Casa
Grande. O título, obviamente, remete à obra capital de Gilberto
Freire (1900-1987): Casa Grande &
Senzala (1933)..., que é muito mais falada que lida. O filme, ainda que a
referência ao clássico da sociologia brasileira seja forte, remete a um Brasil
contemporâneo, onde a Casa Grande acaba Senzala do patriarca patrão.
Casa
Grande, com direção de Fellipe
Barbosa, trata do cotidiano de uma família de classe média alta em crise
financeira. Num bairro nobre do Rio de Janeiro vive Hugo (Marcello Novaes),
economista com má sorte nos fundos de investimento e que não aceita sequer a
ideia de derrocada moral. Sônia (Suzana Pires), sua mulher, tenta
administrar as sobras, como se cada centavo fosse ouro. Jean (Thales Cavalcanti),
o filho adolescente, com a testosterona vazando por todos os poros, ainda que
ciente da crise no “lar doce lar”, está mais preocupado com as “histórias safadas”
da empregada Rita (Clarissa Pinheiro) e os carinhos da
namorada Luiza (Bruna Amaya). O alarme de que algo vencido na Casa Grande começa a
feder na Senzala é dado com a demissão do motorista Severino, conselheiro sentimental do rapaz...
O roteiro de Barbosa e Karen Sztajnberg é
simples e por muito pouco não escorrega no simplório e na cal da chapa. Quando
toca levemente em questões que já não pautam mais nem as rodadas sociológicas
de botequim, como pano de fundo para sobressair o melhor da trama, que é a saga
do (“herói”) adolescente Jean em
crise tripla (familiar, escolar e sexual), ele funciona muito bem. Principalmente
porque o núcleo jovem, formado por não-atores, é excelente e a sua rotina (casa/escola/diversão)
crível. Já quando insiste em aumentar o foco na crise financeira e polemizar a cota
racial o discurso afrouxa falso e cheio de diálogos (de “impacto”) prontos. Não
chega a pedir falência, mas é aquela lengalenga: o patrão e a causa trabalhista;
o branco, o negro e a cota estudantil; o trabalhador honesto, bondoso,
acolhedor e feliz; o Severino no Rio de Janeiro; a decadência (à) francesa; a miscigenação...
Enfim, Casa
Grande, com seu formidável elenco, é um filme que, se não se pensar muito a
respeito dos assuntos pretensiosamente engajados (e totalmente esquecíveis),
assiste-se com algum interesse. Caso contrário, a mais rasa discussão pode ser
coberta com uma avalanche de clichês, levando água abaixo o seu humor leve e a
pitada de ironia que o tornam curioso em meio à lucrativa onda de “comédias”
brasileiras que grassam nos cinemas.
Há quem compare Casa Grande ao superestimado e previsível O Som ao Redor (que a
mim é um “manual” de técnicas cinematográficas para curso de cinema). Eu
discordo, ainda que irregular e do abuso de clichê, Casa Grande me pareceu mais honesto e melhor que o filme de Kleber
Mendonça Filho.
Olha, deu até vontade de conferir agora!
ResponderExcluirAbraço! ;)
..., depois diga o que achou, Thiago! abs.
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