A
pedido do Claque ou Claquete, o
Coordenador da Cinemateca de Curitiba, Marcos Stankievicz Saboia, escreveu o
artigo Cinemateca de Curitiba - 40 Anos -
Um Breve Panorama e, complementando a matéria, concedeu uma entrevista
exclusiva ao blog, que pode ser acessada no link: Entrevista: Marcos Stankievicz Saboia.
Cinemateca de Curitiba - 40 anos
Um Breve Panorama
Marcos
Stankievicz Saboia
Como é
recorrente na história do cinema, a cinematografia paranaense do período
silencioso sofreu perdas inestimáveis. A quase totalidade da obra de Annibal
Requião (1875-1929) foi perdida no trágico incêndio da Fundação Cinemateca
Brasileira em 1957, ali arderam filmes como o Desfile de 15 de Novembro e a “Chegada
do Primeiro Automóvel em Curityba”. Dos cerca de 300 filmes realizados por
ele, restaram apenas Panorama de Curityba
(1909) e Carnaval em Curityba (1910).
Outro pioneiro do cinema do Paraná, João Baptista Groff (1897-1970), teve parte
de sua obra perdida no mesmo incêndio que consumiu as obras de Requião. Outra
parte desapareceu em um segundo incêndio, no final dos anos 1960, em um
depósito que ficava nos fundos da casa de Groff. Dentre suas obras estão Zeppelin em Curitiba (1936), Comício Integralista (1937) e, destacando-se
como o principal filme do período silencioso do Paraná, Pátria Redimida (1930). A partir dos anos 1930, o cinema paranaense
esteve circunscrito à produção de cinejornais.
A produção ficcional paranaense surge apenas por volta de meados dos
anos 1960, através de iniciativas individuais.
Entretanto,
movimentos cinematográficos no Paraná manifestam-se já a partir de 1948, através
do cineclubismo, com seu auge no começo dos anos 1970. Destaca-se também a
produção em super-8 e a realização de vários festivais desta bitola em
Curitiba. Estas iniciativas foram apoiadas pela Fundação Cultural de Curitiba já
a partir de sua criação, em 1973. Surgiram assim condições que favoreceram a
criação, em abril de 1975, da Cinemateca
de Curitiba, idealizada por Valêncio
Xavier e inspirada pela sua estadia em Paris e tendo como modelo a
Cinemateca Francesa.
Foto: Marcos Campos |
Na sua
fundação, a Cinemateca possuía uma sala de cinema com pouco mais de 100 lugares
e projeções em 16 e 35 mm, com sessões de terça a domingo, um pequeno depósito
de filmes e uma sala de administração. Funcionava anexa ao Museu Guido Viaro,
daí sua primeira denominação de Cinemateca
do Museu Guido Viaro. Seu
regulamento trazia explicita a missão de “incentivar
a prática e o progresso do filme experimental” e “realizar e produzir películas
cinematográficas”. Apesar do espaço exíguo, a liberdade de debate, naqueles
anos de repressão, fez com que a Cinemateca se tornasse um dos poucos pontos
disponíveis na cidade para o encontro de intelectuais, críticos e interessados
em cinema. A participação da Cinemateca no movimento cineclubista paranaense, como
a promoção do Primeiro Encontro de
Cineclubes do Paraná, por exemplo, que resultou na criação da Federação Paranaense de Cineclubes e oferta de vagas em seus cursos à cineclubistas,
demonstra a clara intenção de não só preservar e difundir o cinema, mas também
de fomentar diretamente a formação de novos cineastas e a produção local.
