segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Crítica: Licorice Pizza


LICORICE  PIZZA

por Joba Tridente 

Possivelmente por causa do sobrenome, há quem confunda os excelentes diretores norte-americanos Wes Anderson (dos fascinantes Os Excêntricos Tenenbaums; Viagem A Darjeeling; O Fantástico Sr. Raposo; Moonrise Kingdom; O Grande Hotel Budapeste; Ilha de Cachorros) e Paul Thomas Anderson (dos instigantes Boogie Nights; Magnólia; Sangue Negro, Trama Fantasma), ainda que suas premiadas obras sejam distintas. Particularmente, me identifico mais com Wes Anderson, cujo último filme, A Crônica Francesa, menosprezado por parte da crítica, amo de paixão..., por lembrar o meu tempo de redação de jornais e revistas culturais. Embora goste muito do significativo trabalho de Paul Thomas Anderson, confesso que o seu recente Licorice Pizza (2021), indicado ao Oscar 2022, não me pegou em sua corrida sem rumo pelas calçadas e ruas de Encino, na Califórnia. 


Escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, o badalado Licorice Pizza, com todas as idiossincrasias técnicas (testadas e aprovadas em filmes anteriores) do autor, acompanha a turbulenta “relação amorosa” de uma jovem judia, de “25 anos”, que ainda busca o seu lugar no mundo, Alana Kane (Alana Haim), com o adolescente, de 15 anos, Gary Valentine (Cooper Hoffman), um jovem estudante do ensino médio, ator mirim e empreendedor com grande tino comercial..., no Vale de San Fernando, na Califórnia, em 1973. Curiosidades: Alana Haim integra a banda norte-americana de indie rock HAIM, com as irmãs Este e Danielle que, assim como seus pais, aparecem na trama, como membros da família da sua personagem. Cooper Hoffman é filho do falecido ator Phillip Seymour Hoffman. Ambos estreando muito bem no cinema. 


Enquanto a paixonite do improvável casal fica ali no sobe e desce dos encontros e desencontros amorosos e/ou profissionais, como se numa montanha russa desenfreada, alguns personagens bizarros, que tanto pegam quanto largam o bonde andando, aparecem em subtramas pra lá de fragmentadas (para testar o nível de envolvimento dos jovens e/ou a paciência do espectador). Entre eles, Jon Peter (Bradley Cooper) um irritante produtor; Jack Holden (Sean Penn) uma estrela hollywoodiana; Rex Blau (Tom Waits), um histriônico diretor de cinema; Joel Wachs (Benny Safdie), um candidato cuja carreira política está em risco; Jerry Frick (John Michael Higgins), um dono de restaurante de comida japonesa..., que entram em cena, fazem lá seus gracejos (alguns constrangedores), sempre na presença do precoce Gary e/ou da faz tudo Alana, e, então: “- Bye, bye! So long! Farewell!”. 


Licorice Pizza não tem uma história a ser seguida, mas um punhado de esquetes “cômicos” que forçam a mão no “humor” racista, escatológico e sexista, cuja graça vai depender do nível de leitura do espectador, que pode se esbaldar (?) ou se incomodar (!) com as bobageiras típicas norte-americanas..., acreditando que, se era normal rir de tais piadas nos anos 1970, não há nada de mal em rir delas nos anos 2020. Empatias e empatias! Acho que em tempos pandêmicos ando levando tudo muito a sério demais da conta! Ainda mais quando vejo arcos desamarrados e flechas tortas sem alvo definido. 


Ao que se sabe, a nostálgica “trama” é baseada nas memórias de Thomas Anderson, que viveu naquela região, e em alguns fatos envolvendo conhecidos seus e/ou personalidades. O título é uma homenagem à cadeia de lojas de discos Licorice Pizza (Pizza de Alcaçuz), do sul da Califórnia, dos anos 70-80. Daí a trilha sonora ser embalada por grandes baladas, incluindo na seleção David Bowie; Paul McCartney & Wings; Nina Simone; Donovan; The Doors; Seals and Crofts; Sonny & Cher, Bood, Sweat & Tears; Suzi Quatro..., entre outros. Como a música, praticamente, não para, a impressão é a de que, de repente, alguns personagens vão começar a cantar e a dançar como se estivessem em um musical. Sinceramente, chega uma hora em que... 


Enfim, a “comédia” romântica Licorize Pizza (de vários sabores discutíveis) pode não satisfazer o paladar de todos os espectadores famintos por uma boa e divertida história. Seu roteiro vago, por vezes, subestima a inteligência do público pensante, com seus alívios cômicos duvidosos e gags desastrosas, suas sequências torturantes que vão muito além da “piada”, seus retalhos mal costurados na grande colcha retrô do vintage sonho americano self-made man. Mas não há como negar mérito ao seu maior acerto: a escolha do excelente elenco repleto de gente com corpo e cara bem comum. Numa narrativa que dura 133 minutos (40 a 50 minutos a menos fariam grande diferença), o grande destaque fica para a performance dos jovens e carismáticos atores Alana Haim e Cooper Hoffman.

Trailer Aqui

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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