sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Crítica: Simplesmente Complicado


Simplesmente Complicado
uma comédia para adultos

O novo filme de Nancy Meyers é (mais) uma deliciosa comédia romântica para os que já deixaram a adolescência. Com um bom roteiro (também de Nancy) e, praticamente, sem clichês tradicionais, Simplesmente Complicado (It’s Complicated, EUA, 2009) fala da confusão amorosa em que se metem a solitária Jane (Meryl Streep) e seu ex-marido Jake (Alec Baldwin) que, após dez anos de conturbada separação, voltam a sentir atração e incontrolável desejo sexual, um pelo outro, e acabam tendo um caso. Tudo estaria muito bem, não fosse um pequeno detalhe: Jake está casado com a mulher por quem ela foi trocada e que é muito mais jovem. Enquanto Jane se diverte com a situação (invertida), se apercebe flertando com o recém-divorciado arquiteto Adam (Steve Martin), responsável pela reforma da sua casa.

Quem viu Meryl no excelente Julie e Julia (Julie & Julia, EUA, 2009), escrito e dirigido por Nora Ephron, talvez estranhe a semelhança (?) de profissão das personagens. Aqui ela também exercita os seus dotes culinários. É dona de uma sofisticada confeitaria e os assuntos de família, segredos e fofocas se desenrolam em torno de uma mesa com boa comida e vinho. Mas as coincidências vão parando por aí. O foco de Simplesmente Complicado está nas relações amorosas, nas armadilhas do coração, em algumas traições e vingança involuntária. Nada que exija acompanhamento de um terapeuta para entender. É só entrar no cinema, sentar, relaxar, rir e apostar num final diferente. Até porque, a história, fora das telas, é muito mais comum do que se imagina, com as suas idas e vindas de ex-marido, ex-mulher, ex-amante...

Centrado no triângulo amoroso dos divorciados cinquentões (Streep, Martin e Baldwin em perfeita sintonia), ele tem um começo melancólico, mas logo ganha uma lufada de bom humor e segue com umas sacadas divertidas e até inteligentes. Em alguns momentos a intimidade entre Jane e Jake é tanta, e aparentemente tão natural, que faz a gente duvidar do tal puritanismo americano. Ponto para Nancy, que também evitou explorar a paspalhice que “se espera” de personagens interpretados por Steve Martin. Porém, apesar da graça e das boas piadas, é esticado demais. Um bom corte seria bem-vindo, principalmente na sequência da maconha, que acrescenta nada à história ou à interpretação dos atores. Um equívoco, sem dúvida, que pode comprometer a censura da produção. Nos EUA o filme recebeu indicação para maiores de 17 anos (por conta disso), desagradando os produtores que esperavam liberação para 13 anos. Se bem que, em tempo de vampiros e monstros emos, acho difícil os adolescentes se interessarem por uma produção que mira os mais “velhos”.

Caso alguém estranhe que a psique ou a profissão ou a independência de Jane (Streep) não foi totalmente explorada, vale lembrar que, em suas produções, a diretora raramente está preocupada com o antes. O que interessa é o hoje e, talvez, o amanhã. Ela trabalha com fragmentos da história que pega onde bem entende e vai até onde lhe parece satisfatório. Jamais perde tempo com explicações, digamos, supérfluas, sobre o passado de alguma personagem ou alimenta a curiosidade do público sobre as atividades dela. Os detalhes, se muito, são desvelados entre um diálogo e outro. Nancy Meyers até pode ter criado seus próprios clichês, mas o melhor é que, sempre que possível, cada vez mais ela nos poupa de piadas escatológicas, trombadas e escorregões.

O curioso, no cinema escrito e dirigido por mulheres (e sobre mulheres), é o olhar diferenciado que elas dispensam a um universo que nem todo diretor domina. Por isso temos mais filmes falando de “assuntos de homem” (brutamontes em guerra consigo ou com os outros) do que de “assuntos de mulher”. Nancy é especializada em comédia romântica para o público adulto (principalmente o feminino na idade dos “enta”). Seus roteiros, geralmente, são enxutos, verossímeis e priorizam as mulheres independentes (com muita vontade própria) e em busca de um amor. Os homens não passam de crianças crescidas querendo colo, ou de mero acessório. O que tem lá a sua verdade, nos dias de hoje. É claro que, para uma diretora, na mesma faixa etária que as suas personagens, é muito mais cômodo e saudável falar (com humor) dos temores da mulher que envelhece: solidão, flacidez, traição, plástica, desejo sexual..., do que tentar traçar (sem domínio) uma caricatura do homem mediano. E também não deixa de ser um filão e muito bem aproveitado por ela.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Crítica: Percy Jackson e o Ladrão de Raios


Percy Jackson e o Ladrão de Raios
nos passos de Harry Potter

Finalmente a garotada vai pode conferir o resultado de Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson and the Lightning Thief, EUA, 2010) que saiu diretamente da série literária infanto-juvenil criada por Rick Riordan, para o cinema de Chris Columbus, que dirigiu os dois primeiros filmes da série Harry Potter, com alguma competência.

