domingo, 8 de novembro de 2009

Crítica: Fama


por Joba Tridente
Tem certos filmes (todos os bons) que não se deve mexer. Mas, como os produtores e diretores norte-americanos “não sabem disso”, vivem refazendo filmes que não deviam ser refeitos. Agora, infelizes como os tolos “musicais” escolares, bem ao gosto Tradição Família e Patrimônio Disney (movidos a inveja, dor de cotovelo, vingança, testosterona e algum talento discutível), foram ao fundo do baú zumbizar Fama, o filme clássico de Alan Parker, que é um grande painel sobre a importância da arte na vida das pessoas. Inesquecível! Assim, 29 anos depois, estréia nos cinemas um engodo intitulado de Fama (Fame, EUA, 2009), uma “releitura” do clássico ganhador de dois Oscar e que, nas mãos do desconhecido Kevin Tancharoen, virou um arremedo musical.

Ao contrário do Fama de Parker, que é uma ode às artes, esta cópia infame, que diz nada e acrescenta menos ainda à obra anterior, parece destinada a mofar nas prateleiras das lojas ou locadoras. Claustrofóbica e fora de sincronia, não fosse pelo uso de celular e de chatíssima música barulhenta (ao gosto pop/rap), diria que ela continua se passando nos anos 1980. Do prédio da escola aos professores, tudo tem cara de velho, decadente e mofado. Na primeira versão os professores também são velhos, mas eficientes. Demonstram conhecimento ao ensinar ou discutir com os alunos os percalços da vida de artista. Já os protagonistas da versão 2009 não convencem nem a si mesmos, com suas “interpretações” e seus bobos dramas familiares, ainda que mínimos. Pouco confiantes, parecem que vão ficar ali para sempre e não apenas por quatro anos. Os mais azarados, se tiverem sorte, poderão ser incorporados à mobília, como os professores.

É impossível não comparar a atualidade do belo filme de Alan Parker, que discute, com ironia e humor, questões sociais, raciais, sexuais, formação escolar, com o empenho amadorístico de Tancharoen, que apenas repete algumas cenas antigas, sem os elos fundamentais da história, numa produção rasteira e velha. Não basta mudar o sexo, a raça ou a predileção artística dos protagonistas, é preciso justificar e com bom argumento. O esquema “musical” é tão constrangedor que Megan Mullally (a Karen Walker do seriado Will & Grace), no papel de uma professora, ao “cantar” com sua nasalada voz de taquara rachada, bem ao gosto americano, é vista (por outros professores e alunos) como se fosse uma diva, um exemplo a ser seguido. Esta é possivelmente a melhor piada entre outras mediocridades sem graça.

Incapaz de qualquer ousadia do Fama de Alan Parker, em que a meta é o crescimento e o sucesso (pessoal e artístico) dentro e fora da escola, a “releitura” dá a impressão de que, quatro anos depois, os alunos que não estavam prontos para entrar, ainda não estão prontos para sair da New York City High School of Performing Arts. Ao ver as performances deles (com a mesma cara e “talento” do início) é difícil acreditar que tenham alguma chance no concorrido mercado de trabalho. Se valer o slogan do filme: Sonhe Alto! Conquiste Seu Lugar! Viva a Vida!, eles vão ter que procurar outra escola e os professores a aposentadoria. Ou migrar todo mundo para o Fama original.

2 comentários:

  1. é amigão!
    Eu fui fã do Fame de Alan Parker, um elenco de iniciantes, e ele gostou tanto da fórmula que depois fez outro tratado: The Commitements. Pronto aí resume todo meu conhecimento cinematográfico.
    Não vi o new Fame e não estou nem um pouco a vontade de ver. principalmente depois de assistir um dvd, do original, numa locadora que ficava num posto da BR, na Av. Manoel Ribas e que inacreditavelmente fechou!!! Coisas do mal...

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  2. Olá. Miyashiro.
    É realmente muito melhor ficar com as boas lembranças do FAMA original do que investir qualquer minuto que seja numa bobice dessas.
    Até mesmo de graça, ver o filme, é caro.

    Grande abraço.

    T+
    Joba

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