sábado, 16 de maio de 2015

Crítica: Entre Abelhas


Editar. Rever. Cortar. Rever e aprovar a obra não é tarefa fácil para um artista. Há sempre a sensação de que se cortou demais. Há sempre a sensação de que poderia ter cortado menos. Há sempre uma sensação bipolar difícil de definir quando se coloca o ponto final. O último ensaio no teatro ou a pré-estreia de avaliação de um filme é a hora “h” da decisão.  Ainda sim, críticos ou não, todos os espectadores têm a sua observação sobre o que veem. O prazer é subjetivo, portanto, gostar ou não do que se assiste pode ter a ver mais com a sinestesia do que com o preço do ingresso.

O argumento de Entre Abelhas é curioso. A ação é centrada em Bruno (Fábio Porchart), um editor de imagens que, após a separação da mulher (Giovana Lancellotti), passa a não enxergar (nem a ouvir) as pessoas ao seu redor e também em fotos e filmes. Enquanto busca na psicanálise a explicação do trauma, a sua mãe (Irene Ravache) tenta curá-lo com um tratamento caseiro experimental, envolvendo um atendente (Luiz Lobianco) de pizzaria. A horrenda narrativa paralela (“pau de galinheiro”), que suja a trama e tira a atenção do drama, cacareja ao redor de um colega (Marcos Veras) de trabalho de Bruno que só quer saber da vida de galinho à cata de galinhas.


Entre Abelha, drama psicológico e ou realismo mágico brasileiro, dirigido por Ian SBF, é um momento raro (pela temática) no cinema brasileiro. Tão raro que os roteiristas Fabio Porchat e Ian, parecem ter trocado os pés pelas mãos, indecisos no jogo de vôlei e ou de futebol com a cabeça do espectador. Independente da veia humorística de seus realizadores, é impossível não questionar: por que cargas d’água macular o interessante argumento com um apêndice estuporado por “piadas” sexistas, machistas, escatológicas e tremendamente de mau gosto? Por que, em vez de dois filmes em um, não se optou apenas pela ficção Entre Abelhas e jogou o das “piadas” no fragmentador de ideias ruins até pras novas chanchadas? Superestimar o privado ou subestimar o público? Eis a incontornável questão colateral subvertendo o drama e a comédia. É como diz aquela máxima: não se pode servir a dois deuses ao mesmo tempo.

Aproveitando o arroto, o que leva mulheres esclarecidas (sempre em defesa dos direitos e da dignidade do sexo feminino) rir de si mesmas ao ouvir “piadas” tão degradantes..., como ocorreu na sessão do Clube do Professor, em Curitiba, onde assisti a (dupla) ficção (a da tela e a da plateia)? Se as mulheres não querem que lhes sujem a alma, por que aceitar ser eternamente capacho?

Entre Abelhas, cujo título parece evocar a recente pesquisa sobre o desaparecimento das abelhas na Terra (o que exterminaria a “humanidade”), com seu bom argumento tratando de ausências, afetividade, invisibilidade social..., com algumas soluções cenográficas inteligentes (na história protagonista), poderia ser um dos destaques do ano. Poderia, se o seu desenvolvimento dramatúrgico não ficasse seriamente comprometido pelo vírus do “humor” clichê do apêndice. Aí, com tanta baixaria, por mais que se queira conservar na memória a seriedade da narrativa principal ou mesmo especular sobre o “final aberto”, o fedor paralelo não deixa...

2 comentários:

  1. E eu achando que era boa coisa...e o filme sobre Eduardo Coutinho, presta ?

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    1. ..., ainda não vi o último do Coutinho. ..., se conseguir (o que duvido!) a baixaria do filme paralelo, talvez encontre algo aproveitável em Entre Abelhas. ... mas o desconforto é tão grande que tenho cá minhas dúvidas, Marília.

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