Não li nenhum livro de Harry Potter, mas sou fã dos filmes que só fizeram melhorar a cada lançamento. Também não li nenhum livro que narra as aventuras do jovem Percy Jackson entre personagens da mitologia grega, vivendo disfarçados nos EUA. Mas, comparado ao resumo do livro e aos comentários dos leitores, que encontrei pela internet, o filme conta uma (outra) história apenas parecida e com (bem menos) personagens da série.

Como, independente da chiadeira, livro é livro e filme é filme, fiel ou não à literatura original, vamos ao que se vê na telona. Percy Jackson (Logan Lerman) é um garoto disléxico e com déficit de atenção. Tem problemas na sala de aula e em casa. Não entende e nem aceita a estranha convivência da mãe, Sally Jackson (Catherine Keener), com o abominável padrasto, Gabe Ugliano (Joe Pantoliano). Um dia, ele descobre, de uma vez só, que é um semideus, filho de Poseidon (Kevin McKidd); é acusado de roubar os Raios de Zeus (Sean Bean); o seu professor é o Centauro Quiron (Pierce Brosnan); a sua professora, Mrs Dodds (Maria Olsen) é uma Fúria; o seu amigo Grover (Brandon T. Jackson) é um Sátiro, e, ainda, que será levado para o Acampamento Meio-Sangue, para a sua proteção e treinamento. Lá, entre outros, conhecerá Annabeth Chase (Alexandra Daddario) - a filha de Athena, e Luke (Jake Abel) - filho de Hermes. Até provar a sua inocência no roubo dos Raios, ele enfrentará a Medusa (Uma Thurman), o Hades (Steve Coogan) e a sua “companheira” Perséfone (Rosario Dawnson), e também o Minotauro, o Cérbero, a Hidra... Ufa!!!

Percy Jackson e o Ladrão de Raios, (o filme) confesso, que ficou aquém das minhas expectativas. Ele lembra, e muito, Harry Potter: um garoto (perdidão) que, de uma hora pra outra, se vê dotado de algum poder e é obrigado a usá-lo para salvar alguém ou alguma coisa ou a si mesmo. A diferença é que Harry Potter (no cinema) aborda a magia de forma mais interessante do que Percy Jackson com a mitologia. Em Harry Potter o tema magia, ilusionismo, bruxaria, é uma fantasia que vai se aprendendo com a inventiva narrativa (querendo) sem se levar muito a sério e tem a cara da Inglaterra. A “transposição” do tema mitológico (Olimpo, Deuses, Heróis) da Grécia para os Estados Unidos (Nova York, Las Vegas, Hollywood) contemporâneo, me pareceu forçar demais. No entanto, uma vez que série é best-seller e ninguém reclamou da gratuidade, deve fazer sentido (?). Não convence, mas..., sei lá! Em se tratando de atualização de lendas, prefiro a de Fábulas (Fables), uma série em quadrinhos que narra as aventuras e as desventuras dos personagens imortais dos Contos de Fadas, vivendo numa colônia secreta (Cidade das Fábulas) em uma região de Nova York. É sarcástica, irônica e até violenta..., mas não é pra crianças. E que, espero, jamais chegue ao cinema. Ou ainda o romance O Último Mundo, do austríaco Christoph Ransmayr, que fala de Cotta, um admirador do poeta Publius Ovídio Naso (Ovídio), que sai em busca do exilado autor de Metamorfoses, numa impressionante viagem que confunde passado e presente numa narrativa repleta de metáforas críticas ao totalitarismo.

Percy Jackson e o Ladrão de Raios tem uma didática infantil (porque sim!) e rápida sobre os mitos. A história vai acontecendo assim, meio previsível, meio sem compromisso e sem explicação, com Percy tentando descer ao Inferno, pra salvar a mãe, e depois subir ao Olimpo, pra salvar a humanidade. Os Deuses e os Heróis não têm o tipo físico que se espera deles, são magricelas e inexpressivos. 99,99% aparecem mudos (por alguns segundos) e desaparecem calados. O Acampamento Meio-Sangue é bastante sem graça (pra não dizer um desastre) com um bando de jovens, mal coreografados, batendo espadas. Dá saudade da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, de Harry Potter, mais convincente e cheia de vida. O Olimpo, sobre o Empire State, por fora parece uma vila do Inferno e por dentro o hall de um cassino. Ô lugarzinho cafona. Aliás, até a sede do Inferno é horrorosa. Pelo jeito, os cenógrafos e os técnicos de efeitos especiais estavam em greve. Ou a grana era pequena demais pra construção de cenários melhores e mais bonitos.

