Deadpool 2
por Joba Tridente
No
campo das artes, o sucesso por ser imprevisível. Nem sempre as grandes apostas
acompanham as grandes promessas. Se na área da música o fardo é pesado, no
cinema pode até encerrar carreiras de estrelas prodígios. Na era do
bigue-bangue hollywoodiano que catapultou o Universo Marvel para além das
revistas de histórias em quadrinhos e vem desvelando galáxias para que também o
Universo DC tenha oxigênio para os seus balõezinhos um tanto sombrios, a vida
de herói e ou anti-herói na telona nem sempre é garantia de perenidade quanto
aquela das páginas de um gibi. Também porque não tem a menor ideia de que
recorte da sua vida irá viver na cinebiografia.
Às
vezes, de onde menos se espera, aparecem algumas pérolas: Guardiões
da Galáxia, Mulher Maravilha, Pantera Negra, Homem-Formiga,
por exemplo. De outras, onde mais se aposta: Esquadrão
Suicida, O
Homem de Aço, Batman
vs Superman: A Origem da Justiça, por exemplo, vem o pedregulho. Roteiro,
direção, carisma de personagens e atores, tudo influi, tudo flui para o sucesso
e ou para o fracasso no giro da roleta nas mãos do espectador juvenil (que
gosta de qualquer coisa em movimento) e ou do espectador adulto um pouco mais exigente
na diversão.
Dois
anos depois de estourar a boca do balão com Deadpool, o desbocado, safado e irônico Wade Wilson/Deadpool (Ryan Reynolds), o metalinguístico personagem
dos quadrinhos Marvel, está de volta às telonas com Deadpool 2 (Deadpool 2, 2018) com a mesma
irreverência para enfrentar Cable (Josh Brolin) um soldado do futuro que
viaja no tempo para exterminar Russell/Firefist
(Julian Dennison), um adolescente poderoso
e descontente com o tratamento que recebe do rígido diretor (Eddie Marsan) do reformatório para jovens
mutantes Broadstone House. Para enfrentar
este caçador implacável, Deadpool vai
criar o seu próprio grupo de heróis, o X-Force,
que conta, entre outros pretendentes ao ofício, com a ágil sortuda Domino (Zazie Beets). Também retornam para abrilhantar este fumegante
capítulo: Vanessa (Morena Baccarin), a namorada de Wade Wilson;
o taxista Dopinter (Karan Soni); o barman Weasel (TJ Miller) e os mutantes “X”: Colossus (voz de Stefan
Kapicic) e Negasi Teenage Warhead
(Brianna Hildebrand).
Ao
dizer que Deadpool 2 é um filme família, Deadpool não está necessariamente falseando
a verdade, fazendo um chiste, porque, do seu conturbado ponto de vista e sem
levar em conta a sua atividade de risco, ele está bem mexido com a ideia de um
lar pra chamar de seu e até mesmo sonha com filhos. Toda via da violência e
pancadaria, no entanto, para um mercenário (ainda que imortal) com a sua folha
corrida, a lua de mel com o amor da sua vida pode se
tornar uma lua de fel. Tudo é uma questão de trabalho e ou de tempo.
Quem
assistiu ao filme anterior (fã ou não do anti-herói) e sabe do potencial do
personagem e de suas incômodas idiossincrasias não vai se preocupar ou se
horrorizar com seus atos insanos, já que o tresloucado Deadpool continua cumprindo à risca a sua sina de não dar trégua a
bandido. Já o espectador de primeiro contato pode se incomodar um pouco com
alguma cena ou diálogo..., mas nada que o faça sair da sala. Pois, passado o “susto”
diante de situações esdrúxulas e sanguinolentas (exaustivamente exploradas em games,
em filmes de heróis e em telejornais), vai se divertir e rir um bocado dessa
paródia que, se forçar comparação, é bem mais “leve” que a anterior.
Deadpool 2 mantém ligada a chave de impropérios
do personagem, quase que do princípio ao fim. Estão lá (a cada cena) as tiradas
espirituosas e ou sacanas, as citações de filmes como Yentl (1983) e Instinto
Assassino (1992), por exemplo, que a maioria do público jovem deve desconhecer,
e de obras mais recentes (que não vou citar por conta de spoiler), a azaração
com os personagens da DC e da própria Marvel. Quando ao humor, há piadas e gags
para todos os gostos, apelos e compreensão, por isso alguma coisa é capaz de
passar batida e ou não terá a menor graça..., principalmente aquelas de humor
negro (que nem todo mundo entende). A mim, toda a sequência de formação e
ataque da X-Force é sensacional, com
destaque para o antológico salto de paraquedas da equipe, principalmente por
causa de um detalhe genial (nada de spoiler!).
Bem, também tem a inimaginável e hilária sequência de crescimento de partes
faltantes de Deadpool..., só vendo
pra crer!
Enfim,
pra variar, não dá pra falar muito de Deadpool
2, sem cometer spoiler. Portanto...,
considerando a eficiência do roteiro (sem enrolação) de Rhett Reese, Paul
Wernick e Ryan Reynolds; a excelente direção e ótima coreografia de luta de David Leitch; o notável desempenho do
elenco, com Reynolds arrasando novamente, na boa companhia de Brolin e Beets
(que rouba um bocado de cenas)..., a nova aventura do falastrão Deadpool, embora tenha um certo ar de
melancolia e um “discurso” até catártico sobre a morte e ou o morrer (nada que aborreça
o espectador), é diversão certa para quem já se acostumou com esse universo de heróis
de HQ em cenas desenfreadas (ôps!) de ação gore-alucinante. Não fica nada a
dever ao filme original.
Ah,
tem duas cenas durante os créditos finais. Segundo informações na Wikipedia, é
improvável um Deadpool 3, já que a
intenção da Disney/Marvel é investir em X-Force.
Mas, sabe como é, nesse mundo onde a bilheteria é o fiel da balança dos
produtores...
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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