Quem é
mestre não perde a o senso de direção mesmo dirigindo em terras estrangeiras. Nos
últimos anos, a cada nova obra, os detratores de Woody Allen têm caçado uma
chance de espinafrá-lo por filmar (com a mesma categoria) na Europa que lhe
garante condições (verba) de trabalho. Entre tantas bobagens dizem até que só faz
filmes turísticos. Quem dera todos os filmes turísticos (de agência de
publicidade e ministérios assemelhados) tivessem a mesma qualidade de argumento,
roteiro e elenco que ele reúne ao seu redor.
Não creio
que tenha algum filme de Allen que realmente não goste, apesar de apreciar uns
mais que outros. Gosto de Match Point
(2005), acho fantástico Tudo Pode Dar
Certo (2009) e fascinante o Você Vai
Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (2010). Adoro Meia-Noite em Paris (2011) e amo Vick Cristina Barcelona (2008), um dos filmes mais sensuais (e
excitantes) da história do cinema. Em Para
Roma Com Amor (To Rome With Love,
EUA, Itália, Espanha, 2012), Woody Allen
continua excelente diretor e contador de histórias tão possivelmente reais de
gente como a gente (ou nem tanto) sempre complicando as relações humanas, para
divertir (ou seria advertir?) o espectador.
No belo
cenário “teatral” de Roma acontecem quatro ótimas histórias, com roteiros e
tempos diferentes, que não se cruzam em nenhum momento. As mais divertidas são
as protagonizadas pelo próprio Allen e por Roberto
Benigni. Na primeira, Woody é Jerry,
um aposentado produtor musical estadunidense (de ideias avançadas e gosto duvidoso)
que vai à Roma, com a mulher Phyllis (Judy Davis), conhecer Michelangelo (Flavio Parenti), o noivo romano de sua filha Hayley (Alison Pill), e acaba
descobrindo o talento lírico (de chuveiro) de Giancarlo (Fabio Armiliato),
o pai de Michelangelo. É claro que Jerry não vai perder a oportunidade de
tentar transformar o tímido e nada ambicioso agente funerário em um cantor de sucesso.
Por conta dessa ideia maluca ele compra briga com a família inteira e o
resultado desse embate ítalo-americano é coisa de gênio! É puro nonsense!
Na
segunda história Leopoldo (Benigni),
um inexpressivo executivo que é transformado sem qualquer razão, em celebridade
instantânea. O sujeito vive o céu e o inferno tentando entender, atender e se
desvencilhar de repórteres e paparazzis, a serviço de grandes mídias (televisão
e jornais), que ficam feito moscas varejeiras ao seu redor, à espera de alguma declaração
idiota. Na terceira história Jack (Jesse Eisenberg) é um jovem norte-americano
que vive em Roma com Sally (Greta Gerwig), encontra um “grilo-falante” na pessoa do misterioso conterrâneo
arquiteto John (Alec Balwin), que palpita o tempo todo sobre o envolvimento dele com
Monica (Ellen Page), uma (dissimulada) amiga de sua namorada e que está de
passagem pela cidade.
A quarta
história é uma singela homenagem ao mestre Federico
Fellini e o seu primeiro filme autoral: Abismo
de um Sonho (1952), que vim conhecer há uns cinco anos. Nesta “releitura”
encontramos os recém-casados Antonio
(Alessandro Tiberi) e Milly (a bela Alessandra Mastronardi), em viagem à Roma para encontrar uns
parentes ricos e conservadores e, de quebra, descolar um bom emprego. Pelo
menos esse era o plano do jovem casal, até Milly
(cabecinha de vento) insistir em procurar um cabeleireiro e se perder pelas
ruas da Cidade Eterna e Antonio se meter
numa grande confusão com Anna (Penélope Cruz), uma fogosa prostituta
que entra por engano no seu quarto.
São narrativas
curtas, inventivas, divertidas e românticas onde sobram alfinetadas saborosas para
as mídias e suas invenções de celebridades instantaneamente imbecis, e para os
produtores e diretores que adoram montagens espetaculosas (e ou
incompreensíveis) de óperas e ou de clássicos do teatro universal. Woody Allen nunca
perde um diálogo ao criticar as “comodidades” políticas, sociais, religiosas,
artísticas. Ele é impar em falar de relações amorosas e sexuais, paranoicas e
ou não, deixando claro que, parafraseando um personagem: quando menos se espera,
a ocasião faz o tesão. O homem é uma mesa farta de idiossincrasias, mas poucos
sabem servi-las tão bem quanto Allen.
O elenco
garante a qualidade do espetáculo. Quem conhece a obra do mestre sabe o que
esperar e, se por qualquer razão incompreensível não gostar, pelo menos vai
fazer um maravilhoso tour por Roma, embalado por marcantes canções italianas.
Oi, Joba! Compartilho integralmente sua visão a respeito de Woody Allen: minhas preferências podem ser outras, mas acho que, desde o antológico Um assaltante trapalhão, ele só faz coisa boa (bem, teria que rever os filmes "bermagnianos"...). Vou ver Roma esses dias, estou muito curioso para ver o WA dirigindo o Benigni, e homenageando o Fellini (a meu ver, ele homenageia Almodóvar em Vicki Cristina, vc não acha?). Grande abraço!
ResponderExcluirOlá, Ravel.
ExcluirWoody Allen continua apaixonante e delirantemente engraçado.
É inacreditável como consegue ser novo em assuntos antigos.
Acho que vai curtir muito a história em que ele é um dos protagonistas e vai rir sempre que se lembrar dela.
Acho que só o Monty Python seria capaz de tamanha ousadia.
A homenagem a Fellini é bem graciosa, mas seria interessante conhecer (também) este ótimo filme de Federico.
Vicki Cristina pode, sim, ser uma homenagem a Almodovar,
mas ele é muito mais sensual e excitante.
Ah, acho que vai gostar também da belíssima animação Valente!
Acabei de chegar da Cabine.
Abração!
T+
Oi, Joba! Pois é, Roma ainda não entrou em cartaz por aqui, vc acredita? Se é que vai entrar... Vi Valente, gostei, mas confesso que esperava mais. Achei muito parecido com Irmão Urso. Aliás, vc viu O Grande Urso? Não sei se passou nos cinemas comerciais (vi naquela mostra infantil promovida pela Carla Camurati). É engraçado isso, de os ursos renderem tanto em metáforas familiares... Grande abraço!
ResponderExcluirOlá, Ravel. Acredito que o filme deva passar por aí, sim, já que os outros passaram. Afinal, dizem que todos os caminhos levam a Roma, não é?!
ExcluirCara, não acho Valente parecido com Irmão Urso, por causa de uma pequeno detalhe. Aliás, Irmão Urso é uma das minhas animações favoritas. Acho as histórias bem diferentes. Não comentei a lembrança do velho filme da Disney por causa da surpresa guardada aos espectadores. Afinal, muita gente pode não ter visto a animação.
Gostei demais da Merida, a bela ruiva de Valente e da forma
como a narrativa trata questões adolescentes.
Vi a animação dinamarquesa O Grande Urso. Achei bacana.
Gosto mais da história do que do que do desenho.
Procure por esta animação no youtube: Teclopolis.
Uma obra-prima.
Tô louco pra saber sua opinião sobre o Batman!
Abração.