Obra, de Gregório Graziosi, é um filme sem
gênero. Parece (mas não é) drama, suspense, cult.
Se muito, está próximo de um teste de paciência e sem direito a brinde de
binoclinho. Ou de uma experiência que faz a gente pensar que, realmente, fazer
cinema não é tão simples como prega a máxima Glauberiana: uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Cinema é bem mais que
estética fotográfica e beleza do branco e preto. Requer outras sensibilidades,
como um bom argumento e um excelente roteiro, por exemplo. Lembrando que um bom
argumento não resulta, necessariamente, um bom filme. Ele é apenas o “prólogo”
de um roteiro que pode ser destruído e ou melhorado pelo diretor durante a
filmagem.
Obra
caminha ou se arrasta ao redor da cidade de São Paulo, vazia no cinza concreto
das suas construções emblemáticas ou “sem valor” arquitetônico. Nesta capital esfriada e entristecida
encontramos o arquiteto João Carlos (Irandhir Santos) às voltas com três
questões doloridas em diferentes intensidades: hérnia de disco hereditária; cemitério
clandestino no terreno herdado da família paterna, onde pretende erguer um
ambicioso projeto arquitetônico; nascimento do primeiro herdeiro. Monossilábico
(tal e qual os outros personagens..., só São Paulo resmunga o tempo todo), pouco
ou nada se sabe das suas intenções (se é que há!) em relação às ossadas no seu
quintal e ou à gravidez da esposa arqueóloga (Lola Peploe).
Num panorama onde tudo é muito afetado e o clean invernal sugere mais contenção de
despesas que refinamento, os “diálogos” mínimos deixam a narrativa ainda mais
inacessível. Não há razão alguma para o espectador se envolver ou demonstrar qualquer
apreço pelo taciturno pai do arquiteto (Marku
Ribas) e ou pelo estourado mestre de obras (Júlio Andrade), cujo destino é tão (absurdo? surreal? misterioso?) idiota
que... Ah, deixa pra lá!
Quanto aos crimes embaixo e em cima da terra e o
castigo (?), os roteiristas Graziosi, Paolo Gregori e José Menezes não dão a
mínima, não estão nem aí pro abacaxi azedo que plantaram na cova dos neurônios
implodidos na cabeça do espectador. Daí, como não se ocuparam desses detalhes
(bobos? toscos? inúteis?), quem estiver acordado que imagine o que bem ou mal
quiser dos mortos (escravos? pedreiros? guerrilheiros?) e do casamento do arquiteto
com uma mulher que só fala em inglês. Está bom pra você ou quer que aumente o
buraco da fechadura?
Obra (2014),
não é filme para o grande público que lota as sessões de comédias globais.
Todavia, já que o vazio (em sua pretensiosa profundidade cool) tem lá seus apreciadores, deve arrebanhar alguns cinéfilos predispostos
a encontrar o fio da meada hermética que encarcera tudo em planos fechados e
cenários decadentes nesta novela vaga. Agora, se os curiosos vão encontrar ao
menos o prumo, ai é outra construção. Enfim, como nem todo sólido mancha o ar, o
consolo para a maioria é a bela e premiada fotografia em branco e preto de André
Brandão.
Dando asas à indignação, digo, à imaginação: Será que
a ideia (de um filme em aberto?) é de franquia e as “respostas” para os
trocentos questionamentos virão com Obra
2 e Obra 3? Eu é que não vou
ficar carregando tijolos daqui pra lá. É muita coisa ao redor pra se ficar
guardando qualquer entulho na memória.
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