Norma Jean Baker (1926 - 1962) e James Byron Dean
(1931 - 1955), estrelas que desapareceram cedo do universo cinematográfico, mas
não perderam o brilho. Marilyn Monroe e James Dean, dois mitos trágicos. Dois belos
atores cujas vidas e mortes continuam repletas de especulação e despertando calorosas
discussões sobre o ser ou o não ser de cada um.
Sete
Dias com Marilyn (My
Week with Marilyn, RU, 2011) é um drama com pitadas de bom humor inglês. Baseado
nos diários de Colin Clark, que foi
o terceiro assistente (faz tudo) de produção de The Prince and the Showgirl (1957), ele busca desvelar o real e o
imaginário sobre a (explosiva?) parceria cinematográfica entre Marilyn Monroe e
Laurence Olivier, e traça um novo perfil da atriz norte-americana, que era
muito maior que a sua beleza. Quem assiste a esta ingênua e deliciosa comédia, e
vê a esplendorosa Marilyn ofuscar o, então, maior ator da Inglaterra, não
imagina o barril de pólvora nos bastidores. Isso, se tudo o que já foi dito
sobre as duas estrelas for realmente confiável.
O filme The
Prince and the Showgirl (O Príncipe
Encantado, EUA, RU, 1957) é baseado na peça teatral The Sleeping Prince, de Terence Rattigan, encenada em Londres, pela
primeira vez, por Laurence Olivier e sua mulher Vivien Leigh, em 1953, e na
Broadway, nos EUA, em 1956. Marilyn Monroe se apaixonou por ela, adquiriu os
direitos e, querendo provar que era uma atriz séria, atravessou o oceano para
dividir as glórias de uma produção cinematográfica com o grande Sir Laurence. Na
tela, “engessada” num vestido branco, ela brilha do começo ao fim e Olivier não
passa de uma sombra dele mesmo. Rodar este filme teria sido uma experiência
traumatizante para todos os participantes, principalmente para Laurence Olivier
(coprodutor, ator e diretor) e para Marilyn Monroe (coprodutora e atriz). No
set, um renomado astro e uma bela estrela em ascensão mundial, numa peleja de
talento sem fim. Farpas e mais farpas voaram em todas as direções (dos dois,
tão iguais nas suas diferenças). Laurence desceu do salto e maltratou Marilyn. O
Sir não mediu o verbo para achincalhar a dama. É o que dizem!
Porém, no meio dos egos cruzados, havia uma
testemunha ocular da história: Colin Clark (1932 - 2002). Aos 23 anos e
apaixonado por cinema, o jovem bem nascido, “fugindo” da sua tradicional
família, foi parar na produtora de Laurence Olivier e acabou contratado como o
terceiro assistente (faz tudo) de direção, nesta que prometia ser a produção da
década. Era o seu primeiro trabalho e, decidido a aprender tudo sobre a
profissão, começou a fazer anotações diárias sobre o que rolava antes, durante
e depois das filmagens. 38 anos depois os seus diários começaram a ser publicados.
Em 1995 ele lançou The Prince, The
Showgirl and Me: Six Month on the Set with Marilyn and Olivier, que virou
documentário (2004), e, em 2000, My Week
with Marilyn, onde relata uma conturbada semana que passou na companhia de
Marilyn Monroe, quando ela esteve em Londres, filmando a deliciosa comédia.
Já se especulou um bocado sobre o rocambolesco
episódio cine-teatral envolvendo Laurence Olivier e Marilyn Monroe. Mas, após a
publicação dos diários de Colin Clark, desvelando os bastidores de The Prince and the Showgirl, o assunto
voltou à baila, aparentemente pondo fim ao disse-me-disse. Sete Dias com Marilyn, dirigido com muita propriedade por Simon Curtis, é uma grande declaração
de amor ao exercício cinematográfico e, na redundância, à Marilyn Monroe. O
filme, narrado na primeira pessoa, se atém às anotações de Colin Clark (Eddie Redmayne)
que, aos poucos, desvela as fortes características de Marilyn Monroe (Michelle
Williams) e de Laurence Olivier (Kenneth Branagh). Olivier é o ator clássico tradicionalíssimo e Monroe é atriz instintiva. Colin
não julga, não critica a mudança de humor das estrelas e muito menos a
motivação de cada um. Aprendeu logo sobre a insegurança dos artistas, a quem
atende, sem reclamar, com o carinho e atenção de uma ama-seca. O que faz lembrar
o belíssimo A Noite Americana (La nuit américaine, 1973), de François
Truffaut, onde o cineasta Ferrand
enfrenta problemas parecidos (com atores e bastidores) para realizar o filme Je vous presente Pamela.
Sete
Dias com Marilyn é melancólico, engraçado e, por vezes,
irônico, ao ressaltar a importância e a diferença dos métodos de interpretação.
Enquanto para Marilyn, representar era
acreditar na verdade (da personagem), a Laurence
bastava fingir a verdade (da personagem). Essa discordância teria provocado o
desequilíbrio emocional e a ruptura profissional de ambos, justificando a presença
constante de Colin Clark (dentro e
fora do set), atendendo e suprindo as necessidades afetivas de Monroe, na ausência do seu marido Arthur Miller (Dougray Scott). A companhia do assistente foi fundamental para Marilyn resolver as suas emoções conflituosas,
ganhar segurança na sua interpretação e conseguir finalizar as gravações. A
semana que Marilyn e Clark passaram juntos, trocando
confidências, marcou para sempre a vida do jovem (também) perdidamente
apaixonado por ela, no seu rito de passagem para o show business.
Sete Dias com Marilyn é um
filme tocante, intensamente bonito. Não se pretende a uma biografia de Marilyn
Monroe, porque a excelência da narrativa é fruto de anotações curtas (quase
fofocas cinematográficas) sobre dois temperamentais artistas. Não fosse fato
real, seria uma trama típica de clássicos do cinema hollywoodiano dos anos
1940/1950. Kenneth Branagh e Michelle Williams estão arrebatadores como o
detestável Laurence Olivier e a apaixonante Marilyn
Monroe, ambos na medida certa da arrogância e da sensualidade. Mesmo sem
referências para o espectador, Eddie Redmayne também convence como o jovem empreendedor
Colin Clark, apaixonado por cinema e
por Marilyn.
A cuidadosa fotografia (envelhecida) de Ben Smithard
dá um relevo especial à primorosa cenografia (de época), principalmente no set
de filmagem de The Prince and the
Showgirl e uma luminosidade espetacular nas sequências externas. É chavão,
é clichê, mas a “câmera” de Smithard realmente ama a Marilyn/Michelle,
acompanhando ou congelando a sua imagem em “clicks” facilmente reconhecíveis
pelo público. Outro destaque, que deve fascinar principalmente quem conhece o
filme original, é a fidelidade com que Simon Curtis recriou algumas cenas de O Príncipe Encantado. Enfim, Sete Dias com Marilyn é mais uma bela e
envolvente homenagem aos fazedores de cinema. Um deleite para as retinas
cansadas de tantas babas melodramáticas. Bem, acho que é melhor deixar um
espaço para o público descobrir outros predicados.
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