segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Crítica: Rio, Eu Te Amo


A franquia Citie of Love começou em 2006, com Paris, Je T’Aime. Em 2009 foi a vez de New York, I Love You. Agora, em 2014, as diversas faces do amor serão vistas em Rio, Eu Te Amo. Criado pelo produtor, roteirista e diretor francês Emmanuel Benbihy, a característica do projeto Cities of Love é o de reunir diferentes cineastas com liberdade para contar uma história, em curta-metragem, tendo como pano de fundo uma grande cidade, que depois será costurada num longa. O filme Paris, Je T’Aime reuniu 22 diretores e o New York, I Love You, agregou 10. O mesmo número de Rio, Eu Te Amo.

Qualquer produção que reúna um número tão grande de cineastas corre sério risco de irregularidade. São muitos umbigos numa mesma lente. Foi assim com Paris, New York e agora com Rio, Eu Te Amo, que se assiste com um certo bocejo. São nove crônicas e uma “historieta” ou “vinheta” costurando os curtas, para “dar” unidade. Destas, A Musa, de Fernando Meirelles, que gira em torno de um escultor de areia (Vincent Cassel) e sua musa inspiradora (Deborah Nascimento) é a melhor, a mais poética, a mais carioca.


Há outras duas razoáveis: a pouco convincente Dona Fulana (com figurinos que lembram fantasias da Escola de Samba Beija-Flor em Ratos e Urubus, larguem minha fantasia, de 1989), de Andrucha Waddington, sobre uma senhora idosa (Fernanda Montenegro) que opta por viver na rua feito mendiga; e a lúdica, com uma pontada de ironia (gringos são tão bonzinhos!), O Milagre, dirigida por Nadine Labaki, que também integra o elenco que conta com a deliciosa presença de Harvey Keitel e de um surpreendente estreante: Cauã Salles, na pele de um garoto de rua que, enquanto aguarda um telefonema de Jesus (o bíblico), conhece dois atores internacionais que estão filmando no Rio. O cenário de O Milagre, também é bem teatral, mas a história cativante compensa.


Os outros curtas são assim-assim, feitos para cumprir metragem: La Fortuna, de Paolo Sorrentino é pretensioso; Acho Que Estou Apaixonado, de Stephan Elliott é idiota, Quando Não Há Mais Amor, de John Turturro é um longo e redundante videoclipe; Texas, de Guillermo Arriaga parece uma versão grosseira de Proposta Indecente (1993) de Adrian Lyne; O Vampiro do Rio, de Im Sang Soo é uma visita sem graça ao Nosferato no Brasil (1970), de Ivan Cardoso; Pas de Deux, de Carlos Saldanha é insosso (ai que saudades de Norman McLaren!); Inútil Paisagem, de José Padilha parece um fragmento do movimento “não vai ter Copa” atualizado para “não vai ter Olimpíadas”; finalmente, Transições (unindo as histórias), de Vicente Amorim, feito na medida para o espectador que esqueceu em casa o seu Tico e Teco.

Rio, Eu Te Amo tem roteiros fracos, diálogos medíocres, direções preguiçosas, edição claudicante..., resta à excelente fotografia desvelar que o Rio de Janeiro, bem ou mal contado e ou cantado, continua lindo!

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