Ultimamente a telona dos cinemas tem sido invadida
por jovens adultos (ou quase), românticos e rebeldes (ou vice-versa), numa
batalha insana para salvar o futuro do mundo (ou o mundo do futuro) das mãos de
déspotas para todos os temores.
Mais pé no chão, no mundo contemporâneo, se
desviando sem sucesso das flechadas de Eros, nos chegam o gracioso casal Wallace (Daniel Radcliffe) e Chantry
(Zoe Kazan) perdidos de amor na agradável Toronto. Ele, um ex-estudante de medicina, tentando curar a mágoa do último
relacionamento, a encontra numa festa, na casa do seu cínico e desbocado amigo Allan (Adam Driver)..., e se apaixona. Ela, uma desenhista de animação, está
meio comprometida com o insosso diplomata Ben
(Rafe Spall). Chantry lhe oferece apenas amizade. Será que Wallace aceita ser apenas um amigo da mulher que pode finalmente
curar a sua dor de cotovelo que dura um ano?
Dirigido por Michael Dowse, a comédia romântica canadense Será Que? (What If e ou The F Word, 2014) fala de amizade e
fidelidade (não necessariamente nesta ordem) num relacionamento amoroso. Até onde
é possível viver um amor platônico nos dias de hoje, quando “ficar” é muito
mais importante que “estar”? O roteiro de Elan Mastai, baseado na peça Toothpaste and Cigars (2003), de TJ Dawe
e Michael Rinaldi, busca cumplicidade no público jovem que, se ainda não tem
(?) a experiência de um amor não correspondido, deve conhecê-lo de algum
romance literário ou do cinema. Também porque o público adulto sabe muito bem
como termina essa aventura na vida real. Ainda que, em matéria de amor, sejamos
todos amadores.
Excetuando as intermináveis “piadas”
escatológicas, principalmente as relacionadas a Elvis Presley e o sanduíche Ouro de Tolo (com receita e tudo mais), Será Que? é um filme muito simpático. Tem
bom ritmo, locações convidativas em Toronto e Dublin, e (importante!) a trilha
não chega a incomodar. O elenco veste bem seus personagens metropolitanos e a
química entre os charmosos Radcliffe e Kazan é uma delícia. A narrativa tenta
algumas tiradas ousadas (adorei as interferências animadas e a boa dose de melancolia
romântica), mas, infelizmente, acaba optando pelo lugar quase comum (e clichês de ocasião). Com seu argumento simples, mas bacana, não chega a subestimar a inteligência dos espectadores, no entanto, poderia ser menos óbvio. O encanto seria maior.
Ah, também achei interessante o jogo de palavras
imantadas para criação poética. Ele me lembrou a Oficina de Poesia Aleatória que criei há 15 anos e continuo
orientando para alfabetizandos e pós-graduandos..., sem me preocupar com o
futuro despótico.
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