Vi o premiado drama Que Hora Ela Volta?, de Anna
Muylaert, na sua estreia. Como me pareceu apenas mediano e ou uma versão
paulista do também mediano Casa Grande,
de Fellipe Barbosa, a princípio, não me entusiasmei em resenhar. Talvez porque
o atual engajamento cinematográfico, realmente não me apetece: elite sempre vil (patrão padrão) versus pobre sempre nobre (empregado padrão). Tudo
soa caricato, fora de ordem, partidário, quando se começa a pensar no enredo.
Ou melhor, tudo soa caricato, fora de ordem, partidário, quando começa pesar o
enredo. Não vejo problema alguma no tema “luta de classe”, desde que isento de
maniqueísmo. O que não é o caso.
Que Hora Ela
Volta?, com roteiro de Muylaert, apresenta uma trama simplória e previsível.
Sabe aquela história de que quando não se cuida da palafita a casa cai com a
primeira tempestade, até mesmo em copo d’água? Pois é, o drama, com alguma pitada
de humor, fala dos percalços das relações domésticas, do fio aparentemente
espesso, mas cada vez mais tênue, com seus remendos maquiados que dificultam o
equilíbrio quando a confiança entre patrões e empregados (até então “quase da
família”) é colocada em xeque. A nordestina Val
(Regina Casé) é uma velha
empregada de confiança da casa (grande) de uma família paulista abastada (ou da
elite). É tão de confiança que praticamente criou o filho Fabinho (Michel Joelsas),
do casal disfuncional Bárbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli,
risível). A vida de Val segue
rotineira e feliz, até que a sua filha Jéssica
(Camila Márdila) chega a São Paulo, para
prestar o vestibular, e começa a questionar a submissão da mãe e a bondade dos
patrões..., fazendo tremer as palafitas.
Ainda que pouco original, o argumento de Que Hora Ela Volta? é até simpático ao
tratar das relações humanas, com o foco nas patroas/mães que trabalham fora e
nas empregadas/mães que criam filhos alheios. Todavia, a trama perde o encanto,
pra pieguice já na metade do segundo ato, quando começa a fazer água e, pra não
perder a audiência, é redirecionado (ou manipulado?) para melhor digestão e
compreensão do prato da vez: burguesia (má!) versus proletariado (bom!). Não há
meio termo. A narrativa linear, com diálogos clichês e algumas sequências
ridículas e nada críveis (de declaração de amor e de afeto) e ou distorcidas, deve
satisfazer o ego dos cultuadores da nova onda: criteriologia (ou: Assim é se
lhe parece!).
O título é uma referência (genérica) à pergunta que
filhos carentes de mães ausentes fazem às suas babás presentes e que, com o
tempo, vai perdendo o sentido na vida (deles) e no filme. Econômico nos
recortes cenográficos e nos planos, Que
Horas Ela Volta? tem elenco esforçado, com destaque para Regina Casé e
Camila Márdila. Com boa receptividade no exterior, o drama, provavelmente, também
vai encontrar o seu público por aqui.
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