendem pais que não compreendem mães..., por aí, mas, que no final, todos se redimem. Que lindo! Não importa quão sofisticado (estudado) ou humilde (ignorante) seja o “sujeito” do seu filme (onde mulher é sempre mera coadjuvante) ele será inevitavelmente um homem de caráter, profissional cheio de habilidades. Em 2012, Jackson Curtis (John Cusack) é um escritor e dublê de motorista de limusine (ou vice-versa) pra uma família russa (com cara de comedora de criancinha), enquanto Gordon (Thomas McCarthy), atual marido de sua ex-esposa (por enquanto), é cirurgião plástico e, por força das circunstâncias, se torna um exímio piloto de avião (mais ou menos nessa ordem). Aí, ao dirigir uma limusine ou pilotar um avião (enquanto o mundo desmorona atrás deles), serão os responsáveis pelas melhores e mais divertidas sequências. E assim, entre um efeito especial aqui e a sua repetição ali, entre um clichê aqui e mais dois ali, entre um presidente americano negro, Wilson (Danny Glover) e um cientista negro, Adrian Helmsley (Chiwetel Ejiofor), politicamente corretíssimos acolá, o mundo em 2012 acaba onde (dizem) começou, na África, agora com a forma do crânio de Lucy (aquele fóssil e elo perdido). Uau! Que fofo!  Que gênio!


2012 é sem dúvida um filme de efeitos (e bota efeitos nisso). Roland Emmerich é como a Enterprise do Capitão Kirk: “vai onde nenhum homem jamais esteve”, pena que ele se leve tão a sério na realização catastrófica de seus filmes-catástrofes. Ah, vale lembrar aos religiosos e ufanistas de plantão que a alardeada cena de destruição do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, dura pouco mais que uma piscadela, mal se vê. Portanto, se for ao cinema, por isso, fique atento. E se quiser saber um pouco mais sobre a tal Profecia/Calendário Maia, pesquise antes, porque o filme mal toca no assunto.  Já que até a Cultura Maia vai terra abaixo, em 2012, por que perder tempo com explicações tão banais, não é?!

Bom, e se por um acaso o mundo não acabar em 20 de 12 de 2012, ele ainda tem outra chance em 2112, que é uma data muito mais cabalista: 21 de 12 de 2112..., redondinho tanto na ida quanto na volta. Quem viver, verá!

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