segunda-feira, 16 de julho de 2012

Crítica: Para Roma Com Amor



Quem é mestre não perde a o senso de direção mesmo dirigindo em terras estrangeiras. Nos últimos anos, a cada nova obra, os detratores de Woody Allen têm caçado uma chance de espinafrá-lo por filmar (com a mesma categoria) na Europa que lhe garante condições (verba) de trabalho. Entre tantas bobagens dizem até que só faz filmes turísticos. Quem dera todos os filmes turísticos (de agência de publicidade e ministérios assemelhados) tivessem a mesma qualidade de argumento, roteiro e elenco que ele reúne ao seu redor.

Não creio que tenha algum filme de Allen que realmente não goste, apesar de apreciar uns mais que outros. Gosto de Match Point (2005), acho fantástico Tudo Pode Dar Certo (2009) e fascinante o Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (2010). Adoro Meia-Noite em Paris (2011) e amo Vick Cristina Barcelona (2008), um dos filmes mais sensuais (e excitantes) da história do cinema. Em Para Roma Com Amor (To Rome With Love, EUA, Itália, Espanha, 2012), Woody Allen continua excelente diretor e contador de histórias tão possivelmente reais de gente como a gente (ou nem tanto) sempre complicando as relações humanas, para divertir (ou seria advertir?) o espectador.


No belo cenário “teatral” de Roma acontecem quatro ótimas histórias, com roteiros e tempos diferentes, que não se cruzam em nenhum momento. As mais divertidas são as protagonizadas pelo próprio Allen e por Roberto Benigni. Na primeira, Woody é Jerry, um aposentado produtor musical estadunidense (de ideias avançadas e gosto duvidoso) que vai à Roma, com a mulher Phyllis (Judy Davis), conhecer Michelangelo (Flavio Parenti), o noivo romano de sua filha Hayley (Alison Pill), e acaba descobrindo o talento lírico (de chuveiro) de Giancarlo (Fabio Armiliato), o pai de Michelangelo. É claro que Jerry não vai perder a oportunidade de tentar transformar o tímido e nada ambicioso agente funerário em um cantor de sucesso. Por conta dessa ideia maluca ele compra briga com a família inteira e o resultado desse embate ítalo-americano é coisa de gênio! É puro nonsense!

Na segunda história Leopoldo (Benigni), um inexpressivo executivo que é transformado sem qualquer razão, em celebridade instantânea. O sujeito vive o céu e o inferno tentando entender, atender e se desvencilhar de repórteres e paparazzis, a serviço de grandes mídias (televisão e jornais), que ficam feito moscas varejeiras ao seu redor, à espera de alguma declaração idiota. Na terceira história Jack (Jesse Eisenberg) é um jovem norte-americano que vive em Roma com Sally (Greta Gerwig), encontra um “grilo-falante” na pessoa do misterioso conterrâneo arquiteto John (Alec Balwin), que palpita o tempo todo sobre o envolvimento dele com Monica (Ellen Page), uma (dissimulada) amiga de sua namorada e que está de passagem pela cidade.


A quarta história é uma singela homenagem ao mestre Federico Fellini e o seu primeiro filme autoral: Abismo de um Sonho (1952), que vim conhecer há uns cinco anos. Nesta “releitura” encontramos os recém-casados Antonio (Alessandro Tiberi) e Milly (a bela Alessandra Mastronardi), em viagem à Roma para encontrar uns parentes ricos e conservadores e, de quebra, descolar um bom emprego. Pelo menos esse era o plano do jovem casal, até Milly (cabecinha de vento) insistir em procurar um cabeleireiro e se perder pelas ruas da Cidade Eterna e Antonio se meter numa grande confusão com Anna (Penélope Cruz), uma fogosa prostituta que entra por engano no seu quarto.

São narrativas curtas, inventivas, divertidas e românticas onde sobram alfinetadas saborosas para as mídias e suas invenções de celebridades instantaneamente imbecis, e para os produtores e diretores que adoram montagens espetaculosas (e ou incompreensíveis) de óperas e ou de clássicos do teatro universal. Woody Allen nunca perde um diálogo ao criticar as “comodidades” políticas, sociais, religiosas, artísticas. Ele é impar em falar de relações amorosas e sexuais, paranoicas e ou não, deixando claro que, parafraseando um personagem: quando menos se espera, a ocasião faz o tesão. O homem é uma mesa farta de idiossincrasias, mas poucos sabem servi-las tão bem quanto Allen.

O elenco garante a qualidade do espetáculo. Quem conhece a obra do mestre sabe o que esperar e, se por qualquer razão incompreensível não gostar, pelo menos vai fazer um maravilhoso tour por Roma, embalado por marcantes canções italianas.

4 comentários:

  1. Oi, Joba! Compartilho integralmente sua visão a respeito de Woody Allen: minhas preferências podem ser outras, mas acho que, desde o antológico Um assaltante trapalhão, ele só faz coisa boa (bem, teria que rever os filmes "bermagnianos"...). Vou ver Roma esses dias, estou muito curioso para ver o WA dirigindo o Benigni, e homenageando o Fellini (a meu ver, ele homenageia Almodóvar em Vicki Cristina, vc não acha?). Grande abraço!

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    1. Olá, Ravel.
      Woody Allen continua apaixonante e delirantemente engraçado.
      É inacreditável como consegue ser novo em assuntos antigos.
      Acho que vai curtir muito a história em que ele é um dos protagonistas e vai rir sempre que se lembrar dela.
      Acho que só o Monty Python seria capaz de tamanha ousadia.
      A homenagem a Fellini é bem graciosa, mas seria interessante conhecer (também) este ótimo filme de Federico.
      Vicki Cristina pode, sim, ser uma homenagem a Almodovar,
      mas ele é muito mais sensual e excitante.

      Ah, acho que vai gostar também da belíssima animação Valente!
      Acabei de chegar da Cabine.

      Abração!

      T+

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  2. Oi, Joba! Pois é, Roma ainda não entrou em cartaz por aqui, vc acredita? Se é que vai entrar... Vi Valente, gostei, mas confesso que esperava mais. Achei muito parecido com Irmão Urso. Aliás, vc viu O Grande Urso? Não sei se passou nos cinemas comerciais (vi naquela mostra infantil promovida pela Carla Camurati). É engraçado isso, de os ursos renderem tanto em metáforas familiares... Grande abraço!

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    1. Olá, Ravel. Acredito que o filme deva passar por aí, sim, já que os outros passaram. Afinal, dizem que todos os caminhos levam a Roma, não é?!

      Cara, não acho Valente parecido com Irmão Urso, por causa de uma pequeno detalhe. Aliás, Irmão Urso é uma das minhas animações favoritas. Acho as histórias bem diferentes. Não comentei a lembrança do velho filme da Disney por causa da surpresa guardada aos espectadores. Afinal, muita gente pode não ter visto a animação.
      Gostei demais da Merida, a bela ruiva de Valente e da forma
      como a narrativa trata questões adolescentes.

      Vi a animação dinamarquesa O Grande Urso. Achei bacana.
      Gosto mais da história do que do que do desenho.

      Procure por esta animação no youtube: Teclopolis.
      Uma obra-prima.

      Tô louco pra saber sua opinião sobre o Batman!

      Abração.

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