Bohemian Rhapsody
por Joba Tridente
Depois de tanto ruído no set: acusações, demissões e (in)definição
de conteúdo, finalmente chega aos cinemas a deliciosa cinebiografia Bhoemian Rhapsody, uma fascinante celebração da arte musical do
afinadíssimo Freddie Mercury (1946-1991) e da harmoniosa banda de rock inglesa Queen
(1970-1991 - clássica), formada por ele (vocal e piano), Brian May (guitarra e
vocal), Roger Taylor (bateria e vocal) e John Deacon (baixo).
Baseada no roteiro de Anthony McCarten (O Destino de Uma Nação) e com excelente
direção iniciada por Bryan Singer e
finalizada (não creditada) por Dexter
Fletcher, a cinebiografia é um recorte preciso na trajetória do músico e do
quarteto. Com foco maior à sua magna estrela Freddie Mercury, a saga vai de 1970 - quando Freddie (Rami Malek, que
substituiu Sacha Baron Cohen), Brian May
(Gwilym Lee), Roger Taylor (Ben Hardy)
e John Deacon (Joseph Mazzello) criam a poderosa Queen - a 1985 - quando a banda faz a sua memorável apresentação no
evento beneficente Live Aid (13.07.1985), organizado por Bob Geldof..., passando pelo apoteótico show no Rock in Rio (11.01.1985).
Embora circule com liberdade pela vida pessoal de Mercury, vale ressaltar que o enredo
nada invasivo de Bhoemian Rhapsody apenas tangencia a sua origem parsi zoroastriano,
o racismo, a sexualidade (reprimida), o amor real de toda a vida: Mary Austin (Lucy Boynton) e o amor de ocasião: Paul Prenter (Allen Leech),
o sucesso, a droga a solidão... Ou seja, para felicidade dos fãs, em vez de se
perder no labirinto de especulações escandalosas relacionadas ao mítico cantor
e compositor, a narrativa ágil se ocupa mais em desvelar a essência musical do
artista e da banda e o seu relacionamento com produtores acostumados com o
padrão e não com a ousadia. E sem deixar de brindar o público com cenas do
curioso e divertido processo de criação de seus maiores sucessos..., o que vai preparando
o espectador para a emocionante catarse final (aguenta coração!): a antológica
apresentação no Live Aid, vinte e poucos minutos que valem pelo filme inteiro (que deve ser visto numa
sala com equipamento de som e de imagem de qualidade, tipo IMAX). O
espectador interessado apenas em fofocas maldosas, escândalos e intimidades
explícitas de Mercury, certamente vai
quebrar a cara, pois é o que menos importa e (felizmente!) o que menos se vê na
maior parte da ótima trama, que não dispensa o humor, quando necessário.
Enfim, considerando a excelente performance do
elenco, com destaque para Rami Malek, que aos poucos vai incorporando Freddie
Mercury com perfeição e impressionante sincronia vocal e física; louvando a
escolha das músicas para a trilha sonora de qualidade e condenando a legendagem
brasileira que, excetuando musicais comprovados, não traduz canções-diálogos
e ou canções de extrema importância no contexto, como se fosse um crime
legendá-las e ou como se no Brasil a língua oficial fosse a inglesa e não a brasileira
(por distração, o recente Nasce
Uma Estrela teve suas canções traduzidas); lembrando que não se nota turbulência alguma na troca de diretores e
nem na eficiente reconstituição de época..., ainda que Bhoemian Rhapsody, com suas licenças poéticas e atropelos de datas,
em busca de maior relevo dramático, (talvez) incomode algum cinéfilo ou fã mais
purista ou meticuloso, a cinebiografia é um excelente espetáculo musical e
visual. Um programa da melhor qualidade para se assistir em dias iluminados e principalmente
para se rever nos dias cinzentos que camuflam a intolerância e o ódio no Brasil
e no mundo... Que (sobre)viva a Arte em todos nós, agora e sempre!
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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