terça-feira, 10 de abril de 2012

Crítica: Titanic 3D



Atlântico Norte, domingo, 14 de abril de 1912, um grande iceberg e um imponente navio, com 2.223 pessoas a bordo, em rota de colisão. Um iceberg vagando a esmo e um navio, com toda a pompa do nome Royal Mail Steamer Titanic, o “inafundável”, navegando festivo e despreocupado em sua viagem de Southampton, Inglaterra, para Nova York, EUA.  23h40: a desatenção, o erro de cálculo, o choque dos gigantes. Saldo: 1 navio a pique, 1517 mortes, 706 resgates. Um desastre sem precedentes. Uma tragédia anunciada, 14 anos antes, pelo escritor Morgan Robertson (1861 - 1915) em seu livro Futility, or the Wreck of the Titan (1898), onde narra o choque e o afundamento do possante navio Titan, em mês, local e circunstância parecida, ou mera coincidência?

85 anos depois, em meio a pesquisas históricas e aventureiras (e algumas controvérsias sobre o assunto), foi lançado nos cinemas, com roteiro e direção de James Cameron, a quinta (e definitiva?) recriação da tragédia marítima que intriga e fascina a humanidade: Titanic. Uma produção grandiosa, superlativa do princípio ao fim. Custou 200 milhões e arrecadou um 1,25 bilhão; ganhou os principais prêmios do cinema e, em 14 indicações ao Oscar, recebeu 11 estatuetas. Um perfeito exemplar do cinemão de qualidade que sabe usar (a seu favor!) todos os clichês possíveis, sem cair no ridículo. Um docudrama espetacular que emociona o espectador pela sobriedade com que explora a trágica ventura daqueles que embarcaram num navio tão seguro que “nem Deus conseguiria afundar”.


A Cameron interessa falar de quem pereceu e ou sobreviveu à fatídica viagem, e não, necessariamente do colosso dos mares, conforme registra nos poéticos prólogo e epílogo. A sua preocupação é o regaste de um passado de contrastes e confrontos, de glamour e de miséria em um mundo em ebulição e à beira da Primeira Grande Guerra. No seu titânico convés cabem todas as dores e prazeres dos navegantes, até mesmo uma encantadora história de amor entre o pobre artista plástico Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) e a garota “righ societyRose Bukater (Kate Winslet), noiva do riquíssimo Caledon Hockley (Billy Zane). Uma história sedutora, de ação e aventura, que conduzirá o espectador à intimidade dos mais diversos passageiros que embarcaram em uma viagem transatlântica onde a aparência, que diferencia (e isola) as classes sociais, os iguala nos sonhos (e no destino).

Titanic (Titanic, 1997, EUA) caiu nas graças do público jovem, principalmente feminino, que deve retornar às salas (ainda que curioso com a intensidade da “nova” leitura visual), mais pela trágica e cativante história do belo casal enamorado. 15 anos depois o filme, com suas pequenas e doloridas crônicas familiares, mantém a sua excelência narrativa e as suas memoráveis sequências continuam arrepiando, indiferente aos “D”. Não parece ter envelhecido um dia sequer. Ah, vale lembrar que, quem desdenhava da ótima performance de todo o elenco (inclusive de DiCaprio e Winslet), vai continuar babando veneno, porque ela continua a mesma. Quem foi “o rei do mundo” aqui, ainda não perdeu a majestade em outras atuações posteriores.


Cameron é um diretor (grandiloquente!) que sabe contar e editar histórias que agradam ao grande público e dividem a crítica especializada, que costuma se incomodar com a simplicidade de seus roteiros, diálogos e (até das) frases feitas: “Hasta la vista, Baby” (Exterminador do Futuro 2) ou “I’m the King of the world!” - “Eu sou o rei do mundo!” (Titanic)..., mas reconhece a eficácia da sua edição. Aliás, muito do sucesso de Titanic se deve à (premiada) edição que lhe dá uma fluidez inacreditável em imperceptíveis 3h15 de projeção. O ritmo, a edição, o corte certo na hora certa são fundamentais no “tempo” cinematográfico de uma narrativa, pena que muitos realizadores não se preocupam com esse detalhe e acabam transformando suas pérolas em pedregulhos.

Aos 100 anos do desastre marítimo que causou a morte de centenas de passageiros, sem distinção de raça, credo e ou de classe social, o Titanic retorna às telas, e, ironicamente, convertido em 3D, prática criticada por Cameron e que se popularizou na indústria cinematográfica após o seu avassalador Avatar. A tecnologia usada para agregar maior qualidade (desnecessária!) ao filme, atualizando o já incrível visual, vai surpreender os velhos espectadores, que haviam perdido o fôlego com os magníficos efeitos especiais da versão 2D, e mais ainda os novos, que têm se decepcionado com as “conversões 3D” (pega trouxa) de muitas produções recentes. Os detratores que criticaram a conversão, sem ter visto o resultado, vão morder a língua em pelo menos 99%. Pois, a impressão que se tem é a de que Titanic realmente foi filmado em 3D.


A nova empreitada (remasterização 4k e conversão 3D estereoscópico) cameroniana, que custou a bagatela de 18 milhões de dólares, tem tudo para agradar até os mais saudosistas, que insistem em não abrir mão da melancólica trama em 2D. Cameron revolucionou o 3D e agora faz o mesmo ao apostar em novas técnicas de conversão que garantem a tão falada (ilusão de) profundidade. Mas, será que vale o custo do esforço? Depende do produto! No caso de Titanic, que é um clássico contemporâneo, ele ganhou muito com atualização, afinal tem toda uma nova geração a ser tocada por sua emocionante história. Mas, ele é um caso à parte. É um filme tão grandioso, tão espetacular, que a quantidade de “D” não faz diferença, é um mero detalhe. Porém, um detalhe que merece ser apreciado.

Nota: Hoje em dia, viajar ainda é uma grande aventura. O que não mudou, em um cruzeiro marítimo, é o nível do céu e ou do inferno que cabe a passageiros e tripulantes, conforme classe e aptidão. 

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