Foto: Marcos Campos |
Contando
com realizadores reconhecidos, como Fernando Severo, e iniciativas como o I Festival Brasileiro do Filme S-8,
idealizado pelo cineasta Sylvio Back, o movimento de produção em S-8, de Curitiba, teve na Cinemateca do Museu Guido Viaro um
importante aliado que, na forma de cursos de formação e empréstimo de
equipamentos, impulsionou o surgimento de novos realizadores como: Irmãos
Wagner, atuantes na animação, Rui Vezaro, Peter Lorenzo, Nivaldo Lopes, Yanko
Del Pino, Pedro Merege, entre outros. O convênio com o MEC, na década de 1970,
possibilitou a aquisição de equipamentos, como câmera e moviola 16 mm,
colocados à disposição dos cineastas, e também a realização, em escolas
municipais, do Projeto Criança e Cinema
de Animação, (1978-1979), envolvendo alunos de 7 a 11 anos, em dezenas de
animações em S-8.
Foto: Marcos Campos |
Para
orientar cursos e fazer palestras, a Cinemateca
do Museu Guido Viaro trouxe a Curitiba os cineastas Ozualdo Candeias,
Eduardo Escorel, Rogério Sganzerla, Walter Carvalho, Silvio Tendler, Thomas
Farkas, Vladimir Carvalho, Jean-Claude Bernadet. Já no final dos anos 1970, a
oferta dos cursos práticos de cinema fez surgir a chamada “Geração Cinemateca”, grupo de cineastas que, além dos superoitistas,
contava com nomes como Beto Carminatti, Lu Rufalco, Josina Melo, Berenice
Mendes, Homero de Carvalho, e também criou as condições para o surgimento da “Turma do Balão Mágico”, que frequentava
e lotava diariamente a pequena sala de trabalho da Cinemateca, da qual faziam
parte, além do já citado Nivaldo Lopes, Paulo Friebe, Willy e Werner Schumann, Altenir
Silva, Geraldo Pioli.
A
década de 1980, com a inauguração dos Cines
Groof, Ritz e Luz, na região central de Curitiba, e do
Cine Guarani, no Centro Cultural do
Portão, que se destacaram pela programação direcionada à exibição de mostras e
festivais de cinema e de filmes fora do circuito comercial, foi fundamental
para a consolidação da Cinemateca como polo difusor cinematográfico do estado. São
deste período as exibições de filmes, em 16 e 35 mm, nos bairros periféricos de
Curitiba, iniciativas que contribuíram tanto para a formação de plateia crítica
quanto para a inclusão sociocultural da região. Por motivos diversos, as salas Groff, Ritz, Guarani e Luz foram paulatinamente fechadas nos
anos 2000.
Foto: Nivaldo Lopes |
Após um
período de peregrinação por diversos espaços, a Cinemateca do Museu Guido Viaro recebeu sua nova sede no ano de 1998,
e um novo nome: Cinemateca de Curitiba.
Erigida a partir de dois prédios históricos com um anexo moderno, a Cinemateca
possui agora, em 1.200 metros quadrados, acervos climatizados, para nitrato e
para cópias de segurança, espaços para revisão de filmes, sala de moviola,
biblioteca, sala de exibição com 104 lugares, sala para cursos, ilha de edição
digital, hall com exibição de equipamentos antigos e espaços administrativos. Seu
acervo conta hoje com 2500 entradas em película e outras 2500 em diversas mídias
digitais.
Foto: Nivaldo Lopes |
Brevemente
a Fundação Cultural de Curitiba e a Cinemateca de Curitiba ampliarão seus
espaços, com um prédio que recuperará duas das salas que foram fechadas,
estúdio, salas de curso e debate. O Cine
Guarani foi reformado e reaberto em 2012.
Foto: Acervo Marcos S. Saboia |
Marcos Stankievicz Saboia é Coordenador da Cinemateca de Curitiba. Graduado em
Educação Artística/Música (UNESPAR-FAP), Filosofia (UFPR) e Cinema
(UNESPAR-FAP), há mais de uma década atua na área cinematográfica do Paraná,
dividindo direção, montagem, produção, roteiro. Em 2008, em parceria com Joba
Tridente, dirigiu o curta-metragem CORTEJO, película em 35 mm.
Nenhum comentário:
Postar um comentário