Se este é
o derradeiro filme do polivalente cineasta Steven Soderbergh, para cinema, só
os efeitos colaterais da sua futura temporada na TV vão dizer. Acostumado aos pseudônimos, no exercício
também da direção de fotografia, edição, roteiro..., não será nada estranho ele
voltar outro (nele mesmo) dizendo que essa história de canto do cisne não passou
de uma mentira para vídeo-digital.
Terapia de Risco (Side
Effects, EUA, 2013), dirigido com brilhantismo por Steven Soderbergh, é um envolvente thriller fármaco-psicológico,
bem no clima de dois grandes mestres do gênero: Hitchcock e Brian DePalma. Possivelmente
o melhor suspense da mais recente safra. O roteiro sagaz de Scott Z. Burns, inteligente e cheio de
reviravoltas, aliado a uma ágil edição/montagem (de Soderbergh: Mary Ann
Bernard) e fotografia (de Soderbergh: Peter Andrews) prende a atenção e a
respiração, do princípio (enigmático) ao fim (surpreendente). Num campo onde
nem tudo é o que parece, é preciso ser muito esperto para resolver a arrepiante
charada antes da prescrição médica final.
Como todo
bom thriller, o espectador deve saber o mínimo possível (e manter segredo) da
sua eficiente trama que gira em torno dos efeitos colaterais provocados por
pílulas antidepressivas. Só um pouquinho mais, então: Emily Taylor (Rooney Mara)
é uma jovem depressiva que vê, sem motivo aparente, a sua ansiedade aumentar
quando o seu amado marido Martin Taylor
(Channing Tatum) é libertado da
prisão. Ela busca ajuda dos psiquiatras Dr.
Jonathan Banks (Jude Law) e Dra. Victoria Siebert (Catherine Zeta-Jones), que a medicam
com remédios “tarja preta”, inclusive em fase de teste, cujo resultado é
imprevisível.
Falar de
ética em questões que envolvem médicos, pacientes e fabricantes de “drogas
milagrosas”, não é nenhuma novidade no cinema. Hoje em dia sabemos de antemão os
fatores (pressão financeira, vida conjugal, trabalho) que podem levar ao stress
e (daí) ao “maravilhoso” mundo dos psicotrópicos. O que conta, então, é como o assunto
é tratado na telona. Nas mãos de Soderbergh, enquanto um pequeno frasco de
antidepressivo abre caminho para a cura ou para o horror..., sobram farpas para
a farmacologia e inquietações para o público.
As
reações de Emily, ao tratamento, são
tão fortes que é bem capaz de fazer os mais sensíveis deixarem a sala e ou a pensar
duas vezes antes de tomar um simples (?) AAS. O desconforto vem não só da
performance de Mara, mas da ausência de música nos momentos mais tensos da
primeira parte. Depois, no entanto, a bonita trilha de Thomas Newman, que era
apenas pontuada, começa (irritantemente) tocar na hora e sequências erradas. Se,
por um lado, joga a tensão no ralo (para o alívio de muitos)..., por outro, libera
o espectador para se ocupar com a perturbadora intriga médico-paciente que se
instala na trama.
Terapia de Risco é um filme sombrio, porém elegante,
comedido ao falar de amor, sexo, ética médica, ainda que ferino. A marca “close”
de Soderbergh é evidente (na sua polivalência técnica), mas de nada adiantaria
sem a excelência do argumento e a veracidade do elenco, com sua confortável
dose de arrebatamento, provocando dúvidas mesmo depois da saída do anestesiante
labirinto. Uma narrativa que continua insistindo por um bom tempo..., após a
projeção. Um bom jogo para quem gosta de desafios.
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