É isso! Infelizmente, por mais que tentasse, não consegui ver Percy Jackson, o filme de Columbus, sem comparar a Harry Potter. Estão lá os amigos (Harry, Ron e Herminione em Percy, Grover, Annabeth), o inimigo (Draco em Luke), o professor protetor (Dumbledore em Quíron), e ainda os vilões, figuras míticas... Saem os castelos e aldeias e entram prédios e cidades. Mudam os nomes, as caras e os cenários, mas continua a mesma saga. Tem algumas “metáforas” interessantes sobre três pérolas perdidas e os lugares onde poderão ser encontradas. Em particular sobre a que está em um cassino, em Las Vegas, onde os heróis ficam temporariamente “presos” pelo vício (do jogo e da droga), após comerem doce de lótus. Ou ao menos uma piada risível: a entrada do Inferno (Submundo) ser em Hollywood. Fora isso, no geral, é cansativo, é lugar comum. Mas, quem sabe, pode cair no gosto dos menos familiarizados com o tema. E se ao menos despertar o interesse dos jovens espectadores (e adultos também, se houver) pela Mitologia Grega, entre outras, já será um grande feito.

Em 04.06.2009, numa entrevista à Revista Época, questionado sobre o seu envolvimento com o filme Percy Jackson e o Ladrão de Raios, e o que esperava dele, Rick Riordan falou: John Le Carré uma vez disse que ver alguém transformar um livro seu num filme é como assistir a alguém transformar seus bois num caldo de carne. É verdade. Na minha opinião, o livro é sempre melhor que a versão para o cinema. (...) Eu apenas espero que façam direito.

No Brasil já foram lançados, pela Editora Intrínseca, três, dos cinco livros da série: O ladrão de Raios, O Mar de Monstros, A Maldição do Titã.

Crítica: O Lobisomem


O Lobisomem
o Del Toro e o Del Lobisomem

Nem bem a gente se vira ou se mexe e lá vem outra releitura americana de um clássico ou de um filme de terror out EUA. Agora, na onda new vampire movie, chega O Lobisomem (The Wolfman, Reino Unido/EUA, 2010), de Joe Johston, refilmagem de The Wolf Man (1941), dirigido por George Waggner, com Benício Del Toro no papel que foi de Lon Chaney Jr.

Lawrence Talbot (Del Toro) é um ator inglês que mora e atua na América e vem à Inglaterra ajudar na busca ao seu irmão desaparecido, a pedido de Gwen (Emily Blunt), a noiva dele. Talbot tem uma relação conflituosa com o pai, John Talbot (Anthony Hopkins), desde a morte da mãe, quando era menino. Ao procurar a cigana Maleva (Geraldine Chaplin), pra saber o que estaria matando as pessoas, é surpreendido por uma besta-fera que ataca a todos, no acampamento, sem distinção. Talbot é mordido gravemente no pescoço. Escapa do massacre bárbaro e descobre-se amaldiçoado. Logo saberá que não é o único. E então, na próxima lua cheia: Tcham! Tcham! Tcham! Tcham!... Culpado ou não, por tantas mortes (Eu não acho que eles vão te matar, mas vão te culpar - lhe diz seu “afetuoso” pai) toda a aldeia, incitada pelo Detetive Aberline (Hugo Weaving), se põe a caçá-lo.

O Lobisomem é ambientado na Inglaterra Vitoriana (o original, se não me engano, se passa nos anos 1940), tem um tom azulado, meio cinemão B, cara de coisa antiga, mas não consegue ir além do convincente cenário típico (com muita poeira, teias de aranha e animais empalhados) e bom figurino. Não fosse pelos ruídos (barulhos) usados exaustivamente pra criar (em vão) um clima de suspense e pavor e (tentar) assustar, nos momentos de tensão (?), o espectador nem se daria conta de que é um filme de terror. Ele não mete medo nem mesmo com o (cansativo) festival sanguinolento de cabeças e vísceras arrancadas, corpos despedaçados, crianças em perigo, médicos loucos e as suas estranhas técnicas de cura. Será que a gente já viu (e continua vendo) de tudo, em cenas brutais que se repetem em filmes do gênero (ou assemelhados), pra não mais se “emocionar” ou se “comover” com tal disparate? Ou continua sendo cada dia mais difícil ser inovador com esse tema, quando John Landis, lá em 1981, já nos brindou com uma derradeira pérola: Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London).

