quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Crítica: Chacrinha: O Velho Guerreiro



Chacrinha: O Velho Guerreiro
por Joba Tridente

Praticamente uma década após o documentário Alô, Alô, Terezinha (2009), de Nelson Hoineff, e trinta anos da sua morte, o indefectível comunicador Abelardo “Chacrinha” Barbosa (1917-1988), é “novamente” tema de filme em Chacrinha: O Velho Guerreiro, dirigido por Andrucha Waddington.


A trama, que se pretende um leque de cores a uma paleta básica, é urdida em duas fases (digamos!) distintas. Na primeira, a apresentação e a ascensão de Abelardo Barbosa (Eduardo Sterblitch), que desembarca no Rio de Janeiro em 1939, quando a viagem para a Alemanha, a bordo do navio Bagé, onde trabalhava como “baterista” do Bando Acadêmico, é interrompida por causa da Segunda Guerra Mundial. Na então capital federal, de bico em bico, ele vira locutor da Radio Tupi e depois da Radio Fluminense, que ficava numa chácara e onde criou o animado programa Rei Momo na Chacrinha (daí que vem o “Chacrinha”). Com o sucesso do programa, feito em estúdio, passou para o auditório com Cassino do Chacrinha. A segunda fase, já como Chacrinha (Stepan Nercessian), aquele que veio pra confundir e não para explicar, o espectador acompanha os altos e baixos da sua carreira alucinada na televisão.


Em cena, o Velho Guerreiro, que estreou na TV Tupi (Rancho Alegre e Discoteca do Chacrinha), em 1956, foi pra TV Rio e depois pra Globo (Buzina do Chacrinha e Discoteca do Chacrinha), de lá voltou pra Tupi, passou pela TV Bandeirantes e retornou à Globo, onde apresentou o Cassino do Chacrinha (1982 a 1988), parece estar com tudo e não estar prosa. Porém, como em toda via biográfica rápida, a se acreditar no foco que aleatoriamente jorra luz (sem manter a luminosidade) onde bem entende, ou provoca curto-circuito ora num palco (rádio/tv) e ora noutro (casa/família), o fardo de melancolia do palhaço de auditório (com intrigas, fofocas de bastidores, denúncias graves e críticas pipocando de todo lado) era tão pesado que faz supor que o preço do seu sucesso era quase insuportável. Aparentemente, a sua única alegria era ser o centro das atenções em meio àquela bagunça generalizada diante das câmeras de tv e do seu público fiel. Ou seria esta impressão também falsa?


Enfim, com direção claudicante de Andrucha Waddington e roteiro frágil de Claudio Paiva, Julia Spadaccini e Carla Faour, Chacrinha: O Velho Guerreiro, oriundo do morno espetáculo teatral festivo Chacrinha - O Musical (difícil acreditar que tenha orçamento de 12 milhões de reais), também dirigido por Andrucha, à primeira vista é agradável e até divertido, com seu humor grosseiro ou nonsense (bem menos baixaria que o humor do musical). Mas, após a sessão, quando a gente começa a pensar e a discutir sobre o que viu, quando a ficha cai realmente, cada tilintar da moeda dá a impressão de que se assistiu tão somente a uma venerada hagiografia travestida de cinebiografia..., onde há muito barulho por nada. Ou muito paetê pra um palco onde a lamúria é bem maior que a felicidade. Tamanha é a mordida em fatos (?) e fofocas (?) por uma boca pequena demais para mastigar o imbróglio sagrado.


Chacrinha: O Velho Guerreiro traz, para degustação da massa, um personagem folclórico e controverso, um fenômeno da televisão brasileira, um tropicalista antropofágico que é ainda é matéria de estudo e discussão. Persona riquíssima, mas cuja narrativa rasa, com mais questionamentos (discutíveis) que respostas às revelações (?) sensacionalistas, parece disposta a enaltecer a coragem do polêmico apresentador apenas para desculpar as suas falhas (?) técnicas, ou de caráter. Se assim é o que se vê, que cada espectador aprecie o que de melhor lhe convier, da ótima reconstituição de época às performances sensacionais de Eduardo Sterblitch e de Stepan Nercessian.

Com a rica matéria-prima à disposição, fosse menos preguiçoso o seu enredo, Chacrinha: O Velho Guerreiro (que deve virar minissérie no canal que o produziu) poderia emparelhar com o excelente Bingo: O Rei das Manhãs (2017), de Daniel Rezende. Mas, ainda assim, é um melodrama padronizado que dá pro gasto!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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