quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Crítica: Lady Bird: A Hora de Voar



Lady Bird: A Hora de Voar
por Joba Tridente*

A impressão de se assistir a um filme norte-americano sobre adolescentes é a de que (com variação mínima) se você viu um já viu todos, pois o perfil dos personagens (estudantes do ensino médio) é padrão: brancos classe média (que têm por amigos o gordo, o gay, o negro e, mais recentemente o latino e o asiático) e brancos ricos (que têm amigos brancos, magros ou atléticos)..., e na motivação dos seus confrontos banais: o ciúme, a inveja, o esporte, as provas escolares, o romance, o oportunismo, a vagabundagem. Independente da classe baixa ou alta, em geral, os jovens são muito tolos. Ah, e não faltam sonhos realizados mais por sorte do que por mérito etc. É tão padrão que você sabe como tudo termina antes mesmo de começar a assistir. É o tipo de entretenimento “cômico” juvenil que não exige raciocínio algum do espectador e pode ser degustado imerso no maior combo do mundo e até mesmo viajando nas redes sociais com celular de última degeneração, digo, geração. Cinco minutos depois da sessão, você nem se lembra mais o quanto pagou pelo passatempo.


Assim, é difícil crer que um filme tão insosso e óbvio como Lady Bird: A Hora de Voar, que sai de lugar algum para lugar nenhum, tenha caído, feito cereja caramelizada, nas graças cristalizadas da crítica estadunidense como se a maior novidade do século. Escrito e dirigido pela mais nova queridinha da América, Greta Gerwig, o melodrama inspirado em algum momento estudantil da autora, em sua cidade natal, Sacramento, fala das agruras de Christine “Lady Bird” McPherson (Saoirse Ronan), uma jovem, de 17 anos, que cursa o último ano do ensino médio, no colégio católico Imaculada Conceição, em Sacramento, e não vê a hora de sumir daquele cidade provinciana que ela odeia.


Ao contrário da Dorothy (Judy Garland), que em O Mágico de Oz (1939), disse não haver lugar melhor que o seu lar (no Kansas), Lady Bird acha que qualquer lugar, desde que Nova York, Connecticut ou New Hampshire, é melhor que Sacramento (na Califórnia), onde vive com os pais Marion (Laurie Metcalf) e Larry (Tracy Letts), e o irmão adotivo Miguel (Jordan Rodrigues) e sua namorada Shelly (Marielle Scott). Apesar dos seus limites intelectuais e dos limites financeiros da sua família, a teimosa Lady Bird, que diz ter nascido do lado errado dos trilhos (onde vive a classe média), e que tem na gordinha Julie (Beanie Feldstein) a sua melhor amiga, sonha alto, quer estudar na melhor faculdade do país. Bem, ela “é um pássaro” e está disposta a fazer qualquer coisa para voar dali. Porém, enquanto “suas asas” não crescem o suficiente, ela vai se “socializando”, com a turma do colégio, e descobrindo com seus namorados Danny (Lucas Hedges) e o blasé Kyle (Timothée Chalamet) que nem sempre amor tem a ver com sexo (ou vice-versa).


Aparentemente a proposta do melodrama Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird, 2017), de Greta Gerwig, que no Brasil recebeu o ridículo subtítulo (A Hora de Voar), é tratar tanto da rebeldia sem causa quanto da causa do tédio, entre os jovens estadunidenses (?) que correm atrás de profissões rendosas e da melhor vitrine social e ou que ficam preguiçosamente à espera da herança acumulada pelos pais. No entanto, assim como o argumento clichê (garota em crise familiar e ou estudantil e ou romântica), o roteiro esquemático traz nada de novo e ou que fira sensibilidades (como bullying), principalmente do público (alvo) feminino..., deixando a morna narrativa seguir linear e sem sustos. Daí que, mesmo para um filme juvenil, quando se espera uma tormenta, que faria jus à transição e amadurecimento da tola Lady Bird (se ela tivesse realizado sequer a jornada da heroína), o que se encontra é uma decepcionante calmaria rumo à fonte dos desejos.


Enfim, considerando que a excelente Saoirse Ronan, de 23 anos, não convence na idade de 17, mas se sai bem na pele da confusa Lady Bird, assim como o elenco coadjuvante em seus devidos papeis rasos; que o requentado filme de adolescente está mais para melancólico que cômico, já que as “piadas” não têm a menor graça (para o espectador adulto); que o desenvolvimento dos personagens femininos é razoavelmente "melhor" que o de qualquer personagem masculino; que a direção é primária e que, apesar de uma trama tão lugar comum e um melodrama tão já visto, recebeu cinco indicações ao Oscar 2018..., Lady Bird: A Hora de Voar deve encontrar o seu público, talvez bem menos ranzinza que eu... Ai que saudade de John Hughes (1950-2009).

*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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