O mais inacreditável é que, apesar de pouco original, O Lobisomem, de Joe Johston, até tem elementos pra ser um bom filme, mas... Um Donkeyman, não empacaria tanto. Se a maquiagem do Lobisomem (transformado) é bacana, não se pode dizer o mesmo do risível (e batido) processo de transformação. Quem já viu outros filmes “de” Lobisomem (ou até mesmo Thriller, de Michael Jackson) sabe do que estou falando. Ele tem um quê de trash, o que é legal, mas não desenvolve esse potencial, não é ousado e não tem humor (principalmente involuntário). Todavia, quem quiser dar uma olhadinha, se não for vencido pelo enfado, pode encontrar alguma diversão nos clichês..., e olha que não falta nem a clássica cena do Lobisomem rasgando a camisa, estufando o peito peludo e correndo pra luta (se fosse em 3D correria pra galera delirante).

Em tempos de vampiros andróginos, pra satisfação de todas as tribos adolescentes, O Lobisomem (que já foi mensageiro, parceiro e até rival de Drácula, em outras lendas e mídias), talvez fique meio deslocado no meio juvenil, com seu instinto animalesco e viril, mas pode ser uma alternativa à “adoração” aos dentuços anódinos, que tomou conta da literatura e do cinema. Mania por mania, como diz Sir Talbot ao filho: Você não é o único (ator) nesta família que sabe representar.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Crítica: Um Olhar do Paraíso



Um Olhar do Paraíso
por Joba Tridente

Meu sobrenome era Salmon, salmão, igual ao peixe: meu primeiro nome era Susie. Eu tinha 14 anos quando fui assassinada no dia 6 de dezembro de 1973. Nas fotos de meninas desaparecidas que saíam nos jornais nos anos 70, a maioria delas se parecia comigo: meninas brancas de cabelos castanhos cor de camundongo. Isso foi antes de crianças de todas as raças e sexos começarem a aparecer nas caixas de leite ou na correspondência diária. Ainda era na época em que as pessoas acreditavam que coisas assim não aconteciam.” (narrativa inicial do filme e do livro)

É como se diz: pra tudo há sempre uma primeira vez. Pois é, quem diria que o consagrado diretor neozelandês, Peter Jackson, principalmente depois de O Senhor dos Anéis e King Kong, iria errar feio e realizar um filme tão vesgo quanto Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones, EUA/Nova Zelândia/Reino Unido, 2009)? O filme, baseado no best-seller The Lovely Bones, de Alice Sebold, lançado aqui no Brasil, pela Ediouro, com o título: Uma Vida Interrompida – Memórias de um anjo assassinado, apesar do tema forte, tem um roteiro fraco, “interpretações” equivocadas e direção sonolenta. Ele conta a história de Susie Salmon (Saoirse Ronan), uma jovem de 14 anos que, morta por um psicopata, George Harvey (Stanley Tucci), relata a tragédia diretamente do Paraíso onde se encontra e tenta se comunicar com os familiares. Inconformada por morrer tão jovem, cheia de sonhos e sem ter beijado um pretendente a namorado, ela quer se vingar (sem saber como) do seu assassino. Ou ser convencida de que a tal Justiça Divina realmente existe.

Um Olhar do Paraíso tem resquícios de Beleza Americana (American Beauty, EUA, 1999), de Sam Mendes, cuja história também é narrada pelo personagem morto (de algum lugar etéreo) e o final chupado de Ghost – O Outro Lado da Vida (Ghost, EUA, 1990), de Jerry Zucker, mas bebe mesmo e espirra muita água de Amor Além da Vida (When Dreams May Come, EUA, 1998), de Vincent Ward, com seu deslumbrante e letárgico Paraíso e sádico Purgatório, pra ficar nos mais conhecidos. Se o espectador é do tipo que curte um quebra-cabeça, e ficar atento, vai perceber o aparecimento de diversos objetos estranhos, entre paisagens, que vão se relacionar a outros crimes, próximo ao final. Alguns são fáceis de captar, outros requerem um melhor exercício visual.

