Ganhador da Palma de Ouro, na edição de 2011 do Festival de Cannes, A Árvore da Vida, de Terrence Malick, é um filme que chega para "chacoalhar" o espectador passivo e fazer brilhar os olhos e as mentes dos cinéfilos que anseiam por um cinema que vá muito além do mero entretenimento.
Apesar de próximos, A Árvore da Vida (Tree of Life, EUA, 2011), com direção e roteiro de Terrence Malick, não deve ser confundido com o impactante filme iraniano A Árvore da Vida (Derakht-E Jaan / Tree of Life, 1998), de Farhad Mehranfar, que também trata da pertinência da vida e da morte diante da beleza crua e exuberante da natureza. Por tanger fundo e dolorosamente a questão da fé e a sensação de abandono daqueles que acreditam em um Deus (cristão), a produção me pareceu encontrar paralelo com o belíssimo Homens e Deuses (Des Hommes et des Dieux, 2010), de Xavier Beavouis.
A Árvore da Vida é um dos filmes mais intensos e emocionantes dos últimos anos. O seu motivo é a catarse de uma família, no Texas dos anos 1950. A sua reza é a dicotomia das tradições: vida e morte, religião e educação. Não necessariamente nesta ordem. Através de Jack (Hunter McCracken, garoto e Sean Penn, adulto) ele mergulha fundo na busca de um significado para a vida e alguma razão para a morte, questionando a crença em um Deus ausente, mas (contraditoriamente) onipresente. Ao explorar o dualismo de Mr. O'Brien (Brad Pitt) provoca um turbilhão de emoções no espectador, perdido no conceito de educação (ontem e hoje), que perdura por horas depois da sessão. Como julgar um pai profissionalmente frustrado, cuja preocupação com o futuro dos filhos, se dá através de uma educação rígida, mas também amorosa, temendo parecer um fraco numa sociedade machofalocratista, em que a mulher submissa, Mrs. O'Brien (Jessica Chastain), tem que partilhar do seu dia-a-dia?
De uma beleza visual impar, A Árvore da Vida, não é indicado para aquele público apressado, ansioso, acostumando às beababoseiras que imperam nas salas de cinema. Se bem que seria bem interessante se, por descuido, entrasse atrás de Pitt e Penn e descobrisse (mesmo que à revelia) que há filmes que não subestimam a sua inteligência. Malick busca a cumplicidade do espectador capaz de pensar, de refletir além da narrativa fílmica que não se encerra com os créditos finais. Ele busca aconchego no espectador capaz de entender os signos de linguagem (explícita ou não) da grande metáfora na deslumbrante criação do Universo Cósmico-Humano. Se Hermes Trimegisto teria dito que: aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo, e aquilo que está embaixo é como aquilo está em cima, Raul Seixa (1945-1989) disse, em 1976, que: Cada um de nós é um Universo..., leia a letra (na íntegra) abaixo.
A Árvore da Vida, é um drama que não deixa o cinéfilo indiferente, seja pela plasticidade, na bela e envolvente fotografia de Emmanuel Lubezki e formidável edição, ou por conta do primoroso roteiro, que não causaria maiores impactos se não tivesse um elenco que responde muito bem aos personagens, com destaque para Brad Pritt, Jessica Chastain e o expressivo garoto Hunter McCracken (que rouba todas as cenas). Um filme para se ver e rever sem pressa, degustando cada imagem e cada palavra dita nos inquietantes diálogos. Pode até parecer, em alguns momentos, se tratar de uma produção edificante sobre a prática do amor e do perdão acima de tudo, mas (ao final) o que vem à tona é o direito de escolha, o livre-arbítrio físico e espiritual. O tempo só tem tempo para quem se dá tempo para viver, mesmo que seja uma vida fugaz.
Meu Amigo Pedro (de Raul Seixas e Paulo Coelho, no álbum Há Dez Mil Anos Atrás): Muitas vezes, Pedro, você fala/ Sempre a se queixar da solidão/ Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro/ É pena que você não sabe não (...) Vai pro seu trabalho todo dia/ Sem saber se é bom ou se é ruim/ Quando quer chorar vai ao banheiro/ Pedro as coisas não são bem assim (...) Toda vez que eu sinto o paraíso/ Ou me queimo torto no inferno/ Eu penso em você meu pobre amigo/ Que só usa sempre o mesmo terno (...) Pedro, onde você vai eu também vou/ Mas tudo acaba onde começou (...) Tente me ensinar das tuas coisas/ Que a vida é séria, e a guerra é dura/ Mas se não puder, cale essa boca, Pedro/ E deixa eu viver minha loucura (...) Lembro, Pedro, aqueles velhos dias/ Quando os dois pensavam sobre o mundo/ Hoje eu te chamo de careta, Pedro/ E você me chama vagabundo (...) Pedro, onde você vai eu também vou/ Mas tudo acaba onde começou (...) Todos os caminhos são iguais/ O que leva à glória ou à perdição/ Há tantos caminhos tantas portas/ Mas somente um tem coração (...) E eu não tenho nada a te dizer/ Mas não me critique como eu sou/ Cada um de nós é um universo, Pedro/ Onde você vai eu também vou/ Pedro, onde você vai eu também vou/ Mas tudo acaba onde começou.
Excelente post. Coincido con tu punto de vista. Gran película.
ResponderExcluirOlá, David.
ResponderExcluirA Árvore da Vida, é mesmo algo
para além dos sentidos.
Abs.
T+
Joba