sexta-feira, 17 de maio de 2013

Crítica: Terapia de Risco



Se este é o derradeiro filme do polivalente cineasta Steven Soderbergh, para cinema, só os efeitos colaterais da sua futura temporada na TV vão dizer.  Acostumado aos pseudônimos, no exercício também da direção de fotografia, edição, roteiro..., não será nada estranho ele voltar outro (nele mesmo) dizendo que essa história de canto do cisne não passou de uma mentira para vídeo-digital.

Terapia de Risco (Side Effects, EUA, 2013), dirigido com brilhantismo por Steven Soderbergh, é um envolvente thriller fármaco-psicológico, bem no clima de dois grandes mestres do gênero: Hitchcock e Brian DePalma. Possivelmente o melhor suspense da mais recente safra. O roteiro sagaz de Scott Z. Burns, inteligente e cheio de reviravoltas, aliado a uma ágil edição/montagem (de Soderbergh: Mary Ann Bernard) e fotografia (de Soderbergh: Peter Andrews) prende a atenção e a respiração, do princípio (enigmático) ao fim (surpreendente). Num campo onde nem tudo é o que parece, é preciso ser muito esperto para resolver a arrepiante charada antes da prescrição médica final.

Como todo bom thriller, o espectador deve saber o mínimo possível (e manter segredo) da sua eficiente trama que gira em torno dos efeitos colaterais provocados por pílulas antidepressivas. Só um pouquinho mais, então: Emily Taylor (Rooney Mara) é uma jovem depressiva que vê, sem motivo aparente, a sua ansiedade aumentar quando o seu amado marido Martin Taylor (Channing Tatum) é libertado da prisão. Ela busca ajuda dos psiquiatras Dr. Jonathan Banks (Jude Law) e Dra. Victoria Siebert (Catherine Zeta-Jones), que a medicam com remédios “tarja preta”, inclusive em fase de teste, cujo resultado é imprevisível.


Falar de ética em questões que envolvem médicos, pacientes e fabricantes de “drogas milagrosas”, não é nenhuma novidade no cinema. Hoje em dia sabemos de antemão os fatores (pressão financeira, vida conjugal, trabalho) que podem levar ao stress e (daí) ao “maravilhoso” mundo dos psicotrópicos. O que conta, então, é como o assunto é tratado na telona. Nas mãos de Soderbergh, enquanto um pequeno frasco de antidepressivo abre caminho para a cura ou para o horror..., sobram farpas para a farmacologia e inquietações para o público.

As reações de Emily, ao tratamento, são tão fortes que é bem capaz de fazer os mais sensíveis deixarem a sala e ou a pensar duas vezes antes de tomar um simples (?) AAS. O desconforto vem não só da performance de Mara, mas da ausência de música nos momentos mais tensos da primeira parte. Depois, no entanto, a bonita trilha de Thomas Newman, que era apenas pontuada, começa (irritantemente) tocar na hora e sequências erradas. Se, por um lado, joga a tensão no ralo (para o alívio de muitos)..., por outro, libera o espectador para se ocupar com a perturbadora intriga médico-paciente que se instala na trama.

Terapia de Risco é um filme sombrio, porém elegante, comedido ao falar de amor, sexo, ética médica, ainda que ferino. A marca “close” de Soderbergh é evidente (na sua polivalência técnica), mas de nada adiantaria sem a excelência do argumento e a veracidade do elenco, com sua confortável dose de arrebatamento, provocando dúvidas mesmo depois da saída do anestesiante labirinto. Uma narrativa que continua insistindo por um bom tempo..., após a projeção. Um bom jogo para quem gosta de desafios.

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