Apesar da aparente inteligência desse joguinho de caça-rato, Um Olhar do Paraíso é um filme muito aquém das expectativas. O roteiro (de Peter Jackson, Fran Walsh e Philippa Boyens) atropela a tudo e a todos do começo ao fim, cujo veredicto não podia ser mais medíocre. Por falar em “fim”, assim com Spielberg (produtor do filme) Peter Jackson parece também não saber (ou querer) terminar seus filmes, ou pelo menos este, que se estende além da conta, acrescentando cacos e mais cacos (idiotas e piadas sem graça). O mais incomodo é o da visita da caricata e imbecil Vovó Lynn (Susan Sarandon), uma alcoólatra e fumólatra inveterada, mãe de Abigail Salmon (Raquel Weisz) e sogra de Jack Salmon (Mark Wahlberg), pra ajudar (?) nos afazeres da casa logo após o desaparecimento da filha do casal.

Com ótima fotografia (em alguns momentos inspiradíssima) e efeitos especiais estonteantes, o drama, com seu suspense espírita diluído, não assusta, intriga ou convence nem o mais crédulo. Realmente é difícil acreditar na ingenuidade da menina de 14 anos e muito menos na tal armadilha (de arquitetura discutível) construída em tempo recorde e sem deixar vestígios, para prendê-la. No disse não disse, das notícias cinematográficas, fala-se que Peter Jackson teria acrescentado (?) cenas de maior violência e ou retirado (!) cenas de extrema violência para que o filme recebesse liberação para jovens acima de 13 anos, nos EUA. Como a violência é mais sugerida que mostrada, é provável que o segundo comentário seja o real (?). Talvez (se verdadeiro) o tira e põe isso e aquilo tenha comprometido (?) o andamento (?) do filme. Eu duvido! O problema não está na ausência de violência, mas na condução da história confusa e fantasiosa demais. Um Olhar do Paraíso não tem rumo e parece uma peneira, com tantos inacreditáveis (e impensáveis) furos técnicos. São erros primários (pesados e ou de arrepiar) que infelizmente não dá pra citar, sem comprometer a leitura do espectador em cenas e sequências que desceriam (ôpa!) batido. Apesar da obviedade!

Um Olhar do Paraíso, infelizmente, para os fãs de Jackson, está mais para um olhar do Purgatório. É difícil aceitar que o filme que tenha sido a(ssa)ssinado pelo realizador de Almas Gêmeas. Enfim, fãs de Alice Sebold, é que vão poder julgar melhor, já que os que desconhecem o livro, devem ficar em cima ou (mais provável) cair do muro.

Por falar em dramas espíritas, o ano de 2010 é de grande promessa para os realizadores brasileiros, se conseguirem chegar às salas de cinema. Depois do inesperado sucesso de Bezerra de Menezes - O Diário de Um Espírito (2008), de Glauber Filho, chegam: Chico Xavier, de Daniel Filho; Nosso Lar, de Wagner Assis; As Mães de Chico, de Glauber Filho; E a Vida Continua, de Paulo Figueiredo; As Cartas, documentário de Cristiana Grumbach. É esperar pra ver.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Crítica: Preciosa – Uma História de Esperança


divulgação
Preciosa – Uma História de Esperança
para dar o primeiro passo é preciso saber para onde ir...

O que resta para uma adolescente negra, obesa, de 16 anos, que sofre diariamente agressões físicas e psicológicas, da própria mãe, é constantemente estuprada pelo pai, de quem tem uma filha com Síndrome de Down, e está grávida novamente? O suicídio? Claireece “Precious” Jones, de certa forma resignada, sem poder contar com ninguém, sonha com dias melhores e, nos momentos de dor e constrangimento, se refugia no seu mundo glamoroso, onde é amada por todos e, de tão feliz, nenhum mal pode atingi-la. Ou na escola, onde nutre um amor platônico pelo professor de matemática, a única matéria em que tem boas notas, mas de onde terá que sair por estar grávida e se negar a dizer quem é o pai da criança. Precious vive sob o domínio do medo e da insegurança. O seu trágico drama adolescente (infelizmente!) é muito mais comum do que se imagina (ou se espera) em todo o mundo “civilizado” ou não.

Baseado no livro Push, de Sapphire, Preciosa – Uma História de Esperança (Precious: Based on the Book “Push” by Sapphire, EUA, 2009), dirigido, sem gratuidades, por Lee Daniels, cai em cima do espectador como um gangsta rap, violando todos os sentimentos. O filme provoca repulsa diante das cenas explícitas de violência e abusos cometidos pelos próprios pais, e contemplação pela forma como são amenizadas essas situações através de momentos lúdicos e até de algum humor. A imersão no mundo de Precious é claustrofóbico. Ao seu redor, tudo é a apertado ou minúsculo no seu deslocamento, menos a sua imaginação, que abre espaços nas trevas da ignorância familiar e escolar e explode em cores e brilhos. A figura de Claireece preenche a tela, o pequeno apartamento, a sala de aula, mal se dando conta de que é um peso que ninguém quer carregar..., nem mesmo ela.

