sexta-feira, 10 de maio de 2013

Crítica: Dois Mais Dois



Os cinéfilos cinquentões devem se lembrar da contracultura no cinema dos anos 1960, com seus filmes ousados, hoje divertidas relíquias, como o bom Bob e Carol & Ted e Alice (1969), de Paul Mazurski, quebrando tabus e o conservadorismo americano ao tratar de um assunto que, mesmo com o advento (e as facilidades!) da internet, ainda enrubesce muita gente: troca (sexual) de casais. Ou, simplesmente, swing.

Dois Mais Dois (Dos Más Dos, Argentina, 2012), de Diego Kaplan, retoma o tema de Mazurski, numa comédia que caiu no gosto dos argentinos e tem tudo para agradar o público brasileiro que gosta de uma história levemente apimentada e com algum drama para temperar a relação.

O roteiro de Daniel Cúparo e Juan Vera começa malicioso, com o casal Richard (John Minujín) e Betina (Carla Peterson) abrindo o jogo e a intimidade aos velhos amigos Diego (Adrián Suar) e Emilia (Julieta Diaz), desvelando que é praticante de swing e gostaria de poder contar com a participação deles num próximo encontro. É o que basta para o bichinho do desejo proibido picar a desinibida Emilia e deixar o conservador Diego de sobreaviso. Ela apresenta a previsão do tempo na TV e ele é cirurgião cardiovascular e tem uma clínica em sociedade com o também médico Richard, que vive com Betina, dona de uma butique. Richard e Betina é o típico casal sem medo de ser feliz e realizado sexualmente. Diego e Emilia..., bom. Não discutem a relação e o sexo é apenas o convencional.

Mas, nada como um convite atrás do outro, uma noite atrás da outra para amolecer o indeciso médico que parece imune a fantasias eróticas. O problema é que quando se dá um passo noite adentro, a manhã afora pode ser muito constrangedora. Também porque, quando se trata da libido, é preciso estar preparado para tudo. Para tudo mesmo! Você estaria?


Dois Mais Dois tem um quê de chanchada, com a sua linguagem coloquial, diálogos deliciosamente safados e excelente performance do bonito quarteto protagonista, com destaque para o irretocável Adrián Suar. No entanto, apesar do atrevimento temático, sequências divertidas e sensuais, a narrativa (que se quer amoral) tem lá seus limites conservadores, para alívio do público mais família. Em algumas cenas o pudor chega a ser risível, chutando para escanteio uma possível discussão sobre liberdade (e prazer!) sexual. A história que começa com boas sacadas (e risadas) e vai desenrolando bacana, acaba encontrando um nó (seria o famigerado Ponto G?) e se embaraça toda num final que contradiz o discurso inicial, para decepção do público mais ousado.

Ou seja, uns continuam lagarta e outros viram borboleta. Esta metáfora é o cerne do filme e, inconsciente ou não, acaba compondo o cenário.

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