Atlântico
Norte, domingo, 14 de abril de 1912, um grande iceberg e um imponente navio,
com 2.223 pessoas a bordo, em rota de colisão. Um iceberg vagando a esmo e um
navio, com toda a pompa do nome Royal Mail
Steamer Titanic, o “inafundável”,
navegando festivo e despreocupado em sua viagem de Southampton, Inglaterra,
para Nova York, EUA. 23h40: a desatenção,
o erro de cálculo, o choque dos gigantes. Saldo: 1 navio a pique, 1517 mortes,
706 resgates. Um desastre sem precedentes. Uma tragédia anunciada, 14 anos
antes, pelo escritor Morgan Robertson (1861 - 1915) em seu livro Futility, or the Wreck of the Titan
(1898), onde narra o choque e o afundamento do possante navio Titan, em mês, local e circunstância
parecida, ou mera coincidência?
85 anos
depois, em meio a pesquisas históricas e aventureiras (e algumas controvérsias
sobre o assunto), foi lançado nos cinemas, com roteiro e direção de James Cameron, a quinta (e definitiva?)
recriação da tragédia marítima que intriga e fascina a humanidade: Titanic. Uma produção grandiosa,
superlativa do princípio ao fim. Custou 200 milhões e arrecadou um 1,25 bilhão;
ganhou os principais prêmios do cinema e, em 14 indicações ao Oscar, recebeu 11
estatuetas. Um perfeito exemplar do cinemão de qualidade que sabe usar (a seu
favor!) todos os clichês possíveis, sem cair no ridículo. Um docudrama espetacular
que emociona o espectador pela sobriedade com que explora a trágica ventura
daqueles que embarcaram num navio tão seguro que “nem Deus conseguiria afundar”.
A Cameron
interessa falar de quem pereceu e ou sobreviveu à fatídica viagem, e não,
necessariamente do colosso dos mares, conforme registra nos poéticos prólogo e epílogo.
A sua preocupação é o regaste de um passado de contrastes e confrontos, de
glamour e de miséria em um mundo em ebulição e à beira da Primeira Grande
Guerra. No seu titânico convés cabem todas as dores e prazeres dos navegantes, até
mesmo uma encantadora história de amor entre o pobre artista plástico Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) e a garota “righ
society” Rose Bukater (Kate Winslet), noiva do riquíssimo Caledon Hockley (Billy Zane). Uma história sedutora, de ação e aventura, que
conduzirá o espectador à intimidade dos mais diversos passageiros que
embarcaram em uma viagem transatlântica onde a aparência, que diferencia (e
isola) as classes sociais, os iguala nos sonhos (e no destino).
Titanic (Titanic, 1997,
EUA) caiu nas graças do público jovem, principalmente feminino, que deve
retornar às salas (ainda que curioso com a intensidade da “nova” leitura
visual), mais pela trágica e cativante história do belo casal enamorado. 15
anos depois o filme, com suas pequenas e doloridas crônicas familiares, mantém
a sua excelência narrativa e as suas memoráveis sequências continuam arrepiando,
indiferente aos “D”. Não parece ter envelhecido um dia sequer. Ah, vale lembrar
que, quem desdenhava da ótima performance de todo o elenco (inclusive de
DiCaprio e Winslet), vai continuar babando veneno, porque ela continua a mesma.
Quem foi “o rei do mundo” aqui, ainda
não perdeu a majestade em outras atuações posteriores.
Cameron é
um diretor (grandiloquente!) que sabe contar e editar histórias que agradam ao
grande público e dividem a crítica especializada, que costuma se incomodar com
a simplicidade de seus roteiros, diálogos e (até das) frases feitas: “Hasta la vista, Baby” (Exterminador do
Futuro 2) ou “I’m the King of the world!”
- “Eu sou o rei do mundo!” (Titanic)..., mas reconhece a eficácia da sua
edição. Aliás, muito do sucesso de Titanic
se deve à (premiada) edição que lhe dá uma fluidez inacreditável em
imperceptíveis 3h15 de projeção. O ritmo, a edição, o corte certo na hora certa
são fundamentais no “tempo” cinematográfico de uma narrativa, pena que muitos
realizadores não se preocupam com esse detalhe e acabam transformando suas
pérolas em pedregulhos.
Aos 100
anos do desastre marítimo que causou a morte de centenas de passageiros, sem
distinção de raça, credo e ou de classe social, o Titanic retorna às telas, e, ironicamente, convertido em 3D,
prática criticada por Cameron e que se popularizou na indústria cinematográfica
após o seu avassalador Avatar. A
tecnologia usada para agregar maior qualidade (desnecessária!) ao filme, atualizando
o já incrível visual, vai surpreender os velhos espectadores, que haviam perdido
o fôlego com os magníficos efeitos especiais da versão 2D, e mais ainda os
novos, que têm se decepcionado com as “conversões 3D” (pega trouxa) de muitas produções
recentes. Os detratores que criticaram a conversão, sem ter visto o resultado,
vão morder a língua em pelo menos 99%. Pois, a impressão que se tem é a de que Titanic realmente foi filmado em 3D.
A nova empreitada
(remasterização 4k e conversão 3D estereoscópico) cameroniana, que custou a
bagatela de 18 milhões de dólares, tem tudo para agradar até os mais
saudosistas, que insistem em não abrir mão da melancólica trama em 2D. Cameron
revolucionou o 3D e agora faz o mesmo ao apostar em novas técnicas de conversão
que garantem a tão falada (ilusão de) profundidade. Mas, será que vale o custo do
esforço? Depende do produto! No caso de Titanic,
que é um clássico contemporâneo, ele ganhou muito com atualização, afinal tem
toda uma nova geração a ser tocada por sua emocionante história. Mas, ele é um
caso à parte. É um filme tão grandioso, tão espetacular, que a quantidade de “D”
não faz diferença, é um mero detalhe. Porém, um detalhe que merece ser
apreciado.
Nota: Hoje
em dia, viajar ainda é uma grande aventura. O que não mudou, em um cruzeiro
marítimo, é o nível do céu e ou do inferno que cabe a passageiros e
tripulantes, conforme classe e aptidão.
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