quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Crítica: Lamento

 

L A M E N T O

por Joba Tridente

Está chegando às salas de cinema, no dia 26 de agosto de 2021, o longa-metragem Lamento, dos diretores Diego Lopes e Claudio Bitencourt, cuja trama acompanha a decadência do hoteleiro Elder (Marco Ricca), um homem de meia-idade que (conforme os comentários) nunca precisou se preocupar com a sua subsistência, e do Hotel Orleans, com sua decoração anos 1950, que herdou do pai. 


O depressivo Elder, em franca crise existencial (não honrou ao pai), financeira (péssimo administrador) e conjugal (casamento por um fio com Rosa/Veronica Rodrigues), está entregue ao vício (que possivelmente trouxe da juventude) de cocaína, psicotrópicos, álcool. O hotel de renome está se tornando um hotel de rotatividade e deve ir a leilão para quitar as dívidas (impagáveis)..., despertando o interesse de Carlos Rosenbaum (Otavio Linhares), um comprador com bom faro para negócios falidos. Nos três ou quatro dias em que se passa a ação, enquanto lida com um jovem casal de hóspedes inconvenientes (Letícia/Thaila Ayala e Luciano/Diegho Kozievitch), o desesperado Elder busca uma saída para o caos em que se meteu. 

Lamento é um dramalhão (de uma tonelada) que não dispensa nenhum clichê do gênero. Num enredo onde a tristeza e o pessimismo (de praticamente todos os personagens) imperam..., coroados com uma trilha instrumental melodramática e música-título totalmente fora de contexto..., é difícil sentir empatia por qualquer um dos personagens, já que, além da aparência física, nada se sabe deles (exceto que Elder sempre foi mimado). É mais fácil ficar indiferente a todos. (Marco Ricca: “O Elder está em um momento delicado da vida, com vários problemas financeiros e emocionais. Ele tenta enfrentá-los, dentro das impossibilidades que tem como ser humano, meio frágil, meio falho. Você assiste à trajetória desse personagem indo por um movimento totalmente vertiginoso em relação à vida dele. Você nunca tem muita certeza se o que ele está vivendo é real ou está num mundo próprio dele. É um cara que está em constante abstinência, com todas as dores que isso traz - enfrentando uma separação e enfrentando também a perda de algo que é importantíssimo para ele, que é o hotel que herdou do pai e do qual ele não conseguiu fazer algo rentável”). 


Ainda que flerte vagamente com o suspense, em umas três sequências breves, e amplie o grau de violência nas (escorregadias) cenas finais, Lamento não chega a ser um thriller. O foco é mesmo o fator psicológico, a degradação humana e o reflexo da desmoralização em todos ao redor do protagonista. Sem esboçar um sorriso amarelo sequer, ou qualquer alívio em um fotograma que seja (não recomendo ao espectador deprimido em busca de escapismo), a narrativa nada sutil só tem um caminho: descer ao inferno das mentes apodrecidas (pelo uso constante de drogas) e esperar o baque anunciado. Enfim, exibindo bom elenco e boa cenografia, certamente  Lamento encontrará público interessado no tema.

trailer: aqui

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha.

 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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