quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Crítica: O Grinch


O Grinch
por Joba Tridente

O paraíso do entretenimento cinematográfico é muito louco. Sabe-se lá quantos cifrões passam pelas mentes capitais hollywoodianas para decidir os filmes que (re)produzirão. No mundo literário há trocentas histórias que, dependendo do roteirista e do diretor, dariam excelentes filmes. Mas, em tempos de indefectíveis refilmagens (de novo e outra vez), lá pra bandas da terra das palmeiras e do sol caliente, onde até a Disney vem readaptando suas animações clássicas com atores, alguma releitura pode até surpreender. É o caso da terceira versão de O Grinch, que está de volta em formato de longa-metragem animado, dirigido por Yarrow Cheney e Scott Mosier.


Criado pelo escritor e ilustrador norte-americano Dr. Seuss (1904-1991), o personagem apareceu no divertido poema de 32 versos: The Hoobub and the Grinch, em 1955 e, na sequência, no livro How the Grinch Stole Christmas (Como o Grinch roubou o Natal), em 1957..., que foi adaptado para um curta-metragem de animação televisiva, dirigido por Chuck Jones (1912-2002), com roteiro e arte bem fiéis ao livro e às ilustrações originais, em 1966. A fábula, que também ganhou versões musicais para os palcos, foi adaptada e bem ampliada para o longa-metragem estrelado por Jim Carrey e Taylor Momsey, com direção de Ron Howard, em 2000. Agora é a vez da Illumination Entertainment mostrar a sua versão animada e também ampliada desta história que encanta e enternece gerações há seis décadas.


O Grinch (The Grinch, 2018) é daquelas animações de encher os olhos e de cair o queixo, com sua belíssima arte. O roteiro divertido e dramático (sem pieguice), escrito por Michael LeSieur e Tommy Swerdlow, aquece até o coração mais empedernido, ao contar a envolvente história do velho Grinch, um indivíduo solitário, tão inteligente quão rabugento, que mora no nevado Monte Espicho, no arredor de Quemlândia, com seu fiel e explorado cão Max, e todo fim de ano se incomoda com as alegres e agitadas festas natalinas dos quemlandianos, repletas de cantoria, comilança e consumo desenfreado. Porém, como barulho pouco é bobagem, ao saber que os seus vizinhos estão planejando realizar uma festa natalina três vezes maior que a última, o arredio ser de pelo verde decide que, se quiser sossego e neve fria, o melhor a fazer é se disfarçar de Papai Noel e roubar o Natal deles. Enquanto isso, no aprazível vilarejo a decidida garotinha Cindy-Lou Quem, que vive com a sobrecarregada mãe e dois irmãos bebês, traça um plano infalível para encontrar o Papai Noel e, cara a cara, lhe fazer um pedido muito especial...


Se você se viu tentado a assistir ao trailer, infelizmente vai perder algumas surpresas e gags visuais engraçadíssimas. Mas, mesmo assim, há muita coisa ainda para se curtir e rir e refletir nessa fábula sessentona que soa contemporânea, ao falar de consumismo, solidariedade e amor ao próximo. Embora não faça diferença na apreciação, vale ressaltar que, excetuando o curta de 1966, as duas versões mais recentes tomaram liberdades iguais, mas diferenciadas (pensando no público alvo), ao criar um passado para o triste (e quase trágico) Grinch e um núcleo familiar para Lucy..., além do perfil do protagonista, que em 2000, na pele de Jim Carrey, lembrava o vilão Coringa e, agora, em 2018, está mais para mal-humorado (digamos) azarado.


Com diálogos irônicos e personagens graciosos, boas doses de humor pastelão e nonsense, o desenho animado O Grinch é capaz de cativar até mesmo o público alheio ao Natal (cada vez mais materialista). Tecnicamente irretocável, a animação transborda cores e luzes, ao dar forma harmoniosa aos personagens, aos admiráveis objetos de cena e, principalmente, à arquitetura deslumbrante de Quemlândia. Certamente muito adulto vai viajar no tempo ao mergulhar de cabeça e se deixar enredar pela história singela. Toda via Jingle Bells, no entanto, como não poderia ser diferente, o filme que saúda as boas ações do Natal é repleto de canções natalinas que dialogam com a narrativa. Mas, infelizmente, no Brasil, elas não são dubladas e muito menos legendadas..., como se as letras, por vezes edificantes, não tivessem importância para a compreensão das crianças (público alvo) e ou dos acompanhantes que não dominam o inglês. Fora essa bronca antiga, entendendo ou não a cantoria, nada mais te impede de curtir este excelente espetáculo que chega todo rimado para lembrar que o Natal é muito mais que presentes e banquetes faustosos...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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