A Noite do Jogo
por Joba Tridente
O
cinema é feito de grandes e pequenos prazeres..., e também de prazer nenhum. E nem
sempre é questão de estado de espírito durante a sessão. Tem mesmo a ver com
argumento, roteiro, elenco e direção, que somente em mãos certas são eficazes. Como é o caso da sensacional comédia A Noite do Jogo (Game Night, 2018).
A Noite do Jogo é uma deliciosa surpresa de qualidade cada vez mais rara no
entretenimento humorístico hollywoodiano. A comédia adulta e excêntrica, protagonizada
por um elenco notável, ótimo roteiro de Mark Perez e brilhante direção da dupla
John Francis Daley e Jonathan Goldstein, gira ao redor de
um grupo de amigos que semanalmente se encontra para se divertir com jogos de
tabuleiro e também comer salgadinhos, bebericar e jogar conversa fora.
No
entanto, a noitada tranquila..., que sempre acontece na casa do romântico casal
Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams), para onde se dirigem Kevin (Lamorne Morris) e Michelle
(Kylie Bunbury), também casados, e o
tolo Ryan (Billy Magnussen) com suas namoradas, ocasião em que o estranho
vizinho policial Gary (Jesse Plemons) é propositadamente
esquecido..., está prestes a mudar, com a chegada de Brooks (Kyle Chandler), o
irmão mais bonito, mais empreendedor e mais bem sucedido de Max, propondo um jogo inédito valendo o
seu belo Corvette Stingray. A proposta de Brook
é simular o sequestro de um dos participantes, deixando pistas pela casa. Porém,
assim que ele acontece, a confusão está armada, já que nem tudo é o que parece,
tanto para os personagens quanto para o espectador, nessa trama inteligente e
hilária envolvendo máfia, bandidos, policiais, atores e pessoas comuns se
divertindo em busca de um prêmio. (Não assista ao trailer!!!)
É bom lembrar que, com
sua bem dosada mistura de comédia de erros com thriller, excelente ritmo e ação
alucinada (na maior parte) pastelão, A Noite
do Jogo tem nada a ver com o também divertido Jumanji: Bem-vindo à selva e ou o enfadonho Jogador nº.1. A sua plataforma é de outro nível.
A sua pegada é mais adulta e bem mais ousada, ao brincar de brincar com a
metalinguagem cinematográfica, fazendo inesquecíveis citações de atores, personagens e cenas de filmes de ação e
violência. E mais, além de não subestimar a inteligência do espectador, a sua trama perspicaz consegue a proeza de iludir o público (sobre o que é real ou falso) até o final da narrativa. (Não assista ao trailer!!!)
Despretensiosa e instigante, A Noite do Jogo, com suas histórias entranhadas umas nas outras, é uma comédia de erros que funciona não apenas pela engenhosidade do roteiro, mas por envolver prazerosamente o espectador em uma trama irretocável.., até mesmo a cenografia é um trunfo. Fazia
um bom tempo que eu não ria tanto. O seu humor é genuíno e para todos os gostos: humor
negro, humor bobo, humor chulo, humor pastelão, gags visuais geniais..., com sequências
antológicas (de chorar de rir), como a da extração de uma bala. (Não assista ao trailer!!!)
Enfim,
quanto menos você souber do surpreendente enredo, maior a será a sua satisfação e muito mais intensa a sua imersão nessa história maluca e cheia de reviravoltas até a sequência
final que acompanha os créditos. O elenco, que inclui Sharon Horgan, na pele de Sarah, a acompanhante da vez de Ryan, está afinadíssimo e pra lá de descontraído.
Cada ator/personagem tem o seu tempo de brilho na tela, mas quem rouba todas as cenas é
Jesse Plemons. Se gosta de uma comédia astuciosa e realmente engraçada, não perca. Ah, e o mais importante: Não assista ao trailer!!!
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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