quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Crítica: Matrix Resurrections

 

MATRIX RESURRECTIONS

por Joba Tridente 

Eu sou um dos poucos espectadores que não foi inoculado com o vírus Matrix. Continuei imune por toda a trilogia (que assisti) e, birrento, não me tornei fanático da franquia, que apelidei de Chatrix, por ir de lugar algum a lugar nenhum com a sua filosófica masturbação mental. A decepção com o primeiro Matrix (1999), a mim, uma colcha de retalhos das dezenas de filmes e de livros de ficção científica que já havia assistido e lido, acabou atravancando a minha degustação. Agora, sem rever a experiência game, quis saber o quê há de novo em Matrix Resurrections (EUA, 2021), de Lana Wachowski..., e se desta vez seria (finalmente) arrebatado ou (igualmente) arremessado no depósito das peças suprimidas. 

O olho azul é um exagero! 


Ironia das ironias, o que mais chama a atenção no enredo de Matrix Resurrections, e que vem sendo alardeado por colegas, é a “autoparódia”, a “autocrítica”, a “metalinguagem”..., que coloco assim, entre aspas, porque, em se tratando de Matrix, não se tem certeza de coisa alguma, nem mesmo da crítica ao faminto capitalismo hollywoodiano, exigindo sempre mais um campeão de bilheteria a quem já frequenta outra plataforma. Pode ser mero jogo de cena e/ou blefe, como a fala de Neo e Trinity na cena final, se é que é o final! 


Matrix Resurrections, roteirizado por Lana, Aleksandar Hemon e David Mitchell, é um filme para fãs (não muito exigentes). A trama segue pela trilha segura dos filmes anteriores, só que sem muita filosofia de boteco..., mas batendo na mesma tecla da tecnologia inteligente e usuários autoritários e/ou subservientes. Em seu prólogo, numa empresa desenvolvedora de videogames, acontece uma reunião para se discutir as estratégias de mercado de um novo jogo e a conversa vira um questionamento curioso (o único momento de humor negro genuíno) sobre Matrix e no Matrix Ressurections: é game?; é filme?; é um programa?; é real?; é simulação?; é sonho?; é franquia lucrativa?..., e por aí vai, abrindo caminho para a metaficção (?) ou algo parecido. 


Em meio às incertezas mecânicas da vida, da arte, da máquina, o letárgico Thomas A. Anderson, o Neo (Keanu Reeves), designer de videogame, começa entrar em parafuso (ou ser desparafusado), assombrado por visões (do que lhe aconteceu em filmes passados) e, após um encontro inesperado com a sua amada Trinity (Carrie-Anne Moss), a pirar de vez. Um Analista (Neil Patrick Harris) tenta manter Neo sob controle..., mas sabe como são instáveis as “maquinas”. Não demora para que portais sejam abertos e, simulada ou não, a operação para “resgatar” e “salvar” Neo (que já foi o Escolhido) e Trinity (de um "perigo mortal" qualquer, "dentro" ou "fora" de Matrix), tem (re)início, com as indefectíveis (e cansativas mesmo!) sequências de pancadaria, tiro, perseguição de carro e de helicóptero e explosões (que tomam a maior parte da trama)..., até culminar no previsível final apoteótico, que, evidentemente, não poderia ser outro, depois de tanta correria e/ou travessia de portais inimagináveis. 


Tudo é igual, mas levemente diferente e (ainda) confuso (para quem não conhece o mirabolante argumento original), no retorno à Matrix, ao miolo do Sistema, onde o Agente Smith (Jonathan Groff, na pele que já foi de Hugo Weaving) tem sua versão renovada (“O olho azul é um exagero!”). Nessa volta dos que não foram, um elenco afiado, ótimos efeitos especiais (haja bullet time), com destaque para a sempre maravilhosa arte steampunk. Lembrando que (para bom entendedor) nem só com tecnologia de ponta se faz um bom filme. Algumas gags funcionam melhores que outras (aí é questão de gosto ou de humor). Enfim, Matrix Ressurections me pareceu apenas um mix-homenagem dos três filmes anteriores (Matrix, 1999; The Matrix Reloaded, 2003; The Matrix Revolutions, 2003), com uma razoável dose de amor desesperado de Neo e Trinity, que não deve decepcionar os fãs (pouco exigentes) da franquia blockbuster. 


NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba. 

 


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