por Joba Tridente
Para quem gosta de filme intimista, contemplativo, daqueles que conduzem
personagem e espectador por labirintos físicos e metafísicos, Na Cidade
Branca (Dans La Ville Blanche, 1983), de Alain Tanner, pode
ser uma boa pedida. Nele acompanhamos os passos do mecânico suíço Paul (Bruno
Ganz), um marinheiro que, ao botar os pés no porto de Lisboa, sai
perambulando pela cidade, filmando tudo o que lhe interessa, com sua Super-8,
até parar no bar de uma pensão. Ali, ele pede uma cerveja e questiona a
garçonete Rosa (Teresa Madruga) sobre um relógio, na parede, que
gira no sentido anti-horário. Após um breve diálogo surreal sobre o giro dos
ponteiros e o giro do mundo, ele aluga um quarto e se deixa ficar na cidade, sem
saber bem porquê, feito um desertor, enquanto o seu navio parte mares afora.
Quanto à brancura do instigante título Na Cidade Branca, cabe ao espectador relacioná-la ou não aos percalços da descida do marinheiro ingênuo na região portuária de Lisboa, cujo branco das antigas edificações refletem com maior intensidade a luz solar..., cegando e ou iluminando suas autodescobertas e devaneios traduzidos nas cartas enigmáticas (O tempo se desfez. De manhã bebo, mas não há manhã, meio-dia ou noite. Também bebo à tarde e à noite. Eu durmo durante o dia. Nada existe realmente. O silêncio é pesado e leve. Eu sou um mentiroso tentando dizer a verdade.), quase monossilábicas, que envia junto com seus filmes monocórdios, para a mulher Elisa (Julia Vonderlinn), na Suíça. Imagem (memória) e literatura (desmemória) num mesmo fotograma. Acredita-se que toda epifania seja de uma brancura perturbadora (Sonhei que a cidade era branca, que o quarto era branco e que a solidão e a calma também eram brancas).
Enfim, com um enredo que faz a gente se lembrar, principalmente da estrofe inicial da música Roda Viva (1967), de Chico Buarque: “Tem dias que a gente se sente/ Como quem partiu ou morreu/ A gente estancou de repente/ Ou foi o mundo então que cresceu/ A gente quer ter voz ativa/ No nosso destino mandar/ Mas eis que chega a roda viva/ E carrega o destino pra lá/ Roda mundo, roda-gigante/ Roda moinho, roda pião/ O tempo rodou num instante/ Nas voltas do meu coração.”..., Na Cidade Branca é um filme sentimental e poético, para se contemplar sem pressa e refletir se o final é um recomeço...
*Este filme está sendo
exibido no Festival
Volta ao Mundo: Suíça, da plataforma de streaming Petra Belas Artes À La
Carte.
NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha.
Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema)
aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro
curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer
crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara
à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do
norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003),
de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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