Chacrinha:
O Velho Guerreiro
por Joba Tridente
Praticamente uma década após o documentário Alô,
Alô, Terezinha (2009), de Nelson
Hoineff, e trinta anos da sua morte, o indefectível comunicador Abelardo “Chacrinha”
Barbosa (1917-1988), é “novamente” tema de filme em Chacrinha: O Velho Guerreiro, dirigido por Andrucha
Waddington.
A trama, que se pretende um leque de cores a uma
paleta básica, é urdida em duas fases (digamos!) distintas. Na primeira, a
apresentação e a ascensão de Abelardo
Barbosa (Eduardo Sterblitch),
que desembarca no Rio de Janeiro em 1939, quando a viagem para a Alemanha, a
bordo do navio Bagé, onde trabalhava como “baterista” do Bando Acadêmico, é
interrompida por causa da Segunda Guerra Mundial. Na então capital federal, de
bico em bico, ele vira locutor da Radio Tupi e depois da Radio Fluminense, que
ficava numa chácara e onde criou o animado programa Rei Momo na Chacrinha (daí que vem o “Chacrinha”). Com o sucesso do programa, feito em estúdio, passou
para o auditório com Cassino do Chacrinha.
A segunda fase, já como Chacrinha (Stepan Nercessian), aquele que veio pra
confundir e não para explicar, o espectador acompanha os altos e baixos da sua
carreira alucinada na televisão.
Em cena, o Velho
Guerreiro, que estreou na TV Tupi (Rancho
Alegre e Discoteca do Chacrinha),
em 1956, foi pra TV Rio e depois pra Globo (Buzina
do Chacrinha e Discoteca do Chacrinha),
de lá voltou pra Tupi, passou pela TV Bandeirantes e retornou à Globo, onde
apresentou o Cassino do Chacrinha (1982
a 1988), parece estar com tudo e não estar prosa. Porém, como em toda via
biográfica rápida, a se acreditar no foco que aleatoriamente jorra luz (sem
manter a luminosidade) onde bem entende, ou provoca curto-circuito ora num
palco (rádio/tv) e ora noutro (casa/família), o fardo de melancolia do palhaço de
auditório (com intrigas, fofocas de bastidores, denúncias graves e críticas
pipocando de todo lado) era tão pesado que faz supor que o preço do seu sucesso
era quase insuportável. Aparentemente, a sua única alegria era ser o centro das
atenções em meio àquela bagunça generalizada diante das câmeras de tv e do seu
público fiel. Ou seria esta impressão também falsa?
Enfim, com
direção claudicante de Andrucha Waddington e roteiro frágil de Claudio
Paiva, Julia Spadaccini e Carla Faour, Chacrinha: O Velho Guerreiro, oriundo do morno espetáculo teatral festivo Chacrinha - O Musical (difícil acreditar
que tenha orçamento de 12 milhões de reais), também dirigido por Andrucha, à
primeira vista é agradável e até divertido, com seu humor grosseiro ou nonsense
(bem menos baixaria que o humor do musical). Mas, após a sessão, quando a gente começa
a pensar e a discutir sobre o que viu, quando a ficha cai realmente, cada
tilintar da moeda dá a impressão de que se assistiu tão somente a uma venerada
hagiografia travestida de cinebiografia..., onde há muito barulho por nada. Ou
muito paetê pra um palco onde a lamúria é bem maior que a felicidade. Tamanha é a
mordida em fatos (?) e fofocas (?) por uma boca pequena demais para mastigar o
imbróglio sagrado.
Chacrinha: O Velho Guerreiro traz,
para degustação da massa, um personagem folclórico e controverso, um fenômeno
da televisão brasileira, um tropicalista antropofágico que é ainda é matéria de
estudo e discussão. Persona riquíssima, mas cuja narrativa rasa, com mais
questionamentos (discutíveis) que respostas às revelações (?) sensacionalistas,
parece disposta a enaltecer a coragem do polêmico apresentador apenas para desculpar as
suas falhas (?) técnicas, ou de caráter. Se assim é o que se vê, que cada
espectador aprecie o que de melhor lhe convier, da ótima reconstituição de
época às performances sensacionais de Eduardo Sterblitch e de Stepan
Nercessian.
Com a rica matéria-prima à disposição, fosse menos
preguiçoso o seu enredo, Chacrinha: O Velho Guerreiro (que deve virar minissérie no canal
que o produziu) poderia emparelhar com o excelente Bingo: O Rei das Manhãs (2017), de Daniel Rezende. Mas, ainda assim, é um melodrama padronizado
que dá pro gasto!
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário