por Joba Tridente
O Rio São Francisco nasce manso na Serra da Canastra, no centro-oeste de Minas Gerais..., desliza córrego pelo interior e, irmanado com outras águas riacheiras, ganha corpo e engrossa o leito com outros rios até virar um mar de água doce, batizado de Opará ou Parapitinga, pelos indígenas, e de Velho Chico, pelos assentados que vieram depois. Rio São Francisco, abençoado e explorado e abandonado em seu percurso que vara Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, até desaguar dolente no Oceano Atlântico. Rio São Francisco de tantas memórias e histórias cantadas e contadas em verso, prosa e imagens. Rio São Francisco, protagonista, coadjuvante e figurante de filmes, novelas e anúncios publicitários. Rio São Francisco, camaleônico personagem dividindo a cena socioeconômica e cultural com ribeirinhos, no documentário Rio das Vozes, dirigido por Andrea Santana e Jean-Pierre Duret.
Em seu segundo registro, a sequência traz duas comerciantes de peixe, num caminhão frigorífico, por uma estreita estrada de areia, rumo a um ponto de pescadores que negociam a pesca do dia, e cujo diálogo parece saído de um conto fantástico: “Olha, de que hora nós estamos caminhando em cima da cama do rio. Nós estamos aqui só em cima da cama dele. (...) Quantas e quantas vezes nós passamos aqui de barco. Eu, você os pescadores. Era profundo isto aqui. Não era uma situação dessa que está hoje, que você passa de bicicleta, que você passa de moto, que você passa de carro velho..., oito, dez quilômetros talvez...”.
Apesar do movimento das águas do rio nem sempre ser satisfatório, na sua malemolência ou cantilena que respinga no cotidiano dos ribeirinhos, Rio de Vozes é um filme que transpira a poesia crua e tocante no depoimento aflitivo e/ou nostálgico dos moradores locais. É claro que o espectador precisa aprender a ler nas entrelinhas, para se aperceber da carga poética muito além dos depoimentos sinceros e, por vezes, magoados, nos registros fotográficos “casuais” e, por vezes, bucólicos, de Tiago Santana e Jean-Pierre Duret.
Distribuído pela Pandora Filmes, o documentário está previsto para estrear dia 17 de fevereiro de 2022 nas salas de cinema.
NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha.
Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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