TROLLS
por Joba Tridente
Conta-se que
no ano de 1959, como não podia comprar um presente de Natal para a sua filha, o
pescador e lenhador dinamarquês Thomas Dam (1909-1986), esculpiu uma Boneca Troll, que imediatamente despertou
o interesse das crianças de Gjøl. Com o tempo começou a produzir vários modelos
em vinil e plástico especial. No início dos anos 1960 os Bonecos Troll, também conhecidos como “Bonecos da Boa Sorte”, fizeram grande sucesso nos EUA e a partir da
década de 1970, até os anos 2000, foram copiados, reinventados,
descaracterizados como se não tivessem autoria..., que só foi restaurada à família
Dam, em 2003. Os Trolls ganharam seu
primeiro desenho animado para TV em 1992, com o título Magical Super Trolls. Vieram, então, games, programa de rádio e
em 2004 a série animada Trollz. Em 2013 a DreamWorks
adquiriu a propriedade intelectual para explorar a franquia Troll, que já teve seus bonequinhos fazendo
ponta na série Toy Story, da
concorrente Disney/Pixar..., e agora traz os personagens numa cantante,
dançante e coloridíssima animação em 3D pra lá de glitterizada.
Bem, é claro
que a geração mais nova possivelmente não conheça os Bonecos Trolls e sequer imaginam a febre que foi há cerca de 20/30/40
anos. Mas isso não vai impedir que
curtam este divertidíssimo desenho de técnica irretocável, com boas doses de
nonsense e cartum e uma pitadinha de humor negro, embalado por uma música
pop-dance bacana e bem encaixada (a produção musical é do Justin Timberlake).
Sim, eu sei que odeio trilha sonora, mas Trolls
é praticamente um musical retrô e ou se dança e ou se canta com ele..., motivos
não faltam pra sacudir o esqueleto. Ou se emocionar ao som de True Colours, de Cyndi Lauper...
Escrito por
Jonathan Aibel e Glenn Berger, a história de Trolls (Trolls, 2016),
dirigida por Walt Dohrn e Mike Mitchell, é simples mas envolvente:
os minúsculos Trolls, com seus originalíssimos
trajes e cabeleira colorida, viviam em plena de felicidade, cantando, dançando
e se abraçando, em seu vilarejo arbóreo, até serem descobertos pelos infelizes Bergens, ogros amarronzados em sua
solidão e que só encontravam a felicidade ao saborear um deles no Dia do Trollstício. Para não serem
extintos, os doces Trolls fugiram e
quando, vinte anos depois, alguns deles foram encontrados e aprisionados pelos Bergens, a confiante Princesa Popy, com seu inveterado otimismo
sonoro, e o cinzento Tronco, com seu
pessimismo arraigado, saíram em uma arriscada missão de resgate. É claro que,
pela estrada afora, vão encontrar todo tipo de perigo (não queira saber antes
da hora!), incluindo uma hilária Nuvem,
o faminto de felicidade tardia Príncipe
Gristle, a sua adorável e romântica serviçal Bridget, e a arrogante Chef
de Cozinha dos Bergens.
A animação Trolls é bonita demais em sua festiva
paleta de cores psicodélicas e texturas inimagináveis. Sem qualquer traço de pieguice,
questiona a natureza da felicidade de uma forma divertida e inteligente
(apropriada a qualquer público): será preciso absorver, vampirizar a felicidade
alheia para ser feliz?; a felicidade está nos pequenos gestos como, por
exemplo, um simples abraço?; qual é o melhor alimento para a felicidade? A
metáfora das cores ajuda os pequenos e os adultos distraídos a compreenderem o
espírito dessa tal felicidade.
Outros
brinquedos já serviram de inspiração hollywoodiana, mas acredito que os
dinamarqueses Lego e Bonecos Troll são aqueles
de melhor resultado. Apostando na tradicional irreverência da DreamWorks, a
produção é inteligente ao brincar com personagens do universo literário (como Cyrano de Bergerac e Gata Borralheira) e lúdico (Smurfs), cinematográfico e televisivo
(reality gastronômico MasterChef) e
musical (Hair). Os personagens são
todos bem resolvidos (desenho e personalidade) e a cativante narrativa emociona
e diverte (com seu humor sagaz) até mesmo quando alfineta os “Gurus
Espiritualistas”. Os diálogos, assim como as gags visuais, são uma delícia e o
clima discoteca 1970/1980 funciona que é uma maravilha, com suas melodias
agradáveis, luzes, cores e muuuuiiiiitttoooo glitter. Só fica sentado e de boca fechada quem quer!
Trolls é um delírio visual que diverte e
encanta do princípio ao fim, com seu ótimo roteiro, excelente ritmo e apuro
técnico com recortes 2D, pop-up, texturas incríveis..., tudo, realmente, de
cair o queixo. Ah, e quando digo fim, me refiro às cenas extras pós-créditos. A
dublagem brasileira é boa (não conheço a original) ou pelo menos não incomoda.
A maioria das canções tem versão em português (por que não verter todas, já que
o filme não tem legendas?) e funcionam muito bem no complemento do enredo: se
eu não tenho o quê falar, canto ou danço! Pode não ser uma obra-prima feito Kubo e as Cordas Mágicas..., mas é diversão
garantida para toda a família que, em uma sequência ou outra, há de se encontrar,
com certeza, no contexto deste conto fantástico. E (quem sabe?) após a sessão até
queira dar um abraço gostoso e apertado em algum ente querido...
E por falar
em abraços, a animação Êpa! Cadê o Noé? também trazia este
gostoso e sempre fortalecedor gesto comemorado em 22 de Maio, mas que deveria
ser um comportamento social de todas as horas..., como pregam os adoráveis Trolls!
Nota: Está previsto para 2017 a estreia de outra animação protagonizada por Trolls. O título é Troll: the Tale of a Tail e o roteiro é baseado no clássico da literatura chinesa Classic of Mountains and Seas (ou Shan Hai Jing)..., um livro que registra seres míticos, e que já
era conhecido no século 4.aC. A produção é chinesa e a animação será feita no
Canadá. Assista o teaser de Troll: the Tale of a Tail.
Joba Tridente: O primeiro filme vi
(no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990.
O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer
crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se
compara à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do
norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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