Mamma
Mia! La Vamos Nós de Novo
por Joba Tridente*
Em tempos de exploração gratuita de violência explícita,
nos meios de comunicação e de entretenimento (incluindo animações), nada melhor
que uma boa comédia musical romântica, como a irresistível Mamma Mia! La Vamos Nós de Novo, roteirizada e dirigida por Ol Parker, para levantar o astral,
reequilibrar as energias e botar um sorriso sincero nos lábios do espectador (cansado
dos horrores cotidianos). Escapismo? Talvez? Mas, atualmente, se a gente não
escapar de vez em quando, por algumas poucas horas que seja, enlouquece!
Mamma Mia! La
Vamos Nós de Novo (Mamma Mia! Here We
Go Again, 2018), continuação que faz jus ao
inesquecível Mamma Mia de 2008, sempre
no embalo dos compassos sonoros contagiantes
do grupo sueco de musica pop ABBA (1972-1982 e anunciado retorno para 2019),
conta duas boas histórias amorosas que se entrelaçam. Numa, em flashback, conhecemos as versões jovens
da esfuziante Donna (Lily James), logo após a sua formatura
em Oxford, em 1979, e o itinerário aventureiro e romântico que a levou à
paradisíaca ilha grega Kalokairi; de
suas maiores amigas Rosie (Alexa Davies) e Tanya (Jessica Keenan Wynn);
e dos seus três complicados amores Harry
(Hugh Skinner), Bill (Josh Dylan) e Sam (Jeremy Irvine), futuros candidatos a
pai de Sophie (Amanda Seyfried). Noutra história, em 2005, enquanto o marido Sky (Dominic Cooper) estuda hotelaria em Nova York, a insegura Sophie prepara uma homenagem à sua mãe Donna (Meryl Streep), falecida há cinco anos, com a inauguração do Hotel Bella Donna, onde reencontraremos
as versões bem mais velhas de seus três complicados pais Harry (Colin Firth), Bill (Stellan Skarsgård) e Sam
(Pierce Brosnan) e das ansiosas amigas
Rosie (Julie Walters) e Tanya (Christine Baranski). Ali, em Kalokairi, já não é surpresa ou spoiler,
quem também chega para abrilhantar (mesmo!) a festa, é Cher, como Ruby, a avó
ausente de Sophie, que fará um
divertido dueto com Andy Garcia, o
sedutor Señor Cienfuegos, na famosa Fernando. E, para arrematar
tudo, numa sequência comovente, quem dá o ar da graça é a diva Meryl Streep...
É claro que a vida não é um musical onde tudo se
resolve com uma canção ou uma dança, uma utopia ao alcance de qualquer um (até para
quem não tem dotes de cantor ou de dançarino), mas bem que poderia ser (ou ter
sido)..., não fosse o egoísmo, o egocentrismo, a ganância que submete a grande
maioria do gênero humano ao capital que nos distingue como civilização (?)
serviçal. Será por isso que muitos de nós inveja a liberdade dos animais não-humanos
e dos silvícolas remanescentes e se apega tanto às fantasias de uma vida
bucólica? Será que a tecnologia, em algum dia futuro, nos libertará do trabalho
estafante que hoje nos aprisiona e nos devolverá uma vida de sonho onde a
amizade vale mais que o dinheiro? Com o avanço da ciência, é uma antiga
cogitação. Mas, o que fazer com os crédulos da Terra Plana?
Em Mamma Mia!
La Vamos Nós de Novo, a vida é uma festa que não se deixa frustrar pela
tempestade passageira que (sempre) traz a reboque a bonança. A receita é
simples, beirando a ingenuidade, mas repleta de ingredientes clichês que poderia
desandar facilmente em outras mãos. Não faltam as doces armadilhas dos amores jovens
e as agridoces dos velhos amores que se atam e desatam nas tramas da vida que
sempre podem deixar alguns fios soltos para os retardatários apaixonados, na
visão generosa de Ol Parker, que também roteirizou os adoráveis O
Exótico Hotel Marigold (2011) e O
Exótico Hotel Marigold 2 (2015), com seus personagens idosos acertando
contas amorosas com o passado e ou descobrindo novos amores.
É fácil gostar de Mamma Mia! La Vamos Nós de Novo, com suas duas boas histórias, sua
trilha envolvente (ainda que por vezes alguma balada soe melancólica) com 18
canções do ABBA (I Have A Dream, com
arranjo grego, ficou exuberante!), sua coreografia simplória e seus
personagens bem escritos e admiravelmente interpretados por todo o elenco (sem
exceção!). A comédia, de um romantismo gostoso (assim-assim meio piegas), tem direção
segura e ágil de Parker, que demostra muita criatividade também nas excelentes transições
de tempo e de cenários campestres, em sequências de bela plasticidade.
Assim, ainda que você não seja lá muito amante de
musicais (porque do nada alguém começa a cantar e a dançar suas alegrias ou
dores de amores), se, em vez de ficar se ocupando com a coerência ou a
plausibilidade do roteiro (que não precisa ser original para ser bom, desde que
bem escrito), se deixar levar pela narrativa totalmente descompromissada, feito
os adoráveis personagens por seus sonhos, pode se surpreender se remexendo na
cadeira, cantarolando alguma canção e decididamente apaixonado pelo filme...
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário