quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Crítica: Interestelar


Sempre que no campo da ciência especulativa e ou da ficção científica ouço falar de Buraco Negro e ou de Buraco de Minhoca me lembro de um sic-fi da Disney, de 1979, O Buraco Negro (a jornada começa onde tudo acaba), dirigido por Gary Nelson. O filme, que trata do encontro e de um desafio entre tripulantes de duas naves de exploração e pesquisa (Palomino e Cignus), com seus curiosos robôs V.I.N.cent e Maximilian, à beira de um amedrontador Buraco Negro, ainda hoje recebe críticas negativas, mas sem nunca se chegar a um consenso se pelo argumento tosco, o roteiro ingênuo, os efeitos especiais, a direção. Cultuado ou esculachado, há planos para o seu remake.

Evidentemente, hoje “sabe-se” muito mais sobre os Buracos, mas tal “conhecimento”, se sobrevivermos à degradação da Terra, com certeza será descartado até o final do século. Um Buraco de Minhoca e ou um Buraco Negro pode nos levar à origem (e fim) e ou ao fim (e origem) de nós mesmos no universo, fronteira infinita de horizontes? Dicotomia curiosa, porém vaga no ciclo vicioso da vida em ebulição planetária e big especulação física (quântica?) bang.



Interestelar (Interstellar, 2014), o novo drama sci-fi de Christopher Nolan, se passa num futuro-vintage, em um lugarejo rural norte-americano, onde o desequilíbrio climático tornou a vida insustentável e a tecnologia, como em toda parte, entrou em decadência. Ali, a NASA (já desmantelada) consegue reunir um grupo de quatro astronautas (vividos por Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Wes Bentley e David Gyasi) para uma viagem interplanetária, através de um Buraco de Minhoca, como única alternativa para encontrar planetas habitáveis. Entre os abnegados membros da tripulação, o piloto Cooper (McConaughey) é o mais entusiasmado e o mais dividido. Por um lado, o desejo de voltar ao espaço e o objetivo nobre da viagem. Por outro, a insegurança de não retornar a tempo de salvar os filhos adolescentes do cataclismo iminente.


Colapso global, falência da tecnologia, família desestruturada (embora o amor paternal fale mais alto) dão a tônica à saga espacial que “homenageia” (e muito!) Stanley Kubrick e seu clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço, inclusive com um estranhíssimo robô-monólito. Escrito por Christopher e Jonathan Nolan, Interestelar é uma viagem espacial que encanta mais pela plástica (em IMAX, conforme a cena, a imagem expande) que pelo roteiro, que varia entre a ingenuidade complexa e a complexidade ingênua. Ainda que, na maior parte, o clima de seriedade seja mais de aparência, se o assunto embaralha, os irmãos Nolan recorrem a um curioso reforço didático. Ou seja, em caso de dúvida, um tripulante esclarece (o espectador) ilustrando um diálogo providencial (algumas explicações são primárias, como a da viagem pelo Buraco de Minhoca).


Interestelar tem uma narrativa irregular. Começa intenso, com algumas sequências brilhantes (a tempestade de areia, por exemplo, é de um realismo perturbador), mas vai arrefecendo conforme desenrola a trama (esticada demais). Quanto mais longe da Terra a aeronave viaja, menos inspiração. No interior da estação espacial (por causa do o ar rarefeito?) as cenas não são da melhores, a tripulação é fria, os diálogos são empolgam, e a (não) passagem do tempo (o maquiador morreu engasgado?) é pra lá de equivocada. As sequências nos dois novos planetas exageram na previsibilidade, principalmente no primeiro (para quem viu Gravidade, de Alfonso Cuarón). Quando parece que o epílogo vai recuperar a dignidade da história, o upgrade vira ôps!, escorrega na pieguice e deixa a desejar. 


O Buraco de Minhoca (segundo a ciência) é um atalho entre universos. Um conceito que lembra o ensinamento de Hermes Trimegisto em sua sagrada Tábua de Esmeralda: “Aquilo que está embaixo é como aquilo que está em cima.”..., e assim aparece estoicamente traduzido na fala do astronauta-agricultor Cooper (McConaughey), no início de sua viagem rumo ao desconhecido: "Olhar para o céu e encontrar o nosso lugar nas estrelas. Olhar para baixo e encontrar o nosso lugar na Terra."

Considerando que Christopher Nolan tinha um argumento bacana nas mãos, mas quis ir muito além de onde nenhum homem jamais esteve e acabou ficando sem combustível numa dobra do tempo; que é um drama(lhão) sci-fi, cujos protagonistas são impulsionados pelo amor e devoção à família; que apenas tangencia uma questão chave: O homem é o lobo do homem (Hobbes), que parece ser a razão dessa jornada espacial..., creio que os fãs, ainda que estranhem (a disritmia), vão gostar..., ao menos do visual. 

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