quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Crítica: Unidas pela Esperança


UNIDAS PELA ESPERANÇA

por Joba Tridente

Em 1997, uma das grandes sensações cinematográficas foi o excelente filme Ou Tudo ou Nada, do diretor britânico Peter Cattaneo. De lá pra cá o cineasta não parou (Um Golpe de Sorte, 2001; Opal Dream, 2006; O Roqueiro, 2008; e vários filmes e séries para TV), mas suas obras posteriores não causaram o mesmo impacto. Agora, driblando a pandemia, Cattaneo está de volta às telonas (em alguns cinemas) com o melodrama Unidas pela Esperança (título brasileiro horroroso, piegas, para o original Military Wives (Esposas de Militares) ou para o bem mais simpático e internacional The Singing Club.


Unidas pela Esperança (2019) é inspirado na história verídica das mulheres que criaram os Military Wives Choirs, na base do exército de Catterick, no norte de York, Reino Unido, e no episódio The Choirs: Military Wives, da premiada série de documentários The Choir, da BBC, cujo ponto culminante é a apresentação do coral das esposas dos militares no The Royal British Legion's Remembrance, no Royal Albert Hall, em Londres, no dia 12 de novembro de 2011, cantando a bonita canção Wherever You Are, composta especialmente para o evento por Paul Mealor a partir da troca de cartas entre as esposas e seus maridos no front

Com roteiro morno, escrito por Rachel Tunnard e Rosanne Flynn, a trama fictícia dirigida por Cattaneo (no automático) é pautada pela previsibilidade e adornada com lacinhos cor de rosa e lacinhos vermelho pujante. Após um breve prólogo..., com a apresentação nada sutil de três personagens chaves (cujo desenvolvimento de relação e destino você já deduz no primeiro “olá!”) e da preparação e partida de uma guarnição da Base Militar de Flitcroft (Yorkshire), para uma missão no Afeganistão..., passamos a acompanhar uma reunião das “esposas-bibelôs” dos militares em busca de alguma atividade de lazer, para que, além dos cuidados com os filhos, não fiquem pegando pó em suas casas, ali na base. Quando tudo indica que, na falta de inspiração, a alternativa delas é se entreterem em algum tipo de Clube Ocupacional (de Leitura, de Café da Manhã, de Filmes e Vinhos, de Tricô)..., acabam optando pela sugestão da recém-casada Sarah (Amy James-Kelly): a criação de um coral. 


A princípio, a ideia parece agradável, já que todo mundo gosta de cantarolar algo. Mas, toda via musical tem sempre uma trilha desafinada, então, não demora para que Kate (Kristin Scott Thomas), a arrogante esposa (sabe com quem você está falando?) do coronel comandante, e Lisa (Sharon Horgan), a espontânea esposa de um oficial menos graduado e diretora do Comitê Social da Base, criem um clima nada amistoso para saber quem vai ficar à frente do coral. Por conta da patente do marido, Kate se acha a dona do pedaço e a única com conhecimento musical para assumir a batuta de regente de um repertório clássico. Lisa que, junto com as outras esposas, prefere músicas pop, está nem aí para a formação musical de Kate, já que, ali, todas são amadoras. Assim, entre esbarrões de egos inflamados, daqui e dacolá, aos poucos vamos conhecendo a personalidade e os pontos fracos das protagonistas e de uma ou outra coadjuvante. Nada muito profundo, apenas para justificar algumas reações incômodas que vão num crescendo até a esperada (óbvio!) troca de farpas que elevam o epílogo apoteótico.

Enfim, com seu enredo simplório, onde não faltam clichês clássicos e algumas insinuações de suspense, Unidas pela Esperança não chega a reservar surpresas ao público espectador. O fio condutor não encontra embaraço que não possa ser desfeito e tampouco alguma nota (além do previsível) que não destoe e reencontre o tom no diapasão. É um filme simpático, que se quer para cima, em busca do bem-estar e da alegria sem temores, que nos dias de hoje andam pelo fio da navalha. Ainda que abra algumas janelas para a tristeza, já que a vida numa base militar e ou front vai muito além do faz-de-conta, abre muito mais portas para a resiliência. Pode carecer de humor, do riso espontâneo, mas com sua mensagem edificante, há de tocar o coração do público carente de um afago.


Unidas pela Esperança pode não ser um filme memorável, mas o tempo reservado para assisti-lo tampouco será desperdiçado. O elenco é excelente e as canções (todas legendadas) são deliciosas. Vale ressaltar que, assim como Wherever You Are, de Paul Mealor, a comovente balada Home Thoughts From Abroad, composta por Robert Williams e Guy Chambers, simulando trechos de correspondências entre esposas e maridos militares, apresentada pelo Military Wives no The Royal British Legion's Remembrance, vai dar uma rasteira emocional em muita gente. Pois, como disse o cineasta Peter Cattaneo: “A maior atração para mim foi fazer um filme que celebra o poder emocional da música e a catarse de cantar juntos. Todo o canto foi gravado ao vivo no set, com as imperfeições de um coro amador, para alcançar um som autêntico. O elenco praticou a música final antes de filmar, mas optamos por não ensaiar as primeiras apresentações de canto para garantir uma espontaneidade áspera.” Será esta canção uma candidata ao Oscar? Merece!


Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


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