MATRIX RESURRECTIONS
por Joba Tridente
Eu sou um dos poucos espectadores que não foi
inoculado com o vírus Matrix.
Continuei imune por toda a trilogia (que assisti) e, birrento, não me tornei
fanático da franquia, que apelidei de Chatrix,
por ir de lugar algum a lugar nenhum com a sua filosófica masturbação mental. A decepção
com o primeiro Matrix (1999), a mim,
uma colcha de retalhos das dezenas de filmes e de livros de ficção científica
que já havia assistido e lido, acabou atravancando a minha degustação. Agora,
sem rever a experiência game, quis saber
o quê há de novo em Matrix Resurrections
(EUA, 2021), de Lana Wachowski..., e
se desta vez seria (finalmente) arrebatado ou (igualmente) arremessado no
depósito das peças suprimidas.
“O
olho azul é um exagero!”
Ironia das ironias, o que mais chama a atenção no
enredo de Matrix Resurrections, e que
vem sendo alardeado por colegas, é a “autoparódia”, a “autocrítica”, a
“metalinguagem”..., que coloco assim, entre aspas, porque, em se tratando de Matrix, não se tem certeza de coisa
alguma, nem mesmo da crítica ao faminto capitalismo hollywoodiano, exigindo
sempre mais um campeão de bilheteria a quem já frequenta outra plataforma. Pode
ser mero jogo de cena e/ou blefe, como a fala de Neo e Trinity na cena
final, se é que é o final!
Matrix
Resurrections, roteirizado por Lana, Aleksandar Hemon e David Mitchell, é
um filme para fãs (não muito exigentes). A trama segue pela trilha segura dos
filmes anteriores, só que sem muita filosofia de boteco..., mas batendo na
mesma tecla da tecnologia inteligente e usuários autoritários e/ou subservientes. Em seu prólogo,
numa empresa desenvolvedora de videogames,
acontece uma reunião para se discutir as estratégias de mercado de um novo jogo e a
conversa vira um questionamento curioso (o único momento de humor negro
genuíno) sobre Matrix e no Matrix Ressurections: é game?; é filme?; é um programa?; é real?;
é simulação?; é sonho?; é franquia lucrativa?..., e por aí vai, abrindo caminho
para a metaficção (?) ou algo parecido.
Em meio às incertezas mecânicas da vida, da arte, da
máquina, o letárgico Thomas A. Anderson,
o Neo (Keanu Reeves), designer de
videogame, começa entrar em parafuso (ou ser desparafusado), assombrado por
visões (do que lhe aconteceu em filmes passados) e, após um encontro inesperado
com a sua amada Trinity (Carrie-Anne Moss), a pirar de vez. Um Analista (Neil Patrick
Harris) tenta manter Neo sob
controle..., mas sabe como são instáveis as “maquinas”. Não demora para que portais
sejam abertos e, simulada ou não, a operação para “resgatar” e “salvar” Neo (que já foi o Escolhido) e Trinity (de um "perigo mortal" qualquer, "dentro" ou "fora" de Matrix), tem
(re)início, com as indefectíveis (e cansativas mesmo!) sequências de pancadaria, tiro, perseguição de
carro e de helicóptero e explosões (que tomam a maior parte da trama)..., até culminar no previsível final apoteótico, que, evidentemente, não poderia ser outro, depois de tanta correria e/ou travessia de portais inimagináveis.
Tudo é igual, mas levemente diferente e (ainda) confuso
(para quem não conhece o mirabolante argumento original), no retorno à Matrix, ao miolo do Sistema, onde o Agente Smith (Jonathan Groff,
na pele que já foi de Hugo Weaving) tem sua versão renovada (“O olho azul é um exagero!”). Nessa volta dos que não foram, um elenco
afiado, ótimos efeitos especiais (haja bullet
time), com destaque para a sempre maravilhosa arte steampunk. Lembrando que (para bom entendedor) nem só com tecnologia de ponta se faz um bom filme. Algumas gags funcionam
melhores que outras (aí é questão de gosto ou de humor). Enfim, Matrix Ressurections me pareceu apenas um mix-homenagem
dos três filmes anteriores (Matrix, 1999;
The Matrix Reloaded, 2003; The Matrix Revolutions, 2003), com uma
razoável dose de amor desesperado de Neo e Trinity, que não deve decepcionar os fãs (pouco exigentes) da franquia blockbuster.
NOTA: As considerações acima são pessoais e,
portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de
carteirinha.
Joba
Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em
35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder,
2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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