quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Crítica: Podres de Ricos


Podres de Ricos
por Joba Tridente

Todo cinéfilo e ou mero espectador sabe que, entre o original e o improvisado, Hollywood prefere colocar um ator/atriz branco(a) americano(a) colorizado(a) para representar a etnia que for. Mas, a prática (xenofóbica?), que já foi mais crucial, parece que aos poucos está mudando, ainda que lentamente, principalmente no que tange a elencos asiáticos. Talvez de olho no mercado chinês e ou na “descoberta” de um grande filão sino-americano nos EUA. Independente do rumo dos ventos, no entanto, há que se saudar a chegada aos cinemas da deliciosa comédia romântica Podres de Ricos (Crazy Rich Asians, EUA, 2018), dirigida pelo taiwanês-americano Jon M. Chu, cujo elenco é majoritariamente asiático. Algo que não se via desde o belíssimo O Clube da Felicidade e da Sorte (The Joy Luck Club, 1993), dirigido por Wayne Wang.


Adaptado do romance homônimo de Kevin Kwan, pelos roteiristas Peter Chiarelli e Adele Lim, a trama acompanha os percalços do apaixonado casal formado pela chinesa Rachel Chu (Constance Wu) e pelo singapuriano Nick Young (Henry Golding), para provar a força do seu amor, quando da estada em Singapura para o casamento de Colin Khoo (Chris Pang), amigo de infância de Nick. Ela é professora de economia em Nova York e ele se prepara (sem muito entusiasmo) para um dia assumir os negócios bilionários da família em Singapura..., fato que Rachel só vai descobrir e sentir o peso da responsabilidade quando pisar em terra asiática e se ver aprisionada em um círculo de fofocas e preconceitos coordenado por “amigas” invejosas e por familiares de Nick. O empecilho maior virá da tradicional Eleanor Youg (Michelle Yeoh), mãe de Nick, que não tem a menor intenção de abrir mão do seu filho para uma sino-americana (amarela por fora e branca por dentro) sem nome de família. Nesta vida célere, o que vale mais, o amor ou o dinheiro? A herança cultural e social ou o caráter?


Para “conhecer” a resposta, só assistindo a esta envolvente comédia de costumes que desvela um mundo abastado além da ficção e do bolso dos meros mortais. O argumento deste conto de fadas contemporâneo, evidentemente, não é novo, já o vimos em outras produções norte-americanas e sabemos de antemão que o belo casal há de ficar junto no final. Ôps, spoiler? Que nada! Aqui, o que realmente interessa e mantém os nossos olhos grudados no opulento cenário, por onde desfila todo tipo de ostentação, de questionamento socioeconômico e de pequenos dramas familiares, é como serão trançados os fios dourados da meada tradicional (singapuriana) e onde serão amarrados os inesperados fios vulgares (americanos), que nem sempre podem ser cortados, para se criar um novo tecido.
  

Encabeçado por um elenco excelente, incluindo o de apoio, instigantes cenários (o que é aquele casamento, minha gente?!), gags divertidas, pitadas de ironia (ao luxo, à grife, ao brega), alguns diálogos ferinos e em especial uma sequência fascinante, onde as relações familiares e econômicas são avaliadas num complexo jogo de Mahjong, o filme Podres de Ricos jamais parece datado ou antiquado em sua trama. O seu enredo singelo pode não ser nenhuma obra-prima e sequer busca descobrir um novo caminho (comercial?) para a Ásia, mas, para uma produção norte-americana voltada, principalmente, para os asiáticos estadunidenses, cumpre perfeitamente a função de bem entreter e até de cativar o público de outros países.

Enfim, por não assistir a qualquer trailer antes de assistir a qualquer filme, e, portanto, não ter a menor ideia da trama, gostei. Ri um bocado com a desbocada Peik Lin (Awkwafina) e aprendi (superficialmente, afinal isto é cinema e não aula de história) sobre alguns costumes asiáticos..., talvez já nem tão regionais nesta grande aldeia (digital) global onde (ainda) não é fácil assimilar a cultura alheia. A diversão é garantida. Às vezes elegante e às vezes brega, mas nada preconceituosa!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...