O
Grinch
por Joba Tridente
O paraíso do entretenimento cinematográfico é muito
louco. Sabe-se lá quantos cifrões passam pelas mentes capitais hollywoodianas
para decidir os filmes que (re)produzirão. No mundo literário há trocentas
histórias que, dependendo do roteirista e do diretor, dariam excelentes filmes.
Mas, em tempos de indefectíveis refilmagens (de novo e outra vez), lá pra
bandas da terra das palmeiras e do sol caliente, onde até a Disney vem readaptando
suas animações clássicas com atores, alguma releitura pode até surpreender. É o
caso da terceira versão de O Grinch,
que está de volta em formato de longa-metragem animado, dirigido por Yarrow Cheney e Scott Mosier.
Criado pelo escritor e ilustrador norte-americano Dr.
Seuss (1904-1991), o personagem apareceu no divertido poema de 32 versos: The Hoobub and the Grinch, em 1955 e, na
sequência, no livro How the Grinch Stole
Christmas (Como o Grinch roubou o
Natal), em 1957..., que foi adaptado para um curta-metragem de animação televisiva,
dirigido por Chuck Jones (1912-2002), com roteiro e arte bem fiéis ao livro e às
ilustrações originais, em 1966. A fábula, que também ganhou versões musicais
para os palcos, foi adaptada e bem ampliada para o longa-metragem estrelado por
Jim Carrey e Taylor Momsey, com direção de Ron Howard, em 2000. Agora é a vez
da Illumination Entertainment mostrar a sua versão animada e também ampliada
desta história que encanta e enternece gerações há seis décadas.
O Grinch (The Grinch, 2018) é daquelas animações
de encher os olhos e de cair o queixo, com sua belíssima arte. O roteiro
divertido e dramático (sem pieguice), escrito por Michael LeSieur e Tommy
Swerdlow, aquece até o coração mais empedernido,
ao contar a envolvente história do velho Grinch,
um indivíduo solitário, tão inteligente quão rabugento, que mora no nevado Monte Espicho, no arredor de Quemlândia, com seu fiel e explorado cão
Max, e todo fim de ano se incomoda
com as alegres e agitadas festas natalinas dos quemlandianos, repletas de cantoria, comilança e consumo
desenfreado. Porém, como barulho pouco é bobagem, ao saber que os seus vizinhos
estão planejando realizar uma festa natalina três vezes maior que a última, o
arredio ser de pelo verde decide que, se quiser sossego e neve fria, o melhor
a fazer é se disfarçar de Papai Noel
e roubar o Natal deles. Enquanto isso, no aprazível vilarejo a decidida
garotinha Cindy-Lou Quem, que vive
com a sobrecarregada mãe e dois irmãos bebês, traça um plano infalível para encontrar
o Papai Noel e, cara a cara, lhe fazer
um pedido muito especial...
Se você se viu tentado a assistir ao trailer, infelizmente
vai perder algumas surpresas e gags visuais engraçadíssimas. Mas, mesmo assim, há
muita coisa ainda para se curtir e rir e refletir nessa fábula sessentona que soa
contemporânea, ao falar de consumismo, solidariedade e amor ao próximo. Embora
não faça diferença na apreciação, vale ressaltar que, excetuando o curta de
1966, as duas versões mais recentes tomaram liberdades iguais, mas
diferenciadas (pensando no público alvo), ao criar um passado para o triste (e
quase trágico) Grinch e um núcleo familiar
para Lucy..., além do perfil do
protagonista, que em 2000, na pele de Jim Carrey, lembrava o vilão Coringa e, agora, em 2018, está mais
para mal-humorado (digamos) azarado.
Com diálogos irônicos e personagens graciosos, boas doses
de humor pastelão e nonsense, o
desenho animado O Grinch é capaz de cativar
até mesmo o público alheio ao Natal (cada vez mais materialista). Tecnicamente
irretocável, a animação transborda cores e luzes, ao dar forma harmoniosa aos
personagens, aos admiráveis objetos de cena e, principalmente, à arquitetura
deslumbrante de Quemlândia. Certamente muito adulto vai viajar no tempo ao
mergulhar de cabeça e se deixar enredar pela história singela. Toda via Jingle Bells, no entanto, como não
poderia ser diferente, o filme que saúda as boas ações do Natal é repleto de
canções natalinas que dialogam com a narrativa. Mas, infelizmente, no Brasil, elas
não são dubladas e muito menos legendadas..., como se as letras, por vezes
edificantes, não tivessem importância para a compreensão das crianças (público
alvo) e ou dos acompanhantes que não dominam o inglês. Fora essa bronca antiga,
entendendo ou não a cantoria, nada mais te impede de curtir este excelente
espetáculo que chega todo rimado para lembrar que o Natal é muito mais que
presentes e banquetes faustosos...
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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