quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Crítica: Invasão Zumbi 2: Península

 

Invasão Zumbi 2: Península

por Joba Tridente

Filme de zumbi, obviamente, não é nenhuma novidade. Entre trocentos filmes já feitos, acho que a única história que ainda não foi contada é a de zumbis infectados versus zumbis reanimados. Ou será que já foi? Bem, isso não tem a menor importância num mercado zumbiano onde pululam, nas telonas e nas telinhas, cansativas continuações de tramas enredando os loucos esfarrapados de olhos esbugalhados e boca escancarada para mordiscar vivos e ou comer cérebros e ou saborear carne humana e ou apenas fazer cenas coreografadas etc... Creio que os únicos filmes realmente bons (ou ao menos divertidos) sobre zumbis foram aqueles originais (comédia e ou suspense) que se bastaram em apenas uma produção.

Assim, pergunto: Cinéfilos de todo o mundo imploraram ao diretor e roteirista sul-coreanos Sang-ho Yeon por mais um filme de zumbi infectado por vírus de laboratório e ou será apenas ganância corriqueira de estúdio? Seja qual for a razão, o fato é que é difícil aceitar que o diretor dos excelentes Rei dos Porcos (2011), Seoul Station (2015), Train to Busan (Invasão Zumbi, 2016), que faz tão bom uso de metáforas, para falar de questões sociais, religiosas, econômicas, escorregasse feio na gosma sanguinolenta dos zumbis, ao realizar um filme descartável que está mais para o trash (que é o que curte os público jovem) do que para a reflexão (que é o que espera o público mais cabeça).

Invasão Zumbi 2: Península (2020), de Sang-ho Yeon, que dividiu o roteiro com e Ryu Yong-jae, traz um enredo simplório e pra lá de previsível em sua (quase claudicante) linearidade. Vai vendo: o inexpressivo e indeciso capitão da marinha Jung-Seok (Gang Dong-won), em rota de fuga da Coréia do Sul, com sua irmã, o sobrinho e o cunhado, para embarcar em um navio, se nega a dar carona a uma família com uma criança pequena. Quatro anos depois, em Hong-Kong, (sem que nem mais porquê) Ryu Yong-jae, seu cunhado Chul-min (Kim Do-yoon) e mais duas pessoas, são “recrutados” por um mafioso estrangeiro (americano) para resgatar 20 milhões de dólares, no baú de num caminhão abandonado (?) na Península..., em troca da metade do dinheiro. Confiando na benevolência mafiosa (risos) os quatro são levados até o porto de Incheon e não demoram a descobrir que não estão sós (oh!). Além de zumbis e gangs de psicopatas, esconde-se na região uma família acolhedora e muito esperta, formada por Min-jun (Lee Jung-hyun), suas duas filhas, Jooni (Lee Re) e Yu-jin (Lee Ye-won), e seu pai Eleder Kim (Kwon Hae-hyo). Daí que, em meio a situação caótica pós-apocalítica, numa cidade que parece saída do mesmo programa CGI que gerou os documentários O Mundo Sem Ninguém, entre muita ação e violência..., numa imitação barata das aventuras de Mad Max (Mad Max - Além da Cúpula do Trovão e Mad Max 2)..., os bonitos e bondosos farão de tudo para se livrar dos feios e malvados. Quem vencerá essa disputa e conseguirá sair praticamente ileso da Península? Prêmio: um beijo melado e um abraço quebrado de um zumbi coreano.


Invasão Zumbi 2: Península é um misto de melodrama (involuntariamente) cômico com suspense rasteiro (que não assusta espectador algum, nem com o áudio-susto) e ação barulhenta. Excetuando as crianças Jaoni e Yu-jin (as únicas que proporcionam algumas sequências criativas), os personagens humanos bonzinhos são tão apáticos e os malvados tão caricatos (no estilo anime) que não despertam empatia alguma no espectador, a não ser o riso nos momentos “trágicos”. Se os zumbis não fossem tão artificiais muita gente iria torcer por eles. 

Com seu enredo tosco, o fiapo de história estiiiiiiicaaaaaaa até não poder mais. Uma decisão inútil, já que, pelas cenas iniciais, você sabe quais serão as cenas finais, que começam a se desenhar no princípio do segundo ato. Outro incômodo: o tempo de reação dos protagonistas é tão leeennnnnnntoooo (chega dar nos nervos de tão aborrecido) que, se não fossem mais imbecis, os zumbis venceriam a parada. Taí, acho que se os zumbis fossem os protagonistas a narrativa seria bem melhor.

Enfim, considerando o humor involuntário; a bagunça promovida pelos zumbis maratonistas e saltadores; algumas sequências criativas; ignorando as imitações desastrosas de dois Mad Max; a falta de carisma de “heróis” e de “vilões”..., o público chegado a um trash melodramático, vai gostar de Invasão Zumbi 2: Península, mesmo que não se lembre mais dele após a sessão.

 

*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


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