por Joba Tridente
Possivelmente por causa do sobrenome, há quem
confunda os excelentes diretores norte-americanos Wes Anderson (dos fascinantes Os
Excêntricos Tenenbaums; Viagem A
Darjeeling; O Fantástico Sr. Raposo;
Moonrise Kingdom; O Grande Hotel Budapeste; Ilha de Cachorros) e Paul Thomas Anderson (dos instigantes Boogie Nights; Magnólia; Sangue Negro, Trama Fantasma), ainda que suas premiadas
obras sejam distintas. Particularmente, me identifico mais com Wes Anderson,
cujo último filme, A Crônica Francesa,
menosprezado por parte da crítica, amo de paixão..., por lembrar o meu tempo de
redação de jornais e revistas culturais. Embora goste muito do significativo
trabalho de Paul Thomas Anderson, confesso que o seu recente Licorice Pizza (2021), indicado ao Oscar 2022, não me pegou em sua corrida sem
rumo pelas calçadas e ruas de Encino, na Califórnia.

Escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, o badalado Licorice Pizza, com todas as idiossincrasias técnicas (testadas e
aprovadas em filmes anteriores) do autor, acompanha a turbulenta “relação amorosa”
de uma jovem judia, de “25 anos”, que ainda busca o seu lugar no mundo, Alana Kane (Alana Haim), com o adolescente, de 15 anos, Gary Valentine (Cooper
Hoffman), um jovem estudante do ensino médio, ator mirim e empreendedor com
grande tino comercial..., no Vale de San Fernando, na Califórnia, em 1973. Curiosidades:
Alana Haim integra a banda norte-americana de indie rock HAIM, com as irmãs Este e Danielle
que, assim como seus pais, aparecem na trama, como membros da família da sua personagem. Cooper
Hoffman é filho do falecido ator Phillip Seymour Hoffman. Ambos estreando muito
bem no cinema.

Enquanto a paixonite do improvável casal fica
ali no sobe e desce dos encontros e desencontros amorosos e/ou profissionais,
como se numa montanha russa desenfreada, alguns personagens bizarros, que tanto
pegam quanto largam o bonde andando, aparecem em subtramas pra lá de
fragmentadas (para testar o nível de envolvimento dos jovens e/ou a paciência
do espectador). Entre eles, Jon Peter
(Bradley Cooper) um irritante
produtor; Jack Holden (Sean Penn) uma estrela hollywoodiana; Rex Blau (Tom Waits), um histriônico diretor de cinema; Joel Wachs (Benny Safdie),
um candidato cuja carreira política está em risco; Jerry Frick (John Michael
Higgins), um dono de restaurante de comida japonesa..., que entram em cena,
fazem lá seus gracejos (alguns constrangedores), sempre na presença do precoce Gary e/ou da faz tudo Alana, e, então: “- Bye, bye! So long! Farewell!”.

Licorice
Pizza não tem uma história a ser seguida, mas um punhado de
esquetes “cômicos” que forçam a mão no “humor” racista, escatológico e sexista,
cuja graça vai depender do nível de leitura do espectador, que pode se esbaldar
(?) ou se incomodar (!) com as bobageiras típicas norte-americanas...,
acreditando que, se era normal rir de tais piadas nos anos 1970, não há nada de
mal em rir delas nos anos 2020. Empatias e empatias! Acho que em tempos
pandêmicos ando levando tudo muito a sério demais da conta! Ainda mais quando
vejo arcos desamarrados e flechas tortas sem alvo definido.

Ao que se sabe, a nostálgica “trama” é baseada
nas memórias de Thomas Anderson, que viveu naquela região, e em alguns fatos
envolvendo conhecidos seus e/ou personalidades. O título é uma homenagem à
cadeia de lojas de discos Licorice Pizza
(Pizza de Alcaçuz), do sul da
Califórnia, dos anos 70-80. Daí a trilha sonora ser embalada por grandes
baladas, incluindo na seleção David Bowie; Paul McCartney & Wings; Nina
Simone; Donovan; The Doors; Seals and Crofts; Sonny & Cher, Bood,
Sweat & Tears; Suzi Quatro..., entre outros. Como a música, praticamente,
não para, a impressão é a de que, de repente, alguns personagens vão começar a
cantar e a dançar como se estivessem em um musical. Sinceramente, chega uma
hora em que...

Enfim, a “comédia” romântica Licorize Pizza (de vários sabores discutíveis) pode não satisfazer
o paladar de todos os espectadores famintos por uma boa e divertida história. Seu
roteiro vago, por vezes, subestima a inteligência do público pensante, com seus
alívios cômicos duvidosos e gags
desastrosas, suas sequências torturantes que vão muito além da “piada”, seus retalhos
mal costurados na grande colcha retrô
do vintage sonho americano self-made man. Mas não há como negar
mérito ao seu maior acerto: a escolha do excelente elenco repleto de gente com
corpo e cara bem comum. Numa narrativa que dura 133 minutos (40 a 50 minutos a
menos fariam grande diferença), o grande destaque fica para a performance dos
jovens e carismáticos atores Alana Haim e Cooper Hoffman.
Trailer
Aqui
NOTA: As considerações acima são
pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e
cinéfilos de carteirinha.
Joba Tridente: O primeiro filme
vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em
1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008.
Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas.
Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power
Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em
Curitiba.
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