quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Crítica: Elsa & Fred


Será que na terceira idade todos os pecadilhos são perdoáveis? Ou será que quem já está com um pé na cova também merece um puxão de orelhas, ao menos? Histórias focando o cotidiano dos idosos, dificilmente têm meio termo, ou se ama ou se odeia seus excessos (melo)dramáticos e ou trágicos. Bem, a geriatria fora das telas também tem lá os seus percalços..., os seus momentos de humor e dor.

Elsa & Fred está de volta ao cinema nove anos depois. Mas não aderindo à moda da continuação franquiada..., e sim à mania americana de remakes. A comédia romântica, dirigida por Michael Radford, é a refilmagem da coprodução hispano-argentina Elsa y Fred (Elsa e Fred - Um Amor de Paixão, no Brasil), de Marcos Carnevale, e nos papéis que foram de China Zorrilla e Manuel Alexandre traz também dois renomados veteranos: Shirley MacLaine (Elsa) e Christopher Plummer (Fred).


A versão estadunidense transfere a ação de Madri/Espanha para New Orleans/EUA e acrescenta poucas (e descartáveis) novidades ao enredo original, que já não era dos mais criativos em 2005. Nessa “releitura” preguiçosa e pouco convincente, o espectador acompanha os novos vizinhos Elsa (MacLaine) e Fred (Plummer) numa balada-clichê de amor à vida e o de desejo de morte. Ela é uma velha alegre e cheia de histórias que vive cada momento a toda velocidade, como se não houvesse amanhã. Ele é um velho ranzinza e hipocondríaco que não faz questão alguma do amanhã. Elsa é traquinas, age como se fosse uma adolescente romântica e inconsequente. Fred é meticuloso, faz jus à idade. Ambos têm lá suas razões pelo modus vivendi. A ocasião os fez vizinhos..., agora, a sorte e ou o azar do que resultar da proximidade, é com eles.

Ao contrário dos americanos de cima, não sou muito fã de refilmagens. Não me lembro de uma que superasse o original. Vejo se desavisado. Elsa & Fred não foge à regra. O “novo” roteiro é convencional e o diretor de O Carteiro e o Poeta (1974) não parece muito empenhado em dar personalidade ao velho script. Radford praticamente (re)utiliza os mesmos diálogos e sequências (espelho) da película argentina, incluindo a referência ao La Dolce Vita (1960), de Fellini.


A narrativa segue superficial e apressada. Por causa da trama previsível (banalizada em versões para todas as idades), às vezes parece tão somente uma compilação de velhas gags..., com uma ou outra risível mais pelo ridículo da cena (inverossímil). Elsa continua falastrona, mas Fred, que era apenas um sujeito triste, meio sem chão com a morte da mulher “organizada”, na Argentina, tornou-se irascível, nos Estados Unidos. A comédia romântica (sem noção) virou um melodrama romântico (sem noção) com alguma gracinha e constrangimentos. Ou melhor, resultou numa história diminutiva: bonitinha, engraçadinha para velhinhos carentezinhos se sentirem amadinhos. Uma história cujo argumento já nasceu senil, muito aquém da excelência dos protagonistas MacLaine e Plummer que, assim como Zorrilla e Alexandre, é o fazem valer o tempo em sua companhia. 

Uma  outra opinião? Bom, quem não conhece a versão portenha, pode se agradar da adaptação americana..., ou vice-versa, desde que não seja muito exigente e não esteja nem aí para a lógica na terceira idade. 

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