terça-feira, 24 de novembro de 2009

Crítica: Arnold


por Joba Tridente

Confesso que não morro de amores por seriados “cômicos” americanos com seu “humor” escatológico, cheio de trombadas e escorregões e falas idiotas (ou as americanalhices “nacionais”). Não importa se protagonizados por brancos, pretos ou mix pb, acho tudo uma chatura só. Talvez porque sejam dublados (odeio dublagem) e as traduções do tal “humor” (americano demais pro meu gosto) fiquem a desejar. Ou ficavam.

Recentemente, por mero acaso, conheci Arnold (Diff’erent Strokes, EUA-1978 - 1986), uma antiga série norte-americana e que só agora é apresentada no Brasil, em canal aberto. A produção tem o seu foco numa família formada por um riquíssimo empresário branco, Philip Drummond (Conrad Bain), pai de uma adolescente, Kimberly (Dana Plato), que decide adotar os dois filhos negros da sua recém falecida governanta: Arnold (Gary Coleman), de 8 anos, e Willis (Todd Bridges), de 13 anos. Os garotos pobres saem praticamente do Inferno pro Paraíso, já que, de uma hora pra outra, deixam a vida difícil do Harlen pra viver confortavelmente numa cobertura em New York.

Trinta anos depois da sua criação o texto do seriado continua atual, ágil e eficiente ao tratar de temas como sexualidade, corrupção, preconceito, alimentação, racismo, educação, esporte, escravidão, trabalho, intolerância etc. Arnod tem um humor saudável, mesmo quando toca na ferida das diferenças. A Família Drummond insiste na tecla da felicidade, mas seus representantes, principalmente na pele de Arnold (com tiradas sensacionais) e Willis, sabem que uma mudança de casa ou um banho de loja não apaga o passado. Ao se defrontar com as suas tradições, Arnold, Willis, Kimberly, crescem e descobrem, no seu dia a dia, que o mundo não é exatamente como eles imaginam, mas que pode ser diferente se a mudança começar dentro de casa ou da sala de aula ou ainda numa quadra esportiva.

O ponto alto da série está em levantar questões diversas e encontrar respostas corretas para elas. Pena que esta visão intelectual (1970/1980), que mistura excelente diversão com educação e sociabilidade, dificilmente (pra não dizer nunca) voltará a fazer presença nas séries de TV nos EUA ou (muito menos) por aqui, onde prevalece o “humor” na base do quanto maior e pior a baixaria, melhor. Infelizmente, no cotidiano escolar, profissional, doméstico é muito mais fácil falar (sem mesmo saber o que é) do que praticar o Politicamente Correto. Hoje o mau gosto predomina não apenas (e principalmente) na TV, mas na cultura geral. Infância e adolescência podem até ser temas recorrentes, mas movidos a tolices comerciais e conteúdo zero.

Longe das intelectolices comuns nas séries do gênero, principalmente nas atuais (onde as crianças são bobas e erotizadas), Arnold, à moda antiga, ainda é garantia de diversão certa para toda a família. O personagem não é um adulto em miniatura, mas, como toda criança nessa idade, dependendo do assunto, louco pra ser. Arnold (que fala sério sobre os mais diversos assuntos e com muito bom humor) passa no SBT, de 2ª a 6ª, por volta das 19h00, por enquanto. Porque, todo mundo sabe que no SBT tudo pode acontecer e a série pode sair do ar de uma hora pra outra ou mudar de horário ou sei lá... Ah, vale lembrar que a série já tem várias comunidades brasileiras na Internet, com revelações sobre os atores e o que aconteceu com a carreira de cada um com o fim do seriado há mais de 20 anos.

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