quinta-feira, 9 de maio de 2019

Crítica: Hellboy




HELLBOY
por Joba Tridente

Oh, Boy! Oh, Hell! Oh, Hellboy! Oh, Sir Hellboy! Oh, Rei Arthur que mais uma vez é convocado, juntamente com a Excalibur, para coroar mais um descendente distante e salvar a Inglaterra (e quiçá o mundo) de mais um Apocalipse.

Por mais que se queira americano, inglês, alemão, Hellboy ou Anung un Rama é mesmo um infernal cidadão do mundo. Meio humano e meio diabo, é verdade, mas um cidadão gente boa e agente determinado do Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal (B.P.D.P) que está sempre limpando a barra de desafortunados homens, mulheres e crianças que caem nas garras de seres míticos, místicos ou nazistas. Segundo seu criador, o genial desenhista e roteirista de histórias em quadrinhos Mike Mignola, o colossal Hellboy, ainda criança, saindo das profundas do Inferno, chegou ao mundo dos homens, mais precisamente nas ruínas de uma capela nas Ilhas Britânicas, em 23.12.1944, invocado por Rasputin, para servir a Alemanha Nazista (embora o bruxo tivesse planos muito mais sinistros para ele). O projeto dos nazistas foi frustrado pela força militar especial americana, tendo à frente o Professor Trevor Bruttenholm, que criou o bebê infernal como se fosse um humano e o treinou arduamente para combater as forças malignas. Com o passar do tempo, descobriu-se que o Homem-Diabo tinha uma origem bem mais pomposa, ainda que, pelas circunstâncias, tenha vindo do Inferno: descendia do lendário Rei Arthur...


O personagem Hellboy estreou nas páginas de San Diego Comic-Com 2 (revista-brinde distribuída na Convenção de Quadrinhos de San Diego em 1993). De lá pra cá deu o ar da força e da graça irônica em dezenas de revistas, dois ótimos filmes dirigidos por Guilherme del Toro (Hellboy, 2004 e Hellboy II: O Exército Dourado, 2008), com Ron Perlman, na pele do Herói, e duas curiosas animações (Espada das Tempestades, dirigido por Phil Weinstein, e Sangue e Ferro, dirigido por Victor Cook) de 2006. Bem, dez anos depois do segundo filme de del Toro, em vez de um terceiro, para fechar a trilogia, um recomeço: Hellboy..., agora com Neil Marshall (Dog Soldier, The Descent, Centurion, Doomsday) dirigindo o roteiro de Andrew Cosby e Mike Mignola.

Em relação às aventuras cinematográficas anteriores, contada com imaginação e liberdade cronológica, Hellboy (Hellboy, 2019) avança um bocado na biografia do Herói, o que deve desnortear (?) algum espectador que desconheça a saga e os antepassados de Hellboy (David Harbour), agora às voltas com a vingativa Nimue (Milla Jovovich), a Rainha de Sangue. A poderosa bruxa, que foi discípula de Merlin, o traiu e foi despedaçada pelo Rei Arthur, sabe exatamente quem deve procurar, trocentos anos depois de virar picadinho, para concluir a sua vingança contra os ingleses (claro!). Por um lado, Hellboy pode contar com a ajuda da médium Alice Monaghan (Sasha Lane) e do Major Ben Daimio (Daniel Dae Kim). Por outro, Nimue não dispensa a colaboração do não menos vingativo Homem-Porco Javali Gruagach e todo tipo de morto-vivo ou vivo-morto disponível. Apocalipse à vista e no menor prazo...


Inspirada principalmente nas HQs O Clamor das Trevas (2007/2008), A Caçada Selvagem (2008/2009), Tormenta (2010) e Fúria (2011), com uma folheada em No México (2010), toda a inventividade surreal de Mike Mignola está em cena. Todos os elementos de mistérios, terror gótico e fantasia, presentes nas revistas, estão em cena. No entanto, a impressão é a de que o roteiro foi escrito mais para uma HQ (parada) do que para um filme (ágil)..., já que a narrativa claudica um bocado, até mesmo quando a ação parece insana.

Para uma história não recomendada a menores de 18 anos, acontece praticamente nada que justifique a censura. Não provoca medo algum (com seu terror juvenil!), não provoca riso algum (com suas piadas juvenis!). Para ser sincero, no máximo se ri é do ridículo de alguma cena criada para ser engraçada, mas que acaba idiota demais até pra um sorriso amarelo. Mesmo as repugnantes sequências gore, no final, parecem mais um adendo gratuito de última hora, que, assim como as personagens Alice e Daimio, acrescenta pouco a um enredo que, infelizmente, não consegue enredar totalmente o espectador fã e ou espectador mais exigente.


Enfim, considerando que Hellboy tem ao menos duas sequências espetaculares (Esteban, no México, e Baba Yaga, na Inglaterra), ainda que mal costuradas num roteiro bom, mas perdido na encruzilhada narrativa; que Marshall tem ideias curiosas, mas não sabe a que amuletos recorrer e ou descartar para dar substância à história mirabolante; que o elenco não vai além da razoabilidade de seus personagens; que a trilha ensurdecedora tem uns flashes de rock bacaninhas; que a qualidade (?) do CGI (de game) é mais que discutível (?); que de tão excessiva (e gratuita) a violência acaba não surtindo efeito; que de tão bobo o humor (com suas gags toscas) acaba não provocando gargalhadas..., mesmo assim, creio que o filme do Detetive do Sobrenatural Hellboy pode agradar a um filão de espectadores que não está nem aí pra fidelidade dos quadrinhos ou algo mais grandioso, quando se quer apenas passar o tempo degustando pipoca, dando uns goles no refrigerante, tirando uma soneca, sem se preocupar com os demônios do dia a dia... Bem, pode até ser que no futuro ele vire um cult trash!

Nota: Acho que qualquer semelhança entre O Menino Que Queria Ser Rei (2019), de Joe Cornish, e Hellboy, de Neil Marshall, deve ser mera coincidência...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

2 comentários:

  1. Este filme não faz meu gênero ,mas depois de muitas idas e vindas ,gostei .é muito interessante .Valeu a pena .

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  2. ..., olá, Marina, que bom que gostou. ..., não foi uma sessão perdida. ..., como eu disse, o filme pode encontrar o seu público. ..., ah, se puder, veja as animações, principalmente a emocionante Sangue e Ferro. ..., você encontra pela web. ..., grande abraço. T+

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