Lady Bird: A Hora de
Voar
por Joba
Tridente*
A impressão de se assistir a um filme norte-americano
sobre adolescentes é a de que (com variação mínima) se você viu um já viu todos,
pois o perfil dos personagens (estudantes do ensino médio) é padrão: brancos
classe média (que têm por amigos o gordo, o gay, o negro e, mais recentemente o
latino e o asiático) e brancos ricos (que têm amigos brancos, magros ou
atléticos)..., e na motivação dos seus confrontos banais: o ciúme, a inveja, o esporte,
as provas escolares, o romance, o oportunismo, a vagabundagem. Independente da
classe baixa ou alta, em geral, os jovens são muito tolos. Ah, e não faltam
sonhos realizados mais por sorte do que por mérito etc. É tão padrão que você
sabe como tudo termina antes mesmo de começar a assistir. É o tipo de
entretenimento “cômico” juvenil que não exige raciocínio algum do espectador e
pode ser degustado imerso no maior combo do mundo e até mesmo viajando nas
redes sociais com celular de última degeneração, digo, geração. Cinco minutos
depois da sessão, você nem se lembra mais o quanto pagou pelo passatempo.
Assim, é difícil crer que um filme tão insosso e óbvio como Lady Bird: A Hora de Voar, que sai de lugar algum para lugar nenhum, tenha caído, feito cereja caramelizada, nas graças cristalizadas da crítica estadunidense como se a maior novidade do século. Escrito e dirigido pela mais nova queridinha da América, Greta Gerwig, o melodrama inspirado em algum momento estudantil da autora, em sua cidade natal, Sacramento, fala das agruras de Christine “Lady Bird” McPherson (Saoirse Ronan), uma jovem, de 17 anos, que cursa o último ano do ensino médio, no colégio católico Imaculada Conceição, em Sacramento, e não vê a hora de sumir daquele cidade provinciana que ela odeia.
Ao contrário da Dorothy
(Judy Garland), que em O Mágico de Oz
(1939), disse não haver lugar melhor que o seu lar (no Kansas), Lady Bird acha que qualquer lugar, desde
que Nova York, Connecticut ou New Hampshire, é melhor
que Sacramento (na Califórnia), onde vive com os pais Marion (Laurie Metcalf) e
Larry (Tracy Letts), e o irmão adotivo Miguel
(Jordan Rodrigues) e sua namorada Shelly (Marielle Scott). Apesar dos seus limites intelectuais e dos limites
financeiros da sua família, a teimosa Lady
Bird, que diz ter nascido do lado errado dos trilhos (onde vive a classe
média), e que tem na gordinha Julie (Beanie Feldstein) a sua melhor amiga, sonha
alto, quer estudar na melhor faculdade do país. Bem, ela “é um pássaro” e está disposta
a fazer qualquer coisa para voar dali. Porém, enquanto “suas asas” não crescem
o suficiente, ela vai se “socializando”, com a turma do colégio, e descobrindo com
seus namorados Danny (Lucas Hedges) e o blasé Kyle (Timothée Chalamet) que nem sempre amor tem a ver com sexo (ou
vice-versa).
Aparentemente a proposta do melodrama Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird, 2017), de Greta Gerwig, que
no Brasil recebeu o ridículo subtítulo (A
Hora de Voar), é tratar tanto da rebeldia sem causa quanto da causa do
tédio, entre os jovens estadunidenses (?) que correm atrás de profissões
rendosas e da melhor vitrine social e ou que ficam preguiçosamente à espera da
herança acumulada pelos pais. No entanto, assim como o argumento clichê (garota
em crise familiar e ou estudantil e ou romântica), o roteiro esquemático traz
nada de novo e ou que fira sensibilidades (como bullying), principalmente do
público (alvo) feminino..., deixando a morna narrativa seguir linear e sem
sustos. Daí que, mesmo para um filme juvenil, quando se espera uma tormenta, que
faria jus à transição e amadurecimento da tola Lady
Bird (se ela tivesse realizado sequer a jornada da heroína), o que
se encontra é uma decepcionante calmaria rumo à fonte dos desejos.
Enfim, considerando que a excelente Saoirse Ronan, de
23 anos, não convence na idade de 17, mas se sai bem na pele da confusa Lady Bird, assim como o elenco
coadjuvante em seus devidos papeis rasos; que o requentado filme de adolescente está
mais para melancólico que cômico, já que as “piadas” não têm a menor graça
(para o espectador adulto); que o desenvolvimento dos personagens femininos é razoavelmente "melhor" que o de qualquer personagem masculino; que a direção é primária e que, apesar de uma trama tão lugar comum e um melodrama tão já visto, recebeu cinco indicações ao
Oscar 2018..., Lady Bird: A Hora de Voar
deve encontrar o seu público, talvez bem menos ranzinza que eu... Ai que saudade de John
Hughes (1950-2009).
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida
experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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