quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Crítica: Festa da Salsicha


Festa da Salsicha
por Joba Tridente

Quando se pensa que já viu de tudo na telona do cinema, eis que chega Festa da Salsicha, a animação mais insana e ultrajante dos últimos anos, para provar que bizarrice não tem limites. Se depender da lógica dos tresloucados Seth Rogen, Evan Goldberg, Ariel Shaffir, Kyle Hunter e Jonah Hill, o absurdo e o politicamente incorreto não têm mesmo.


No supermercado SHOPWELL, longe dos olhos dos clientes, mas perto de suas mãos, todos os produtos levam uma vida dinâmica e cheia de sonhos numa grande comunidade de produtos e variadas etnias (com diferenças e conflitos). Ali, todas as manhãs encenam um entusiasmado número musical, dando graças aos deuses por mais um dia feliz à espera de compradores humanos que os levarão dali para as glórias do Grande Paraíso. É dia 3 de Julho, e os itens sabem que, na véspera do feriado da independência americana, o movimento é maior e cresce a chance de serem “os” escolhidos para finalmente conhecerem a Luz Divina.

No entanto, em meio ao alvoroço dos clientes, essa alegria toda, principalmente entre os alimentos processados, é perturbada com o retorno à loja de um aterrorizado vidro de Mostarda com Mel trazendo a verdade lá de fora: O Paraíso é uma farsa! Preocupado com o seu futuro de delícias no aconchego da sua namorada Bisnaga de Cachorro-Quente Brenda, a desconfiada Salsicha Frank decide investigar o assunto entre as mercadorias (Aguardente e Não-Perecíveis) mais bem informadas do mercado. Ao confirmar que, fora dali, um pesadelo horrendo aguarda a todos os itens à venda, junta-se a um grupo de resistência comandado pela menosprezada Salsicha Barry que, por não ser tão resignada quanto as alegres cantantes salsichas de Pets - A Vida Secreta dos Bichos (2016), sobreviveu à tortura dos humanos e voltou à loja para alertar os companheiros e se vingar dos maus tratos. A data 4 de Julho te diz alguma coisa?


Bem esta é apenas uma brevíssima sinopse da desvairada aventura Festa da Salsicha (Sausage Party, 2106), dirigida por Conrad Vernon e Greg Tiernan. Escrever mais é correr o risco de cometer spoiler, já que a comédia que satiriza as animações da Disney (onde eu vi essas luvinhas?) e da Pixar de Toy Story (brincando com datas e nomes ocultos em objetos de cena), os filmes de terror, catástrofe, policial, musical, pornôs..., é cheia de piadas hilárias (algumas forçadas ou repugnantes) sobre sexo, religião, etnias, drogas, politica, conflitos, alimentação (a da pizza é de rolar de rir..., aliás, toda a sequência na casa de um drogado é muito boa). Embora o clima seja o da comédia (pesada), com humor negro, chulo e escatológico e gags visuais interessantes, há cenas bem violentas (no conteúdo ou na ação). Ou seja, os fãs do estilo que consagrou os criadores deste desenho pra lá de animado e sádico, não vão ter do que reclamar.


Festa da Salsicha tem roteiro muito bom. A maioria dos diálogos é pertinente, principalmente sobre o conflito entre árabes e judeus e sobre sexualidade reprimida..., e seria muito mais eficiente não fosse a profusão de palavrões no final de cada fala. A narrativa é ágil e, além da técnica apurada no desenho dos “saudáveis” personagens, cativantes até mesmo em suas psicopatias, nos brinda com soluções inteligentes, como na antológica sequência do acidente com um carrinho cheio de alimentos felizes, no corredor do supermercado, remetendo às grandes tragédias com vítimas fatais, ao som melancólico de Bat Out of Hell do Meat Loaf..., sem dúvida, um achado hilário!


Essa sandice toda, muito bem dirigida, que flerta com o trash e o gore e que em alguns momentos me lembrou o delicioso O Ataque dos Tomates Assassinos (1978) e o estranho A Coisa/The Stuff (1985), aquele do iogurte alienígena, pode (?) perturbar as mentes mais fracas (risos!), acostumadas a brincar e ou a brigar com a comida. Agora, como é que um jovem adulto (público alvo) vai lidar com os seus petiscos durante e após a sessão com cenas explícitas de violência e de orgia sexual alimentícia (argh!?), é problema dele. Não quero nem saber!

Enfim, como a alucinada e ácida trama blinda absolutamente ninguém, seja carnívoro, vegano, macrobiótico, naturalista, hétero ou homossexual, crente ou ateu, árabe ou judeu etc..., vá se divertir por conta própria com essa inconsequente e animada ousadia!

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