sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Critica: Os Smurfs



Antes de Os Smurfs havia Os Strunfs (no orginal francês: Les Schtroumpfs). Antes da animação havia a HQ. Os Smurfs, criação mágica de Pierre Culliford, desenhista belga conhecido como Peyo (1928-1992), apareceram em 1958, na aventura medieval em quadrinhos: Johan et Pirlouit - La flûte à six trous, publicada em Le Journal de Spirou. O sucesso foi tanto que, de meros coadjuvantes, eles viraram protagonistas das próprias histórias, em um mundo harmonioso, longe dos olhos e das maldades humanas. Ou quase!

Se os Smurfs serão capazes de um dia mudar o mundo, não se sabe. Mas, desde a sua popularização, pipocam livros, teses estapafúrdias sobre as mensagens subliminares presentes nos quadrinhos e animação. Para os teóricos de plantão tudo é razão para se temer: a cor e humor dos personagens, a espessa barba (branca) e roupa (vermelha) do sábio cientista Papai Smurf, o modo de vida comunitário, a vida assexuada, a falta de crença religiosa e sistema político etc. E o que isso tudo quer dizer? Nada! Se bem que, tamanho empenho não deixa de ser engraçado!

As histórias em quadrinhos Os Smurfs, ou melhor, Os Duendes Strunfs chegaram ao Brasil em 1975, através da Editora Vecchi, que publicou sete edições e três álbuns: O Ovo Strunfado, Os Strunfs e o Crau-Crau e O Cosmostrunf. Em 1980 foi a vez da animação dos Estudios Hanna-Barbera. Entre 1982 e 1983 a Editora Abril publicou seis edições, com o mesmo nome do desenho animado: Os Smurfs, que agora saem pela L&PM: O Smurf Repórter e O Bebê Smurf.


Eu tive a coleção completa dos exemplares da Vecchi e da Abril e não perdia o desenho animado. Talvez por isso Os Smurfs (The Smurfs, 2011), o filme com direção Raja Gosnell, me deixou saudoso. Não consegui ver a mesma magia das HQs e a mesma graça da antiga animação, talvez pelo fato da história atropelar o tempo, começar pelo meio e sem a preocupação de apresentar os divertidos personagens às crianças, público alvo da produção. Nesta nova aventura, fugindo do Mago Gargamel (Hank Azaria) e seu gato Cruel (que rouba as cenas), Papai Smurf, Desastrado, Gênio, Smurfete, Ranzinza e Arrojado (e seus perseguidores) são sugados por um portal e vão parar em Nova York. Ali conhecem e são acolhidos pelo casal Patrick Winslow (Neil Patrick Harris) e Grace (Jayma Mays), ele às voltas com um anúncio publicitário e ela com a gravidez. Chegar em NY nem foi tão difícil, o problema vai ser sair de lá.

Com muita correria e confusão, bem “ao gosto” das crianças, Os Smurfs é um filme família com todos os clichês e simplificações do gênero. Se por um lado vem cheio de mensagens edificantes, por outro busca o riso apelando para algumas piadas de humor duvidoso. O ambicioso e atrapalhado feiticeiro Gargamel, sempre muito divertido nos quadrinhos e animação, na forma humana é apenas uma caricatura chata e irritante, sem a menor graça. Os Smurfs e Cruel são até bem construídos, mas a interação live-action (se muito) é apenas razoável. Algumas sequências (de afetividade entre desenhos e humanos) são bem amadoras. A contar pela quantidade de merchandising, o problema não deve ter sido verba e, sim, empenho e técnica. Mas este é um olhar adulto. Uma criança talvez nem se importe com esses detalhes e ou com o dispensável 3D.

Os Smurfs é uma “comédia” leve e (claro) previsível. Tem uns dois ou três momentos engraçadinhos, mas equivocados, como o de Smurfete lembrando a famosa cena (do vestido) de Marilyn Monroe em O Pecado Mora ao Lado (1955). Que criança conhece a referência? A narrativa batida, às vezes singela, pode até encantar a garotada (alvo), mas deve decepcionar os mais velhos (acompanhantes). Agora é esperar para ver se as próximas produções da franquia fazem jus aos personagens e realmente desvelem o seu divertido mundo aos jovens e velhos espectadores, tratando melhor das artimanhas de Gargamel e Cruel, da criação de Smurfete, da personalidade dos Smurfs etc. Material de qualidade, já publicado, é que não falta. Porém, como HQ é uma coisa e Cinema é outra, duvido que isso aconteça.

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