Aparentemente frágil, apesar de imensa, Precious (Gabourey Sidibe) tem uma força contida prestes a entrar em erupção. Terna e dolorida a sua saga encontra sentido apenas quando começa frequentar a Escola Alternativa Cada Um Ensina Um e, na convivência com outras adolescentes problemáticas, reforça sua intuição de que, a única forma de vencer na vida, sair do gueto, conquistar respeito, é através da educação. No entanto, para ter direito a acreditar num futuro possível, terá de superar as dificuldades com a escrita e a leitura. Consequentemente, a sua visão cultural do mundo, além Harlem, a fará descobrir que certas verdades são muito mais doloridas que outras.

Ao falar (com muita propriedade) da importância do ensino/educação, Lee Daniels se aproxima de produções como O Contador de Histórias, de Luiz Villaça, e o apaixonante Entre os Muros da Escola (Entre les Murs), de Laurent Cantet. O primeiro é a cine-biografia de Roberto Carlos Ramos, premiado Contador de Histórias que também “resolvia” seus problemas, na infância difícil, dando asas à imaginação. Aos 13 anos, sob os cuidados da FEBEM mineira, ele era considerado um “caso irrecuperável”, até ser “encontrado” por uma pedagoga francesa e resgatado da marginalidade através do ensino. O segundo traz uma leitura diferente do tema educação, gerando muito debate ao falar do dia a dia de um professor de francês e os problemas de alfabetização e comunicação enfrentados, por ele e seus colegas, com uma turma de alunos formada por imigrantes, ou filhos de imigrantes, nascidos na França.

Preciosa – Uma História de Esperança tem excelente direção e interpretações marcantes, como a de Gabourey Sidibe (Precious) e a de Mo’Nique, no papel de Mary, a repulsiva mãe da jovem. É um filme preciosamente incômodo (de não se querer ver) e preciosamente necessário (apesar do incômodo de se ver) por tratar de assuntos ainda longe de uma solução: violência doméstica (num mundo macho-falocrata que ainda promove IMPUNE a mutilação genital feminina) e educação (num mundo onde as “autoridades” temem a educação, porque o conhecimento liberta a todos do populismo selvagem). A empatia (e aversão) que causa ao espectador é pela sua veracidade. É difícil dizer se deveria ser menos explícito e mais lúdico.

Preciosa é uma ficção com base em fatos reais. O livro que deu origem a ele sintetiza a vida de muitas jovens que a escritora Sapphire conheceu no Bronx, em Nova York, quando trabalhou em uma Escola Alternativa. Talvez incomodasse menos, se fosse um documentário, como o magnífico Meninas, de Sandra Werneck, que trata da questão da gravidez na adolescência. É um filme (ainda que difícil) pra se ver e discutir, inclusive (e principalmente) em sala de aula. O livro, Preciosa, foi lançado no Brasil, pela Record.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Festival Internacional de Filmes Curtíssimos


Festival Internacional de Filmes Curtíssimos

As inscrições para a 3ª edição do Festival Internacional de Filmes Curtíssimos estão abertas até o dia 04 de abril de 2010.

O Festival Internacional de Filmes Curtíssimos é realizado no Brasil, desde a décima edição Internacional, em 2008. Serão selecionados até 50 filmes com duração máxima de três minutos (fora títulos e créditos). A curadoria é internacional realizada em Paris, e a nacional em Brasília.

Os filmes apresentados em Brasília participarão também de uma exclusiva seleção local, concorrendo ao prêmio Brasília 50 anos. A iniciativa contribui para uma formação de público para as obras audiovisuais regionais.

Na edição brasileira de 2009, em parceria com o Ano da França no Brasil e a 42ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o evento promoveu o Seminário Internacional "Narrativas do curta-metragem, experiências de produção e circulação do filme", na Programação do Festival de Brasília.

A 3ª edição nacional de filmes curtíssimos acontece nos dias 07, 08 e 09 de maio de 2010, em Brasília, no Rio de Janeiro e em outras cidades. O evento, selecionado para compor a programação e no âmbito de uma seleção competitiva nacional apresenta a Mostra-te 50 anos de Brasília que consiste numa seleção de filmes de até 3 minutos na qual podem concorrer filmes de todo o Brasil. O objetivo é compor uma seleção de filmes que será exibido no Festival Nacional e outras em 100 cidades nos 20 países participantes da rede do Festival Internacional des Très Courts.

