quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Crítica: Que Horas Ela Volta?


Vi o premiado drama Que Hora Ela Volta?, de Anna Muylaert, na sua estreia. Como me pareceu apenas mediano e ou uma versão paulista do também mediano Casa Grande, de Fellipe Barbosa, a princípio, não me entusiasmei em resenhar. Talvez porque o atual engajamento cinematográfico, realmente não me apetece: elite sempre vil (patrão padrão) versus pobre sempre nobre (empregado padrão). Tudo soa caricato, fora de ordem, partidário, quando se começa a pensar no enredo. Ou melhor, tudo soa caricato, fora de ordem, partidário, quando começa pesar o enredo. Não vejo problema alguma no tema “luta de classe”, desde que isento de maniqueísmo. O que não é o caso.


Que Hora Ela Volta?, com roteiro de Muylaert, apresenta uma trama simplória e previsível. Sabe aquela história de que quando não se cuida da palafita a casa cai com a primeira tempestade, até mesmo em copo d’água? Pois é, o drama, com alguma pitada de humor, fala dos percalços das relações domésticas, do fio aparentemente espesso, mas cada vez mais tênue, com seus remendos maquiados que dificultam o equilíbrio quando a confiança entre patrões e empregados (até então “quase da família”) é colocada em xeque. A nordestina Val (Regina Casé) é uma velha empregada de confiança da casa (grande) de uma família paulista abastada (ou da elite). É tão de confiança que praticamente criou o filho Fabinho (Michel Joelsas), do casal disfuncional Bárbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli, risível). A vida de Val segue rotineira e feliz, até que a sua filha Jéssica (Camila Márdila) chega a São Paulo, para prestar o vestibular, e começa a questionar a submissão da mãe e a bondade dos patrões..., fazendo tremer as palafitas.


Ainda que pouco original, o argumento de Que Hora Ela Volta? é até simpático ao tratar das relações humanas, com o foco nas patroas/mães que trabalham fora e nas empregadas/mães que criam filhos alheios. Todavia, a trama perde o encanto, pra pieguice já na metade do segundo ato, quando começa a fazer água e, pra não perder a audiência, é redirecionado (ou manipulado?) para melhor digestão e compreensão do prato da vez: burguesia (má!) versus proletariado (bom!). Não há meio termo. A narrativa linear, com diálogos clichês e algumas sequências ridículas e nada críveis (de declaração de amor e de afeto) e ou distorcidas, deve satisfazer o ego dos cultuadores da nova onda: criteriologia (ou: Assim é se lhe parece!).

O título é uma referência (genérica) à pergunta que filhos carentes de mães ausentes fazem às suas babás presentes e que, com o tempo, vai perdendo o sentido na vida (deles) e no filme. Econômico nos recortes cenográficos e nos planos, Que Horas Ela Volta? tem elenco esforçado, com destaque para Regina Casé e Camila Márdila. Com boa receptividade no exterior, o drama, provavelmente, também vai encontrar o seu público por aqui.

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