HELLBOY
por Joba Tridente
Oh, Boy! Oh, Hell! Oh, Hellboy! Oh, Sir Hellboy! Oh,
Rei Arthur que mais uma vez é convocado, juntamente com a Excalibur, para coroar mais um descendente distante e salvar a
Inglaterra (e quiçá o mundo) de mais um Apocalipse.
Por mais que se queira americano, inglês, alemão, Hellboy ou Anung un Rama é mesmo um infernal cidadão do mundo. Meio humano e
meio diabo, é verdade, mas um cidadão gente boa e agente determinado do Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal (B.P.D.P)
que está sempre limpando a barra de desafortunados homens, mulheres e crianças
que caem nas garras de seres míticos, místicos ou nazistas. Segundo seu
criador, o genial desenhista e roteirista de histórias em quadrinhos Mike
Mignola, o colossal Hellboy, ainda criança,
saindo das profundas do Inferno, chegou ao mundo dos homens, mais precisamente
nas ruínas de uma capela nas Ilhas Britânicas, em 23.12.1944, invocado por
Rasputin, para servir a Alemanha Nazista (embora o bruxo tivesse planos muito
mais sinistros para ele). O projeto dos nazistas foi frustrado pela força militar
especial americana, tendo à frente o Professor
Trevor Bruttenholm, que criou o bebê infernal como se fosse um humano e o
treinou arduamente para combater as forças malignas. Com o passar do tempo,
descobriu-se que o Homem-Diabo tinha
uma origem bem mais pomposa, ainda que, pelas circunstâncias, tenha vindo do
Inferno: descendia do lendário Rei Arthur...
O personagem Hellboy
estreou nas páginas de San Diego
Comic-Com 2 (revista-brinde distribuída na Convenção de Quadrinhos de San Diego
em 1993). De lá pra cá deu o ar da força e da graça irônica em dezenas de
revistas, dois ótimos filmes dirigidos por Guilherme del Toro (Hellboy, 2004 e Hellboy II: O Exército Dourado, 2008), com Ron Perlman, na pele do
Herói, e duas curiosas animações (Espada
das Tempestades, dirigido por Phil Weinstein, e Sangue e Ferro, dirigido por Victor Cook) de 2006. Bem, dez anos
depois do segundo filme de del Toro, em vez de um terceiro, para fechar a trilogia,
um recomeço: Hellboy..., agora com Neil Marshall (Dog Soldier, The Descent,
Centurion, Doomsday) dirigindo o roteiro de Andrew Cosby e Mike Mignola.
Em relação às aventuras cinematográficas anteriores,
contada com imaginação e liberdade cronológica, Hellboy (Hellboy, 2019)
avança um bocado na biografia do Herói, o que deve desnortear (?) algum
espectador que desconheça a saga e os antepassados de Hellboy (David Harbour),
agora às voltas com a vingativa Nimue
(Milla Jovovich), a Rainha de Sangue. A poderosa bruxa, que foi
discípula de Merlin, o traiu e foi
despedaçada pelo Rei Arthur, sabe
exatamente quem deve procurar, trocentos anos depois de virar picadinho, para
concluir a sua vingança contra os ingleses (claro!). Por um lado, Hellboy pode contar com a ajuda da
médium Alice Monaghan (Sasha Lane) e do Major Ben Daimio (Daniel Dae
Kim). Por outro, Nimue não
dispensa a colaboração do não menos vingativo Homem-Porco Javali Gruagach e todo tipo de morto-vivo
ou vivo-morto disponível. Apocalipse à vista e no menor prazo...
Inspirada principalmente nas HQs O Clamor das Trevas (2007/2008),
A Caçada Selvagem (2008/2009), Tormenta
(2010) e Fúria (2011), com uma
folheada em No México (2010), toda a
inventividade surreal de Mike Mignola está em cena. Todos os elementos de
mistérios, terror gótico e fantasia, presentes nas revistas, estão em cena. No
entanto, a impressão é a de que o roteiro foi escrito mais para uma HQ (parada)
do que para um filme (ágil)..., já que a narrativa claudica um bocado, até
mesmo quando a ação parece insana.
Para uma história não recomendada a menores de 18
anos, acontece praticamente nada que justifique a censura. Não provoca medo
algum (com seu terror juvenil!), não provoca riso algum (com suas piadas
juvenis!). Para ser sincero, no máximo se ri é do ridículo de alguma cena
criada para ser engraçada, mas que acaba idiota demais até pra um sorriso
amarelo. Mesmo as repugnantes sequências gore, no final, parecem mais um adendo
gratuito de última hora, que, assim como as personagens Alice e Daimio,
acrescenta pouco a um enredo que, infelizmente, não consegue enredar totalmente
o espectador fã e ou espectador mais exigente.
Enfim, considerando que Hellboy tem ao menos duas sequências espetaculares (Esteban, no México, e Baba Yaga, na Inglaterra), ainda que mal
costuradas num roteiro bom, mas perdido na encruzilhada narrativa; que Marshall
tem ideias curiosas, mas não sabe a que amuletos recorrer e ou descartar para
dar substância à história mirabolante; que o elenco não vai além da razoabilidade
de seus personagens; que a trilha ensurdecedora tem uns flashes de rock
bacaninhas; que a qualidade (?) do CGI (de game) é mais que discutível (?); que
de tão excessiva (e gratuita) a violência acaba não surtindo efeito; que de tão
bobo o humor (com suas gags toscas) acaba não provocando gargalhadas...,
mesmo assim, creio que o filme do Detetive
do Sobrenatural Hellboy pode agradar a um filão de espectadores que não
está nem aí pra fidelidade dos quadrinhos ou algo mais grandioso, quando se
quer apenas passar o tempo degustando pipoca, dando uns goles no refrigerante, tirando
uma soneca, sem se preocupar com os demônios do dia a dia... Bem, pode até ser
que no futuro ele vire um cult trash!
Nota: Acho
que qualquer semelhança entre O
Menino Que Queria Ser Rei (2019), de Joe Cornish, e Hellboy, de Neil Marshall, deve ser
mera coincidência...
*Joba Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em
35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder,
2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
Este filme não faz meu gênero ,mas depois de muitas idas e vindas ,gostei .é muito interessante .Valeu a pena .
ResponderExcluir..., olá, Marina, que bom que gostou. ..., não foi uma sessão perdida. ..., como eu disse, o filme pode encontrar o seu público. ..., ah, se puder, veja as animações, principalmente a emocionante Sangue e Ferro. ..., você encontra pela web. ..., grande abraço. T+
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