Gnomeu e Julieta: O Mistério do
Jardim
por Joba Tridente*
Sete
anos após a criativa releitura musicada de Romeu
e Julieta, de William Shakespeare, na animação britânica (com fortes elementos
teatrais) Gnomeu e Julieta, o
romântico casal de gnomos de jardim, está de volta para mais uma empolgante
história. Desta vez, pegando carona nas páginas literárias do misterioso mundo de
Sir Arthur Conan Doyle, a dupla se junta aos agentes Sherlok e Watson, para
resolver o estranho sumiço de gnomos dos jardins de Londres.
Repleta
de ação e aventura, a animação Gnomeu e
Julieta: O Mistério do Jardim (Sherlock
Gnomes, 2018), com bom roteiro de Ben
Zazove e direção cuidadosa de John
Stevenson (Kung Fu Panda, 2008),
começa com uma estratégica mudança de cenário: sai a bucólica Stratford-Upon-Avon
(terra natal de Shakespeare) e entra a urbana Londres, onde os recém-chegados Gnomeu (James McAvoy) e Julieta (Emily Blunt), juntam-se ao arrogante e
egocêntrico adorno de jardim Sherlock Gnomes
(Johnny Depp) e seu subestimado
parceiro Dr. Watson (Chiwetel Ejiofor), para encontrar a sua
família que, assim como os gnomos dos jardins da capital inglesa, desapareceu
sem deixar rasto. Bom, na verdade, o sequestrador até que tem deixado pistas por
onde passa, sugerindo que o autor dos crimes é o malvado Moriarty (Jamie Demetriou),
o mascote de uma doceria e arqui-inimigo de Gnomes.
O problema é que Moriarty morreu no
último confronto com Sherlock. Então,
quem está sequestrando e se fazendo passar pelo vilão? Qual o destino dos
gnomos sequestrados? Será que o famoso Sherlok
Gnomes, com seu incomparável espírito analítico, conseguirá resolver mais
esta caso? É ver pra crer.
Fazendo
referências a várias histórias de Conan Doyle para Sherlock Holmes, incluindo O
Cão dos Baskervilles e o polêmico O
Problema Final, o desenho animado, que faz bom uso de elipses, para dar
mais agilidade à envolvente trama, também apresenta uma insinuante versão “Barbie” da única mulher a vencer o
genial Sherlock (nos livros): a admirável
Irene Adler (Mary J. Blige)..., numa sequência fascinante em que ela brinda o
espectador com Stronger Than Ever, a
nova composição de Elton John e Bernie Taupin. Há, pelo menos, mais umas duas outras sequências muito boas,
mas perde a graça, se eu citar.
Assim
como no filme anterior, o requinte no detalhamento e na textura dos gnomos (com
todo tipo de avaria) dá uma veracidade ainda maior na composição irretocável de cada expressivo
personagem. E falando de excelência técnica e CGI, o que também chama muito a
atenção são os impressionantes flashes (em 2D) que ilustram as lembranças (em preto
e branco) de Sherlok e (em cores) de Moriarty ao desvelar o raciocínio
investigativo de um e o plano maléfico do outro. Enquanto a mente de Gnomes se aproxima da meticulosidade
estética de M.C. Escher (1898-1972), a de Moriarty
não vai além de uns rabiscos.
Não
resta a menor dúvida de que, ao investir na releitura de obras literárias de grandes
escritores universais, estes adoráveis personagens (com suas idiossincrasias
humanas) têm potencial para maravilhar espectadores de diferentes fixas etárias
e mesmo despertar-lhes o interesse pela literatura. Vejo estes graciosos gnomos
e adornos de jardim, cheios de personalidade, como uma trupe de atores pronta para
representar textos dos mais diversos autores nos mais diferentes cenários. Eles
se saíram muito bem com William Shakespeare e com Conan Doyle. É uma ideia
original que, em mãos certas (de roteiristas e diretores), sempre resultará num
divertido espetáculo para toda a família..., desde que esta não esteja preocupada com lição de moral
e ou se algum dos gnomos será quebrado durante o espetáculo.
Enfim,
considerando a história infantojuvenil de ação e suspense e alguma ousadia na
linguagem visual (e entrelinhas) muito bem costurada; as reviravoltas
convincentes; a narrativa inteligente que prioriza mais o conteúdo que o humor
fácil, já que é engraçada, mas não chega a ser hilária; o elenco de ponta que
dá voz aos gnomos e adornos de jardim; a seleção musical do produtor (da
animação), compositor e cantor Elton John, que não incomoda; a qualidade do
roteiro de Ben Zazove e a notável direção de John Stevenson..., Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim,
que é uma produção britânico-americana, tem tudo para deixar o seu público alvo
(pensante) ligadíssimo e, consequentemente deve agradar também aos
acompanhantes (pensantes) da garotada.
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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