sexta-feira, 1 de maio de 2015

Crítica: Casa Grande


Casa Grande. O título, obviamente, remete à obra capital de Gilberto Freire (1900-1987): Casa Grande & Senzala (1933)..., que é muito mais falada que lida. O filme, ainda que a referência ao clássico da sociologia brasileira seja forte, remete a um Brasil contemporâneo, onde a Casa Grande acaba Senzala do patriarca patrão.


Casa Grande, com direção de Fellipe Barbosa, trata do cotidiano de uma família de classe média alta em crise financeira. Num bairro nobre do Rio de Janeiro vive Hugo (Marcello Novaes), economista com má sorte nos fundos de investimento e que não aceita sequer a ideia de derrocada moral. Sônia (Suzana Pires), sua mulher, tenta administrar as sobras, como se cada centavo fosse ouro. Jean (Thales Cavalcanti), o filho adolescente, com a testosterona vazando por todos os poros, ainda que ciente da crise no “lar doce lar”, está mais preocupado com as “histórias safadas” da empregada Rita (Clarissa Pinheiro) e os carinhos da namorada Luiza (Bruna Amaya). O alarme de que algo vencido na Casa Grande começa a feder na Senzala é dado com a demissão do motorista Severino, conselheiro sentimental do rapaz...


O roteiro de Barbosa e Karen Sztajnberg é simples e por muito pouco não escorrega no simplório e na cal da chapa. Quando toca levemente em questões que já não pautam mais nem as rodadas sociológicas de botequim, como pano de fundo para sobressair o melhor da trama, que é a saga do (“herói”) adolescente Jean em crise tripla (familiar, escolar e sexual), ele funciona muito bem. Principalmente porque o núcleo jovem, formado por não-atores, é excelente e a sua rotina (casa/escola/diversão) crível. Já quando insiste em aumentar o foco na crise financeira e polemizar a cota racial o discurso afrouxa falso e cheio de diálogos (de “impacto”) prontos. Não chega a pedir falência, mas é aquela lengalenga: o patrão e a causa trabalhista; o branco, o negro e a cota estudantil; o trabalhador honesto, bondoso, acolhedor e feliz; o Severino no Rio de Janeiro; a decadência (à) francesa; a miscigenação...


Enfim, Casa Grande, com seu formidável elenco, é um filme que, se não se pensar muito a respeito dos assuntos pretensiosamente engajados (e totalmente esquecíveis), assiste-se com algum interesse. Caso contrário, a mais rasa discussão pode ser coberta com uma avalanche de clichês, levando água abaixo o seu humor leve e a pitada de ironia que o tornam curioso em meio à lucrativa onda de “comédias” brasileiras que grassam nos cinemas.

Há quem compare Casa Grande ao superestimado e previsível O Som ao Redor (que a mim é um “manual” de técnicas cinematográficas para curso de cinema). Eu discordo, ainda que irregular e do abuso de clichê, Casa Grande me pareceu mais honesto e melhor que o filme de Kleber Mendonça Filho.

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