Editar. Rever. Cortar. Rever e aprovar a obra não é tarefa
fácil para um artista. Há sempre a
sensação de que se cortou demais. Há sempre a sensação de que poderia ter cortado menos.
Há sempre uma sensação bipolar difícil de definir quando se coloca o ponto
final. O último ensaio no teatro ou a pré-estreia de avaliação de um filme é a
hora “h” da decisão. Ainda sim, críticos
ou não, todos os espectadores têm a sua observação sobre o que veem. O prazer é
subjetivo, portanto, gostar ou não do que se assiste pode ter a ver mais com a
sinestesia do que com o preço do ingresso.
O argumento de Entre
Abelhas é curioso. A ação é centrada em Bruno
(Fábio Porchart), um editor de
imagens que, após a separação da mulher (Giovana
Lancellotti), passa a não enxergar (nem a ouvir) as pessoas ao seu redor e também
em fotos e filmes. Enquanto busca na psicanálise a explicação do trauma, a sua
mãe (Irene Ravache) tenta curá-lo
com um tratamento caseiro experimental, envolvendo um atendente (Luiz Lobianco) de pizzaria. A horrenda narrativa
paralela (“pau de galinheiro”), que suja a trama e tira a atenção do drama,
cacareja ao redor de um colega (Marcos
Veras) de trabalho de Bruno que só
quer saber da vida de galinho à cata de galinhas.
Entre
Abelha, drama psicológico e ou realismo mágico brasileiro,
dirigido por Ian SBF, é um momento
raro (pela temática) no cinema brasileiro. Tão raro que os roteiristas Fabio
Porchat e Ian, parecem ter trocado os pés pelas mãos, indecisos no jogo de
vôlei e ou de futebol com a cabeça do espectador. Independente da veia humorística
de seus realizadores, é impossível não questionar: por que cargas d’água macular
o interessante argumento com um apêndice estuporado por “piadas” sexistas,
machistas, escatológicas e tremendamente de mau gosto? Por que, em vez de dois
filmes em um, não se optou apenas pela ficção Entre Abelhas e jogou o das “piadas” no fragmentador de ideias
ruins até pras novas chanchadas? Superestimar o privado ou subestimar o público?
Eis a incontornável questão colateral subvertendo o drama e a comédia. É como diz
aquela máxima: não se pode servir a dois deuses ao mesmo tempo.
Aproveitando o arroto, o que leva mulheres esclarecidas (sempre
em defesa dos direitos e da dignidade do sexo feminino) rir de si mesmas ao
ouvir “piadas” tão degradantes..., como ocorreu na sessão do Clube do Professor, em Curitiba, onde
assisti a (dupla) ficção (a da tela e a da plateia)? Se as mulheres não querem
que lhes sujem a alma, por que aceitar ser eternamente capacho?
Entre
Abelhas, cujo título parece evocar a recente pesquisa sobre o
desaparecimento das abelhas na Terra (o que exterminaria a “humanidade”), com
seu bom argumento tratando de ausências, afetividade, invisibilidade social...,
com algumas soluções cenográficas inteligentes (na história protagonista),
poderia ser um dos destaques do ano. Poderia, se o seu desenvolvimento dramatúrgico
não ficasse seriamente comprometido pelo vírus do “humor” clichê do apêndice. Aí,
com tanta baixaria, por mais que se queira conservar na memória a seriedade da
narrativa principal ou mesmo especular sobre o “final aberto”, o fedor paralelo
não deixa...
E eu achando que era boa coisa...e o filme sobre Eduardo Coutinho, presta ?
ResponderExcluir..., ainda não vi o último do Coutinho. ..., se conseguir (o que duvido!) a baixaria do filme paralelo, talvez encontre algo aproveitável em Entre Abelhas. ... mas o desconforto é tão grande que tenho cá minhas dúvidas, Marília.
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