Para ler o Regulamento e maiores informações sobre o Festival acesse: http://www.filmescurtissimos.com.br/.

Elo Company lança 18 canais de TV por internet

Elo Company lança 18 canais de TV por internet
da Assessoria de Imprensa

A Elo Company lançou 18 canais digitais temáticos de TV por internet. A nova versão beta traz conteúdo audiovisual selecionado, em tempo integral, que reúne cultura, informação e conhecimento.

Entre os canais que já estão disponíveis, está a EloCENA TV – uma parceria com o Centro de Análise do Cinema e do Audiovisual – que exibe debates realizados em seminários sobre o mercado cinematográfico e cobertura de festivais de cinema. Vídeos ambientais e sociais, animações, longas e curtas-metragens e videoclipes também estão disponíveis nos canais EloSustentável, EloCinema e EloHits.
O projeto conta com a parceria da tecnologia americana blinkx, que analisa o vídeo de forma contextual por meio de transcrição de áudio e identificação de imagem (www.blinkx.com), além do uso de base de dados de texto. Dessa forma, as tags (palavras-chave) são geradas automaticamente e a busca do vídeo e de seu conteúdo é aprimorada.

Em inglês, é possível obter a transcrição com uma taxa de acerto de 90%. Aqui no Brasil, a ferramenta também está sendo aprimorada para que funcione bem em português, com a mesma tecnologia. A transcrição e o desenvolvimento automático de tags já podem ser vistos, por exemplo, no filme “Garrincha”, do canal EloCinema. Ao clicar nas tags, o usuário é direcionado para o momento exato do vídeo no qual a palavra é falada.

No site, também está disponível para acesso o filme “Quase Dois irmãos”, da diretora brasileira Lúcia Murat, e os videoclipes da banda paulistana Mombojó e da artista Elza Soares. A migração de todo o conteúdo para a nova tecnologia está ocorrendo aos poucos, incorporando novos vídeos diariamente, com maior qualidade de som.

Acesse www.blinkxbrasil.com.br e conheça a nova tecnologia. O canal EloCENA está disponível em: www.elocena.com.br

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Crítica: É Proibido Fumar


É Proibido Fumar
cinema brasileiro de qualidade

Pra quem acredita em vida inteligente no cinema brasileiro (e, principalmente, pra quem não acredita) a dica vai para o formidável É Proibido Fumar (É Proibido Fumar, Brasil, 2009), de Anna Muylaert.

O roteiro é simples (mas não é simplório) e Anna Muylaert sabe (como poucos) o que quer contar e como dirigir esta história que fala de Baby (Glória Pires) que ama Max (Paulo Miklos). Ela é uma professora de violão que mora num apartamento herdado da mãe (repleto de móveis e plantas) e que tem a sua rotina e libido alteradas com a mudança de um músico no apartamento ao lado. Ele é um cara meio desligado, gosta de rock, mas ganha a vida tocando sambão numa churrascaria. Baby é solteira e fumante compulsiva, vive em pé de guerra com as irmãs e ainda sonha com a felicidade de um relacionamento amoroso. Max odeia cigarros e não quer compromissos sérios. Por ele Baby é até capaz de parar de fumar...

Ao contrário do que faz pensar o título, o filme nem rela em campanhas anti-fumo. Mas toca, sem ser piegas e com bom humor e algum drama, na ferida da solidão, na necessidade humana (?) do outro (nem que seja pra discutir/brigar) em relacionamento pra toda uma vida ou pra um instante. O solitário é um deserto, cercado pela sua própria miragem no infinito e além, ou é uma ilha, cercado de quinquilharias por todos os lados. Tenha ou não a Natureza alguma coisa a ver com isso. O mundo real de um solitário é quase tão intransponível quanto o mundo feminino. O solitário quer algo palpável e não decorativo. Porém, na falta de um, a disponibilidade recai sobre o outro. Muylaert trabalha muito bem esta questão do ser duplo, ensimesmado, alheio ao mundo ao seu redor..., rodeado de quinquilharias ou de miragens. E dos que ainda não se reconhecem no próprio reflexo.

