quarta-feira, 28 de abril de 2010

Crítica: O Segredo dos Seus Olhos


Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010, O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos - Argentina, Espanha, 2009) do diretor Juan José Campanella, é mais um belo exemplar do cinema argentino que, de vez em quando, escapa do conta-gotas das distribuidoras e cai, feito colírio, em terras brasileiras, mais precisamente paranaenses.

A história é policial, com pitadas de bom humor, e se passa em 1999, quando Benjamín Espósito (Ricardo Darín), um ex-defensor público, aposentado do Tribunal Penal de Buenos Aires, decide ocupar o seu tempo livre para escrever um romance. Como o livro terá por base um homicídio ocorrido em 1974 e deve nomear pessoas conhecidas (vivas ou desaparecidas nos bastidores do governo de Isabel Perón, que aparece na narrativa como uma rápida, mas fundamental, referência) ele procura ouvir a sua ex-chefe, Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil). A juíza, que também participou da investigação, aconselha-o a deixar o passado no passado. O problema é que, para Espósito, os fatos ocorridos em 1974 continuam mais presentes que nunca. Também porque, ele e seu companheiro de trabalho, Pablo Sandoval (o excelente Guillermo Francella), se empenharam profundamente para solucionar o crime e ficaram frustrados com o rumo que o caso tomou. Disposto a desvelar o obscuro passado, e mesmo sem o aval de Irene, ele decide escrever a sua versão dos fatos e finalmente descobrir o que realmente aconteceu com as pessoas envolvidas e onde falhou. Solucionar o passado também pode ser um primeiro passo para “resolver” um drama menos perigoso e muito mais prazeroso: o seu amor (que atravessa décadas), nunca confessado, por Isabel. Ao escrever o seu romance, dominar o verbo, Benjamin vence sua timidez e insegurança. Ao dominar a palavra está pronto para o amor. Uma catarse dupla!

O Segredo dos Seus Olhos, com roteiro espetacular de Juan José Campanella e Eduardo Sacheri, baseado no livro La pregunta de sus ojos, do próprio Sacheri, é discreto e elegante. A quilômetros das tramas rocambolescas e explosivas, tradicionais no cinema americano, ele dá o seu recado com invejável competência e brinda o espectador com, no mínimo, duas sequências criativas e arrepiantes: uma, na estação rodoviária e outra, na perseguição a um suspeito dentro de um estádio de futebol. Além de um final memorável, de cair o queixo.

É muito bom ver que, correria, pancadaria e tiroteios não fazem nenhuma falta ao thriller de Campanella, que trabalha, com um subtexto interessante e bastante reflexivo sobre a obsessão e a motivação de cada personagem envolvido com a “cena” do crime..., e a vida que se desenha (para todos) depois. Construído em flashbacks, através de apurada fotografia e muito bom trabalho na direção de arte e maquiagem, ele tem um ritmo todo próprio, diferente, na medida certa para cada foco narrativo. Para mim, o único pecado é a trilha sonora, incômoda e (como sempre nos bons filmes), na maioria das vezes, desnecessária. Principalmente com a perfeita atuação e interação do trio protagonista (e seus coadjuvantes).

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