quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Crítica: Fortaleza Hotel


 FORTALEZA HOTEL

por Joba Tridente 

Na vida, assim como na arte e vice-versa, as pessoas vão relando umas nas outras seus sucessos e seus fracassos..., e quando se dão conta, gentes de culturas diferentes e que nem se sabiam, já estão de braços dados até para o que der e vier, mesmo com alguns percalços do caminho. Truque, destino, senão..., sabe-se lá o quê leva a um esbarrão capaz de mudar a vida ou o itinerário de alguém. O drama social Fortaleza Hotel (Brasil, 2021), de Armando Praça (Greta), narra uma história de encontros (não programados), desencontros (anunciados) e reencontros (inusitados) de duas mulheres: Pilar (Clébia Sousa), uma camareira cearense, e Shin (Lee Young-Lan), uma hóspede sul-coreana, que se tornam parceiras de ocasião. 


Eu queria ir para bem longe.
Para mim, aqui é bem longe.


Baseado no roteiro sucinto de Isadora Rodrigues e Pedro Cândido, a trama de Fortaleza Hotel segue, por uma semana, entre as comemorações do Natal e do Ano Novo, os passos da camareira Pilar, que trabalha no Hotel Fortaleza e tem projeto de imigrar para a Irlanda, e da hóspede Shin, que veio da Coréia do Sul trasladar o corpo do marido morto, que estava no Ceará a trabalho. O que não vai faltar a uma e outra é a claudicância no enfretamento da burocracia e da má vontade para resolver pendências. Pilar só pode imigrar se conseguir resolver as pendengas da filha adolescente rebelde, que vai ficar no Brasil. Shin só pode retornar à Coréia se conseguir dinheiro para as despesas do funeral, já que o ex-empregador do marido se recusa compensar qualquer gasto. Ou seja, ambas precisam de dinheiro para seguirem adiante com seus planos imediatos... 


Com ótima direção e sem dispensar metáforas (e “coincidências”), a grande força do melancólico Fortaleza Hotel está na performance comovente das duas excelentes atrizes (Clébia Sousa e Lee Young-Lan)..., na maior parte, emolduradas por janelas, espelhos, frestas, reflexos, pela câmera de Heloísa Passos, que também explora muito bem o chiaroscuro, enriquecendo a narrativa, quando o silêncio é maior e mais necessário que a fala na solidão de cada personagem. Aliás, este não é um filme de muitos diálogos. 

Quanto à dramaturgia, Fortaleza Hotel começa curioso (com a entrevista teste de inglês da camareira Pilar) e levemente tenso (com a chegada da hóspede Shin), mas vai pesando a trama no desenrolar da história, quando tangencia (sem muita convicção) situações de violência periférica e urbana..., que só não chegam a surpreender porque são previsíveis (prenunciadas, sem nenhuma sutileza, em diálogos e/ou gestos). Algumas chegam a subestimar a inteligência do espectador. Porém, o enredo guarda uma ou duas cartas na manga em seu desfecho melodramático que, de certa forma, compensam a incômoda previsibilidade dos penduricalhos nas dramáticas reviravoltas.

Aqui: Trailer Oficial

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


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