É Proibido Fumar (felizmente não é um filme cabeça/umbigo) tem todos os ingredientes pra agradar o público (formar platéia pro cinema brasileiro) com uma narrativa que começa leve, descompromissada e vai ganhando um clima de suspense (o ciúme lançou sua flecha preta... - Caetano Veloso) e chega ao clímax com uma virada espetacular. É um romance possível, com uma gente comum cheia de sonhos, desejos e frustrações. Uma história boa de se ver e de se deixar envolver, muito bem embalada com excelentes atuações dos protagonistas (até mesmo de Paulo Miklos) e dos muitos coadjuvantes. Sem dúvida, um excelente produto cultural a serviço da diversão e ao alcance (inclusive intelectual) de qualquer espectador e com muito fôlego para um grande diálogo sobre o fazer cinematográfico.

Crítica: Não minha filha, você não irá dançar


Não minha filha, você não irá dançar
... quem dança é o espectador

Logo que vi o filme-terapia Não minha filha, você não irá dançar (Non ma fille, tu n’iras pas danser, França, 2009), de Christophe Honoré, pensei que escrever sobre ele era sofrer duas vezes. Era como se o martírio de assisti-lo (do começo ao fim) não fosse pena suficiente pra um cinéfilo. O problema é que o filme, uma das piores produções francesas (e olha que gosto de filme francês) que já vi, precisa ser exorcizado pra eu ficar em paz. Quando se vê maravilhas como Horas de Verão (L’Heure D’Eté), de Olivier Assayas, a gente chega a acreditar que tudo mais que venha da terra de François Truffaut seja uma maravilha, ou no mínimo um bom vinho. Ledo engano. Ultimamente tem vindo muito queijo ruim.

Não minha filha, você não irá dançar, me parece um filme vago, feito pra preencher uma vaga deixada pela Nouvelle vague (Nova onda). Eu sei que o trocadilho é ruim, é de doer. Mas com certeza é muito melhor que o filme repleto de personagens insuportáveis (não se salvam nem les enfants). Com apenas quinze minutos de projeção, a impressão é de estar sendo torturado há horas. Ele fala (ou reclama?) de Lena (Chiara Mastroianni) uma mulher em crise existencial e que, separada do marido e com dois filhos, pensa (só pensa) em dar uma quinada na sua vida, indo passar uns dias na casa dos pais, no interior da França. A casa (de campo) é aprazível, o lugar é bucólico, o cheiro de mato é inebriante (imagino), ideal pra se esquecer da vida..., mas com a chegada da mala sem alça, pra se juntar aos malas com alça quebrada dali, aquilo vira um Inferno. Os pais, com viagem marcada, saem de fininho. A irmã, vai não vai, acaba indo. O ex-marido, convidado pro fim de semana, se manda. O irmão e a namorada (odiada por toda a família) vão cuidar da vida. As crianças ficam por ali, perdidas. Essa “terapia de grupo” começa nos primeiros minutos do filme, com a chegada da paraneurótica Lena, que atravessa o filme infernizando a vida de todos ao seu redor: família, amigos, amantes, patrões. Com uma paciente dessas até mesmo Jung cometeria um justo suicídio. Mas antes “suicidava” a neuroparanóica Lena.

Não minha filha, você não irá dançar não deve ser visto por espectadores depressivos, é aborrecimento na certa. Com um “roteiro” (?) que parece ter sido escrito por quem marcou consulta e não foi, ao menos pra saber um pouco mais sobre psicanálise, o filme teria melhor identidade se chamasse: Desencontros. O tema (apesar de batido) não é ruim, mas não é pra qualquer diretor. É preciso pegar mais leve. Um Woody Allen, com certeza, tiraria de letra e com muito bom humor. Christophe Honoré, no entanto, tropeça na primeira pedra/cena e sai quicando em tudo quanto é parede e (finalmente!) só para num estranho blecaute final. Os personagens são tão vazios quanto a psicologia colegial de seus diálogos. Com seu “discurso existencialista” de botequim (ou um simulacro de algo parecido) Honoré não parece se importar com o bem-estar e ou conforto do espectador. Quer ser (ou parecer) sério. E a recíproca é a mesma: não há porque o espectador absorver (e absolver) a dor de gente mal-amada travestida em personagem mal resolvida.

Durante a projeção, enquanto Lena atormentava, eu divagava se o filme seria diferente com uma direção feminina. Se ficaria mais leve e coerente (e até compreensível) sob o olhar feminino e ou se correria o risco de virar um filme “de mulher pra mulher”. Quem sabe?! Ah, pra não dizer que o filme é um desastre total, há um momento de relaxamento e bom cinema, num apêndice (que deveria ser o filme no lugar do filme) que retratada uma lenda, contada pelo filho de Lena, em que uma jovem só se casaria com o rapaz que conseguisse dançar por 12 horas seguidas... O curta é lindo, mas é apenas um lampejo (inútil) de luz na trama.
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