Kubo e as Cordas Mágicas
por Joba Tridente
Kubo e as Cordas
Mágicas é a mais recente produção da Laika, que já nos acostumou (mal!) com
os excelentes curta Moongirl (2005) e os longas Coraline (2009) e ParaNorman (2012).
E parece que a produtora americana não desistiu de fazer a nossa cabeça com
animações de rara qualidade.
Nesta mais que bem-vinda e amorosa aventura, o enredo
acompanha a saga de Kubo, um menino
gentil e carismático que, diariamente, encanta os moradores de uma pequena vila
de pescadores, no Japão antigo, com suas incríveis histórias animadas com
figuras de origami. À noite ele cuida da sua mãe, que às vezes entra em transe,
sob a influência da lua. Certo dia, após orar por um parente morto, Kubo passa a ser perseguido por duas
maldosas entidades gêmeas e, para se
livrar delas, precisa encontrar a Armadura
Impenetrável, a Espada Inquebrantável
e o Capacete Invulnerável, que
pertenceram a seu pai Hanzo, que foi um
grande guerreiro samurai. A sua jornada heroica e de autoconhecimento será
longa e perigosa e, além do seu precioso shamisen (um instrumento mágico de
cordas), ele contará com a ajuda imprescindível de uma ousada Macaca, de um irrequieto Besouro e de um silencioso e valente Samurai de Origami.
Original, criativo, divertido e um pouco melancólico, o enredo
desenvolvido por Marc Haimes e Chris Butler, com ótima direção de Travis Knight, fala diretamente ao
coração de todos aqueles jovens e ou adultos espectadores que também adoram ouvir
uma boa e tradicional história oral. E nem poderia ser diferente, já que o seu
protagonista é um hábil e gracioso Contador de Histórias que durante a
narrativa vão se encadeando a outras histórias que não se quer que acabem.
Se não se atentar aos créditos, o público inteirado das
coisas do oriente vai achar que está diante de uma belíssima lenda japonesa e de
uma irretocável obra cinematográfica vinda da terra do sol nascente..., tanto
pela qualidade técnica (mista), onde o apuradíssimo stop-emotion, digo, o stop-motion
dá o tom a uma narrativa comovente (sobre perda e superação), quanto pelo excepcional conteúdo. Porém, é
bom ressaltar que Kubo e as Cordas
Mágicas (Kubo and the Two Strings,
2016) é um filme norte-americano e a sua inegável aparência de épico nipônico deve-se
ao respeito de Knight àquele país e à consultoria de artistas japoneses de
diversas áreas.
É impossível não se encantar com ele já nos primeiros
minutos do seu prólogo, frente à emocionante releitura de A Grande Onda de Kanagawa (1830-1833), a formidável xilogravura de
Katsushita Hokusai (1760-1849), onde a mãe de Kubo conduz uma balsa sobre uma gigantesca onda. Encanto que só faz
crescer cena a cena e a cada reverência à rica cultura japonesa e a grandes mestres
universais como o gravurista Kiyoshi Saito (1907-1997) e os cineastas Akira
Kurosawa (1910-1998), Hayao Miyazaki e David Lean (1908-1991)..., referências
importantes no desenvolvimento da obra, segundo Knight.
Enfim, considerando
que as fantásticas sequências de
origami, com certeza, vão fazer muita gente sair da sessão com vontade de
dobrar papéis e também criar lindas peças..., isso, se já não tiver feito com
um folheto qualquer que tiver no bolso; que a sua mensagem pacifista e nada
piegas de amor à humanidade, em um final desconcertante e consagrador, é capaz de fazer marejar o cinéfilo mais
durão..., Kubo e as Cordas Mágicas, faz
valer cada dia dos cinco anos de trabalho e o preço do ingresso. Provavelmente
é um dos filmes mais belos e requintados que verá neste 2016.
Ah, e não saia da sala junto com os créditos, pois vai
perder as cenas de bastidores (making of)
da construção e manipulação do Mostro
Esqueleto que tem quase cinco metros de altura. E quando sair do cinema,
não esqueça de colocar o queixo (caído) no lugar!
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