Os cinéfilos cinquentões devem se lembrar da
contracultura no cinema dos anos 1960, com seus filmes ousados, hoje divertidas
relíquias, como o bom Bob e Carol &
Ted e Alice (1969), de Paul Mazurski, quebrando tabus e o
conservadorismo americano ao tratar de um assunto que, mesmo com o advento (e
as facilidades!) da internet, ainda enrubesce muita gente: troca (sexual) de
casais. Ou, simplesmente, swing.
Dois
Mais Dois (Dos Más Dos,
Argentina, 2012), de Diego Kaplan, retoma
o tema de Mazurski, numa comédia que caiu no gosto dos argentinos e tem tudo
para agradar o público brasileiro que gosta de uma história levemente
apimentada e com algum drama para temperar a relação.
O roteiro de Daniel Cúparo e Juan Vera começa
malicioso, com o casal Richard (John Minujín) e Betina (Carla Peterson)
abrindo o jogo e a intimidade aos velhos amigos Diego (Adrián Suar) e Emilia (Julieta Diaz), desvelando que é praticante de swing e gostaria de poder contar com a participação deles num
próximo encontro. É o que basta para o bichinho do desejo proibido picar a
desinibida Emilia e deixar o
conservador Diego de sobreaviso. Ela apresenta
a previsão do tempo na TV e ele é cirurgião cardiovascular e tem uma clínica em
sociedade com o também médico Richard,
que vive com Betina, dona de uma
butique. Richard e Betina é o típico casal sem medo de ser
feliz e realizado sexualmente. Diego
e Emilia..., bom. Não discutem a
relação e o sexo é apenas o convencional.
Mas, nada como um convite atrás do outro, uma
noite atrás da outra para amolecer o indeciso médico que parece imune a
fantasias eróticas. O problema é que quando se dá um passo noite adentro, a
manhã afora pode ser muito constrangedora. Também porque, quando se trata da
libido, é preciso estar preparado para tudo. Para tudo mesmo! Você estaria?
Dois
Mais Dois tem um quê de chanchada, com a sua linguagem coloquial,
diálogos deliciosamente safados e excelente performance do bonito quarteto
protagonista, com destaque para o irretocável Adrián Suar. No entanto, apesar
do atrevimento temático, sequências divertidas e sensuais, a narrativa (que se
quer amoral) tem lá seus limites conservadores, para alívio do público mais
família. Em algumas cenas o pudor chega a ser risível, chutando para escanteio uma
possível discussão sobre liberdade (e prazer!) sexual. A história que começa com
boas sacadas (e risadas) e vai desenrolando bacana, acaba encontrando um nó (seria
o famigerado Ponto G?) e se embaraça toda num final que contradiz o discurso
inicial, para decepção do público mais ousado.
Ou seja, uns continuam lagarta e outros viram
borboleta. Esta metáfora é o cerne do filme e, inconsciente ou não, acaba
compondo o cenário.
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